Sophia bateu muitas vezes na porta de Osvaldo e não teve resposta nenhuma, mas mesmo assim não desistiu. Bateu outras centenas de vezes até que ouviu um entra baixinho. Osvaldo estava deitado agarrado a um travesseiro com o olhar vazio e não se deu ao trabalho de encarar a enteada.
- Ei, eu sei que você quer ficar sozinho, mas eu preciso conversar com o senhor. - Ele apenas balançou a cabeça e soltou um longo suspiro. - Eu não posso ser culpada por algo que não fiz... - Começou a se defender, mas logo foi interrompida pelo padrasto.
- Eu sei disso, Soph. - Sua voz era tão baixa que Sophia tinha que se esforçar pra ouvir. - Sei que a culpa não foi sua.
- Então por que está com raiva de mim? Por que não consegue nem olhar na minha cara?
- Porque meu filho morreu, Sophia. - Falou mais alto. - Você entende isso? Eu nunca mais vou ver meu filho. E eu estou sofrendo, não quero ver gente que está feliz com isso. Eu sei que Thiago fez muita coisa errada, principalmente com você, por isso sei que você não vai lamentar a morte dele, mas eu vou. Então, por favor, será que eu posso ficar triste sozinho no meu quarto?
- Eu jamais ficaria feliz por algo que te deixa triste. - A voz doce de Sophia fez com que algumas lágrimas que Osvaldo prendia, rolassem soltas pelo rosto. - Seu filho me maltratou sim durante muito tempo, só eu sei o que eu sofri, mas eu sei que você está mal e eu amo você como o pai que eu nunca tive.
- Soph... - Ele ia começar a falar, mas Sophia não permitiu.
- Eu não quero nunca sentir essa dor que você está sentindo agora. - Segurou em sua mão. - Mas eu posso imaginar pelo que está passando. Eu quero poder te oferecer um ombro amigo nesse momento difícil. Eu nunca quis que acontecesse isso, quer dizer... - Ela parou e pensou um instante. - Só quando achei que ele tivesse feito algo a minha filha, mas fora isso, eu nunca quis que chegássemos a esse extremo. E eu realmente sinto muito. Não vou mentir pra você dizendo que estou triste, mas também não estou contente que isso aconteceu.
- Eu sinto muito ter brigado com você ontem. - Ele suspirou. - Eu estava em choque.
- Não se preocupa, o que mais me doeu foi não poder dizer que estou aqui por você e não ter podido te dar um abraço. - Soltou um sorrisinho e ele fungou antes de abraçar a ex nora.
- Você é uma menina de ouro, Soph. - Falou ao seu ouvido. - Fico muito feliz de poder ter você na minha vida. - Ela sorriu e foi se sentar ao lado dele encostada na cabeceira. Segurava forte em sua mão. - Eu tava aqui pensando no que fiz de errado.
- Você não fez nada de errado... - Tentou defender, mas ele negou com a cabeça.
- Alguma coisa eu fiz. Quando a mãe dele morreu eu me enterrei em trabalho e mais trabalho. Se eu tivesse ficado mais com ele, se eu tivesse sido um pai de verdade pra ele.
- Você não pode se culpar pelas escolhas que o Thiago fez na vida. - Sorriu tentando encorajá-lo. - Thiago já era um homem formado, maior de idade e vacinado. As escolhas dele eram só dele.
- Ai, Soph. - Mais um suspiro. - Não sei o que fazer agora... Tem aquele apartamento pra limpar e tirar as coisas dele, e quando eu fizer isso, acabou.
- Você vai ter ele sempre aqui. - Encostou a mão no peito dele. - Thiago lhe deu 2 netos! - Ela secou uma lágrima que escorreu involuntariamente. - E ainda tem a Cléo de brinde.
- A Julia nem sabe quem foi o pai dela. - Rolou os olhos.
- É claro que ela sabe. - Franziu a testa. - E mesmo se não soubesse, você sabe disso, sabe que ela é sua neta e que ela te ama muito, assim como o Nathan. Todo mundo aqui te ama, Osvaldo. Até o Micael ficou triste por você! - Ele soltou um risinho.
- Isso aí eu duvido bastante. - Ele secou algumas lágrimas.
- Micael e Cléo são dois insensíveis, mas eles sentem muito por você, não pelo Thiago. Ninguém desejaria que você passasse por essa dor. Nós amamos você. - Lhe deu um beijo na bochecha.
- Ahhhh, mas até que enfim. - Julia vinha descendo as escadas. - Você sumiu. - Micael falou e ela foi se sentar ao lado dele.
- Eu estava no meu quarto. - Ergueu a mão com a antiga foto colada com durex e Micael arregalou os olhos.
- Você guardou isso? - Sua cara de ciúme era impossível de ser disfarçada. Ele pegou a foto da mão da filha e virou pra Jhenny.
- Eu lembro desse dia. - Falou rindo. - Micael foi tão fofo colando essa foto pra você. Dava pra ver na cara dele a felicidade.
Micael bufou e devolveu a foto a Júlia. - Por mim eu deixava rasgada mesmo.
- Então por que você colou? - Jú perguntou curiosa.
- Você estava chorando. - Arregalou os olhos. - E na época eu achei que sua mãe exagerou um pouco rasgando essa foto, mas isso não significa que eu queria colar. - Disse com uma careta e arrancou risos de quem tava na sala.
- Eu guardei embaixo do colchão quando nos mudamos pra casa nova. - Ela suspirou explicando aquilo novamente. - Fiquei com medo da minha mãe achar e terminar de rasgar. Eu tinha esquecido dela, lembrei quando ele apareceu no natal.
- Até parece que minha mãe faria isso! - Cléo comentou do outro sofá, estava sentada ao lado da avó. - Tem certeza que foi ela que rasgou?
- Cléo, você não conhece a mesma mãe que eu não. - Julia rolou os olhos. - Ela foi uma mãe completamente diferente pra você.
- Você que é dramática. - A menina rolou os olhos. - Ela te trata super bem também.
- Agora né. - Bufou. - Porque antes... Na verdade eu nem lembro direito porque ela rasgou essa foto.
- Sua mãe tava numa fase insuportável. - Micael falou rindo. - Quase que nem eu aguento.
- Quase que você não aguenta o quê? - Sophia tinha voltado pra sala e só tinha escutado o final.
- Quase que eu não aguentei sua chatice quando tava grávida da Cléo. - Ele parou pra pensar um pouco. - Será que é por isso que a Cléo é chata?
- Ei! - A menina protestou e arrancou risos de todos. - Eu não sou chata.
- Imagina se fosse... - Júlia rolou os olhos e Cléo se levantou jogando uma almofada nela. - Mais insuportável impossível.
- Ah, cala a boca! - Fez uma careta.
- Mas estava demorando pras bonitas voltarem a brigar o tempo todo! - Micael falou grosso e elas olharam pra ele. - Vamos parar com isso?
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Virada [EM REVISÃO]
RomanceQue o mundo dá voltas, todo mundo sabe. Mas você vai esperar que isso aconteça justo com você? Que todo o mal que foi feito com brincadeiras estupidas no ensino médio fosse atrapalhar a sua vida anos depois? Que fosse se apaixonar pela maior vitim...