Virada - Capítulo 116

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- Eu vou estudar lá em cima no meu quarto antigo. - Avisou e saiu, carregando seus livros que estavam esquecidos no sofá há alguns minutos. Sophia ficou com cara de bunda olhando para Micael.

- O que eu falei de errado? - Ele balançou a cabeça e abraçou a mulher.

- Nada ué. - Deu de ombros. - Você sabe criou a Júlia.

- Como eu criei a Júlia? - Fez cara de brava e Micael recuou, não querendo uma guerra em plena véspera de natal. - Da mesma forma que criamos a Cléo. - Ele prendeu o riso.

- Foi isso sim. - Voltou a se concentrar na arvore. - Ela deve estar na tpm.

- Eu vou falar com ela. - Comunicou e Micael arregalou os olhos antes de segurar seu braço.

- Hoje não. - Pediu. - Hoje é véspera de natal e eu não quero nenhuma briga entre vocês. Quero paz.

- Tá bem, depois eu falo com ela se você faz tanta questão. - Deu um selinho e voltou pra cozinha.

- Eu vou lá em cima falar com a Jú. - Avisou ao sogro e a Leonardo, que apenas assentiram.

Micael subiu as escadas pensando nas coisas que diria para animar a filha, mas no final, não conseguiu pensar em nada. Bateu na porta algumas vezes antes de ouvir um "entra" bem baixinho.

- Oi, pai. - Deu um sorrisinho. - Não quero voltar pra decorar a árvore.

- Eu sei. - Se sentou na cama, ao lado de sua menina. - Eu vim conversar sobre sua mãe. - Ela rolou os olhos.

- Mas o que tem pra falar sobre ela? - Ele segurou as mãos da menina.

- Filha, você é um pouco rude com ela. - Micael tentava manter a voz baixa. - Não precisa fazer isso.

- Ela me irrita com esse jeito dela na frente dos outros de querer fazer de conta de que nossa familia é perfeita. - Rolou os olhos. - Nunca foi.

- Ei, toda familia tem problemas. - A menina cruzou os braços. - A nossa não podia ser diferente.

- O problema da nossa familia é a minha mãe. - Micael arregalou os olhos. - Ela sempre fez diferença entre eu e a Cléo, eu tinha que ficar mendigando atenção dela. Ai agora que eu estou crescida ela vem querer ser uma boa mãe, mas ela não é pai, ela nunca foi.

- Júlia, também não precisa falar assim. - Buscava palavras pra tentar defender sua esposa. - Sua mãe sempre mimou demais a Cléo, mas ela te ama.

- Ela pode até amar, mas não pode esquecer do quanto eu tive que brincar sozinha porque ela não tinha tempo pra mim. Das minhas lições pra casa que outras pessoas me ajudavam porque ela estava ocupada com a Cléo. Só porque eu estou grande, eu não vou esquecer de tudo.

- Filha, a sua mãe passou por muita coisa na mão do seu pai, eu acredito que isso tenha refletido no modo como ela sempre tratou você. - Suspirou. - Eu sempre reclamei muito com ela da pouca atenção que te dava e teve até alguns momentos que ela se esforçava.

- "Se esforçava" - Debochou. - Só se esforçava não é suficiente pra criar um filho. Se você não fosse um ótimo pai, eu ia crescer sozinha por ai. Porque o meu pai sumiu no mundo e nunca mais deu noticias, minha mãe só pensa em Cléo.

- Ei, não precisa falar assim.

- Mas é verdade, pai. - Deu de ombros. - Eu, sinceramente, não sei como é que o senhor está casado com ela esse tempo todo.

- Porque eu amo sua mãe ué. - Disse como se fosse obvio. - Ela é cabeça dura, mas me ama também, assim como ama você.

- Eu amo minha mãe também ué, mas eu não vou ficar puxando saco dela, ela não merece isso.

- Eu sei que você tem os seus motivos. - Deu um beijo na testa. - Eu só vou pedir pra fazer um esforço pra não ter briga no natal. Eu sempre peço, não ia mudar dessa vez. - A menina riu.

- Pelo senhor eu faço qualquer coisa. - Eles se abraçaram e Micael voltou pra sala.

As horas que precederam a ceia se passaram em total harmonia. Já estavam quase todos prontos na sala, conversando pouco antes da meia noite. Cléo não saia daquele video game e Júlia também não tinha descido.

- Cléo você está pretendendo ficar ai até o ano novo? - Micael foi até ela. - Vai tomar banho logo.

- Perai, pai. - Ela disse com um tom irritado. - Eu estou ocupada agora.

- Mas eu estou mandando você ir agora. - Já estava se irritando. - Anda Cléo. - Deu um grito e atraiu atenção do pessoal, Sophia se aproximou.

- O que está acontecendo? - Perguntou fazendo carinho no cabelo da filha.

- Meu pai que não sabe esperar. - A menina disse irritada e Micael rolou os olhos.

- Só esperar a partida acabar, não faz tanta diferença assim. - Sophia defendeu e Micael no auge da raiva puxou o video game da tomada.

- Você está louco. - Cléo ficou de pé e gritou na cara do pai. - Só pode estar. Tá vendo isso mãe?

- Se você falar assim comigo de novo você vai levar a surra que eu nunca te dei. - Ele disse com a voz controlada. - Agora sobe e vai se arrumar. - Ela abaixou a cabeça e subiu as escadas.

- Precisava disso tudo? - Sophia defendeu. - A menina só queria terminar uma partida.

- Essa menina é insuportável, Sophia. - Foi só o que disse antes de voltar para o sofá e deixar a mulher ali sozinha.

Mais tarde a menina desceu as escadas e sentou ao lado da mãe no sofá. Júlia ainda estava trancada no quarto. A mesa estava posta e faltavam poucos minutos para celebrarem o natal. E então, a campainha tocou.

- Estamos esperando alguém? - Micael olhou em volta, vendo se faltava alguém na intima reunião.

- Acho que não! - Branca disse antes de ir abrir a porta. 

Virada [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora