- Você não tem nenhum direito de chamar ele de idiota. - Disse brava. - Foi um pai muito melhor do que você.
- Júlia, pelo amor de Deus. - Juntou as mãos. - Eu que sou seu pai.
- Olha, eu sei disso. - Suspirou. - Eu sempre soube que o Micael não era meu pai biológico, mas adivinha só? Pai é quem cria. - A menina cruzou os braços e deu uns passos, ficando cara a cara com Thiago. - Ele que esteve comigo quando eu precisei, muitos dias dos pais, muitos aniversários, me desculpe, mas você é um estranho pra mim.
- Mas a gente pode se conhecer.
- Thiago, pai, como você preferir. - Balançou a cabeça. - Eu não faço questão de conhecer um homem que batia na minha mãe e a privava de fazer tudo, de ter amigos, de viver. - Eu não quero conviver com você, você é toxico.
- Eu não batia na sua mãe, eu fiz isso uma vez só. - Se defendeu. - E ela disse na minha cara que tinha me traído. - Sophia bufou. - Eu amava demais ela pra deixar ir embora assim.
- Claro, ai você preferiu bater nela e quase matar. Você tem uma logica surpreendente.
- Sophia, o que você falou pra ela? - Desviou o olhar pra ex-mulher. - Você envenenou a cabeça da menina esses anos todos?
- Pelo amor de Deus, Thiago. - Rolou os olhos. - Ela lembra de tudo e já tem quase dezessete anos, já entende muito bem o que aconteceu.
- Gente, já é natal. Vamos parar com essas brigas. - Branca falou de longe, mas ninguém a olhou.
- Mãe, é impossível comemorar o natal enquanto ele estiver aqui. - Encarou os olhos tristes de Thiago. - Por que você não vai embora e volta pra sua esposa e seu filho de nove anos. - Sophia andou e colocou o braço sobre o ombro de Júlia. - Já que pra eles você foi presente.
- Eu tive medo de voltar e você não deixar que eu me aproximasse da Júlia. - Ele tinha a voz baixa. - Eu esperei até ela ser grande o suficiente pra se impor e não ouvir você.
- Acho que você esperou tempo demais. - Ela rebateu.
- Você vai embora ou a gente vai ter que ir? - Micael disse ganhando atenção para si. - Por que eu não vou sentar á mesma mesa que você.
- Mas eu não quero ir embora. - Cléo disse olhando pra mesa. - Nem comemos nada.
- Fica quietinha Cléo. - Ele balançou a cabeça. - Pelo menos uma vez na vida, seja obediente.
- Não se preocupem, eu vou embora. - Soltou um suspiro pesado. - Mas eu não vou desistir de você filha. - Saiu da sala sem dizer mais nada. Júlia se jogou no sofá e chorou ainda mais, nem sabia porque tava chorando, mas as lagrimas vinham fortes demais.
- Ei, se acalma. - Micael se sentou ao seu lado e lhe deu um beijo na testa. - Ele não pode te fazer mal.
- Ele me fez mal só de aparecer como se fosse um bom moço. - Disse entre soluços. - Ele não pode apagar tudo o que fez com essa cara de sonso não. Ele me abandonou.
- Ele estava internado numa clínica. - Osvaldo se aproximou para defender o filho. - Thiago pode não ser a melhor pessoa do mundo, mas é seu pai.
- Vô, ele é um estranho, eu já disse isso. - Encarou o avô. - Ele fugiu da clínica há muitos anos e aparentemente tem uma outra familia, então ele não voltou antes porque não quis.
- Ele nem pode explicar nada. - Defendeu mais uma vez. - Chegou sendo atacado e foi embora sendo atacado.
- Osvaldo, eu sei que é seu filho e você é a unica pessoa nessa familia que realmente ficou feliz por revê-lo, mas você não pode impôr isso a gente. Nós não queremos aproximação com ele.
- Exatamente, ele que fique com o filho dele pra lá. - Júlia falou. - Porque eu já tenho meu pai. - Abraçou Micael.
- Eu estou chocada que você é adotada. - Cléo falou rindo. - Adotada.
- Eu não sou adotada. - Júlia rebateu.
- Claro que é. - A menina gargalhava. - Bastarda.
- Cléo, se você não calar a boca agora eu vou te dar um soco que você nunca vai esquecer. - Júlia ameaçou, mas isso pouco intimidou a irmã caçula.
- Será que vocês duas podem parar de brigar por hoje? - Sophia pediu. - Esse natal já teve emoções demais.
- Essa menina que é idiota. - Júlia disse com raiva. - Mal criada.
- Mal criada é você. - Rebateu a menina de onze anos. - Adotada.
- Ah pronto, eu vou dar um socão nela. - Se levantou pra ir pra cima da irmã, mas Micael a segurou. - Me solta que eu vou dar a surra que vocês nunca deram nessa mimada.
- Você não vai fazer nada disso. - Ele disse com a voz grave. - Vai no banheiro lavar esse rosto e depois você volta. - A menina assentiu e subiu as escadas. Micael suspirou antes de olhar pra filha mais nova. - Sobe.
- Subir pra onde? - O olhou sem entender. - Ficou doido?
- Sobe agora que a gente vai ter uma conversa sobre seus modos. - Ficou de pé e segurou no pulso da menina.
- Micael! - Sophia ficou de pé. - O que você está pensando em fazer.
- Eu vou conversar com essa menina, porque pior do que ela é, impossível. - Rolou os olhos.
- Eu vou junto. - Ele começou a andar e ela foi atrás.
- Isso aqui vai ser uma conversa de pai pra filha. - Ele estava muito sério. - Você vai atrás da Júlia porque ela sim está precisando de você. - Não se virou mais e subiu praticamente arrastando a filha até um dos quartos daquela cobertura imensa.
Aquele natal com certeza já tinha ido para o beleléu.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Virada [EM REVISÃO]
RomanceQue o mundo dá voltas, todo mundo sabe. Mas você vai esperar que isso aconteça justo com você? Que todo o mal que foi feito com brincadeiras estupidas no ensino médio fosse atrapalhar a sua vida anos depois? Que fosse se apaixonar pela maior vitim...