Virada - Capítulo 118

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- Você não tem nenhum direito de chamar ele de idiota. - Disse brava. - Foi um pai muito melhor do que você. 

- Júlia, pelo amor de Deus. - Juntou as mãos. - Eu que sou seu pai. 

- Olha, eu sei disso. - Suspirou. - Eu sempre soube que o Micael não era meu pai biológico, mas adivinha só? Pai é quem cria. - A menina cruzou os braços e deu uns passos, ficando cara a cara com Thiago. - Ele que esteve comigo quando eu precisei, muitos dias dos pais, muitos aniversários, me desculpe, mas você é um estranho pra mim. 

- Mas a gente pode se conhecer. 

- Thiago, pai, como você preferir. - Balançou a cabeça. - Eu não faço questão de conhecer um homem que batia na minha mãe e a privava de fazer tudo, de ter amigos, de viver. - Eu não quero conviver com você, você é toxico. 

- Eu não batia na sua mãe, eu fiz isso uma vez só. - Se defendeu. - E ela disse na minha cara que tinha me traído. - Sophia bufou. - Eu amava demais ela pra deixar ir embora assim. 

- Claro, ai você preferiu bater nela e quase matar. Você tem uma logica surpreendente. 

- Sophia, o que você falou pra ela? - Desviou o olhar pra ex-mulher. - Você envenenou a cabeça da menina esses anos todos?

- Pelo amor de Deus, Thiago. - Rolou os olhos. - Ela lembra de tudo e já tem quase dezessete anos, já entende muito bem o que aconteceu. 

- Gente, já é natal. Vamos parar com essas brigas. - Branca falou de longe, mas ninguém a olhou. 

- Mãe, é impossível comemorar o natal enquanto ele estiver aqui. - Encarou os olhos tristes de Thiago. - Por que você não vai embora e volta pra sua esposa e seu filho de nove anos. - Sophia andou e colocou o braço sobre o ombro de Júlia. - Já que pra eles você foi presente. 

- Eu tive medo de voltar e você não deixar que eu me aproximasse da Júlia. - Ele tinha a voz baixa. - Eu esperei até ela ser grande o suficiente pra se impor e não ouvir você. 

- Acho que você esperou tempo demais. - Ela rebateu. 

- Você vai embora ou a gente vai ter que ir? - Micael disse ganhando atenção para si. - Por que eu não vou sentar á mesma mesa que você. 

- Mas eu não quero ir embora. - Cléo disse olhando pra mesa. - Nem comemos nada. 

- Fica quietinha Cléo. - Ele balançou a cabeça. - Pelo menos uma vez na vida, seja obediente. 

- Não se preocupem, eu vou embora. - Soltou um suspiro pesado. - Mas eu não vou desistir de você filha. - Saiu da sala sem dizer mais nada. Júlia se jogou no sofá e chorou ainda mais, nem sabia porque tava chorando, mas as lagrimas vinham fortes demais. 

- Ei, se acalma. - Micael se sentou ao seu lado e lhe deu um beijo na testa. - Ele não pode te fazer mal. 

- Ele me fez mal só de aparecer como se fosse um bom moço. - Disse entre soluços. - Ele não pode apagar tudo o que fez com essa cara de sonso não. Ele me abandonou. 

- Ele estava internado numa clínica. - Osvaldo se aproximou para defender o filho. - Thiago pode não ser a melhor pessoa do mundo, mas é seu pai. 

- Vô, ele é um estranho, eu já disse isso. - Encarou o avô. - Ele fugiu da clínica há muitos anos e aparentemente tem uma outra familia, então ele não voltou antes porque não quis. 

- Ele nem pode explicar nada. - Defendeu mais uma vez. - Chegou sendo atacado e foi embora sendo atacado. 

- Osvaldo, eu sei que é seu filho e você é a unica pessoa nessa familia que realmente ficou feliz por revê-lo, mas você não pode impôr isso a gente. Nós não queremos aproximação com ele. 

- Exatamente, ele que fique com o filho dele pra lá. - Júlia falou. - Porque eu já tenho meu pai. - Abraçou Micael. 

- Eu estou chocada que você é adotada. - Cléo falou rindo. - Adotada. 

- Eu não sou adotada. - Júlia rebateu. 

- Claro que é. - A menina gargalhava. - Bastarda. 

- Cléo, se você não calar a boca agora eu vou te dar um soco que você nunca vai esquecer. - Júlia ameaçou, mas isso pouco intimidou a irmã caçula. 

- Será que vocês duas podem parar de brigar por hoje? - Sophia pediu. - Esse natal já teve emoções demais. 

- Essa menina que é idiota. - Júlia disse com raiva. - Mal criada. 

- Mal criada é você. - Rebateu a menina de onze anos. - Adotada. 

- Ah pronto, eu vou dar um socão nela. - Se levantou pra ir pra cima da irmã, mas Micael a segurou. - Me solta que eu vou dar a surra que vocês nunca deram nessa mimada. 

- Você não vai fazer nada disso. - Ele disse com a voz grave. - Vai no banheiro lavar esse rosto e depois você volta. - A menina assentiu e subiu as escadas. Micael suspirou antes de olhar pra filha mais nova. - Sobe. 

- Subir pra onde? - O olhou sem entender. - Ficou doido? 

- Sobe agora que a gente vai ter uma conversa sobre seus modos. - Ficou de pé e segurou no pulso da menina. 

- Micael! - Sophia ficou de pé. - O que você está pensando em fazer. 

- Eu vou conversar com essa menina, porque pior do que ela é, impossível. - Rolou os olhos. 

- Eu vou junto. - Ele começou a andar e ela foi atrás. 

- Isso aqui vai ser uma conversa de pai pra filha. - Ele estava muito sério. - Você vai atrás da Júlia porque ela sim está precisando de você. - Não se virou mais e subiu praticamente arrastando a filha até um dos quartos daquela cobertura imensa. 

Aquele natal com certeza já tinha ido para o beleléu. 

Virada [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora