Virada - Capítulo 147

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Júlia e Micael estavam vendo um filme há bastante tempo quando ouviram a porta se abrindo e viram Cléo e Sophia passarem por ela. Sophia encarou os dois por um tempo antes de soltar um suspiro e ir subir as escadas, precisava de um banho. A filha caçula de Micael e Sophia se sentou em uma das poltronas.

- O que foi? - Micael disse quando sua filha ficou muito tempo o encarando.

- Minha mãe tá chateada com você. - Ele rolou os olhos.

- Claro que tá. - Bufou. - Daqui a pouco passa.

- Acho que vocês deviam ter um bebê. - Ela deu de ombros e Micael se sentou, pausando o filme. - Não é uma ideia tão ruim assim.

- Claro, vou fazer um bebê e deixar ele no seu quarto pra você cuidar dele. - A menina arregalou os olhos. - Pra você trocar ele, pra você acordar de madrugada porque ele não quer dormir, pra você dar mamadeira.

- Eu não quero acordar de madrugada. - A menina protestou.

- E nem eu! - Respondeu grosso e a menina levantou as mãos. - Eu não sei o que tua mãe tem na cabeça pra levantar essa questão na frente de todo mundo. - Ele balançou a cabeça e em seguida deu play no filme.

Sophia não desceu mais aquele dia e Micael não subiu, os dois não queriam conversar sobre aquele assunto. Quando o terceiro filme seguido acabou, ele se levantou e olhou as meninas.

- Acho melhor vocês pedirem comida, duvido muito que vai ter janta nessa casa. - Pegou a carteira e tirou um dos cartões de crédito dela, entregou na mão da Júlia. - Eu vou encarar a mãe de vocês agora porque eu preciso dormir.


O ar condicionado ligado no máximo estava congelando o quarto, Sophia estava debaixo de dois edredons até com a cabeça coberta. Ele soltou um suspiro pesado e foi pro banheiro. Não demorou muito, voltou de cueca box, pegou o controle do ar e aumentou a temperatura. Sophia destampou a cabeça com um gemido em protesto.

- Isso aqui está um freezer. - Ele respondeu ao olhar dela. - Não tem necessidade disso.

- Pronto, não posso nem escolher a temperatura do meu quarto. - Disse em protesto.

- Sophia você está exagerando, isso ainda é por causa da história do bebê? - Ela bufou, completamente irritada.

- Você foi completamente grosso no jeito que falou comigo.

- Deve ser porque você devia ter falado comigo no conforto do nosso freezer e não na frente de todo mundo. Isso é um assunto que só diz respeito a nós dois.

- Eu só queria saber o que você pensava.

- E descobriu, nada de bebês. - Rangeu o dente. - Agora será que dá pra me dar uma pontinha desse edredom? Ou pelo menos um deles?

- Não, vai no armário e pega um. - Disse com bico e Micael bufou.

- Será que dá pra parar de ser infantil? - Ela encarou. - Você devia é se entender com a sua filha ao invés de querer botar mais gente no mundo pra viver brigando também.

- É impossível me entender com a Júlia. - Rolou os olhos. - Ela já me odeia.

- Que odeia o quê. - Rolou os olhos. - Ela te adora, o problema dela é que você não dá a mínima pra ela. Ela sempre viveu tentando chamar sua atenção de algum jeito e quase nunca conseguiu.

- Ela sempre foi muito dramática. - Micael rangeu os dentes.

- Ela tem o DNA do Thiago e o seu, dois dramáticos, queria o quê? Ela é sensível, mas você sabe que é uma boa menina. Você devia se esforçar com ela. Sai com ela um dia, só com ela. Esquece um pouquinho o monstrinho.

- Você podia parar de chamar a Cléo de monstrinho? - Fez uma careta e arrancou risos de Micael. - Ela não é um monstrinho.

- Esse não é o ponto da nossa conversa. - Soph desviou o olhar. - Você precisa se entender com ela, ela tem dezesseis anos, é uma idade em que precisa da mãe, Deus me livre dessa garota aparecer com um bebê nessa casa.

- Eu não tô entendendo essa aversão a bebê que você tem. - Se sentou encarando novamente o marido.

- Ei, a Júlia não tem idade pra ter um bebê. - Justificou e fez Sophia bufar.

- A Júlia não vai fazer um bebê. - Balançou a cabeça. - Ela é mais responsável do que eu. Só queria saber o motivo de não querer um bebê.

- Porque eu quero paz, Sophia. - Sua voz era grossa, já estava irritado com esse assunto de bebê. - As meninas já estão grandes, eu não quero começar tudo de novo, todo chororô, todas as fraldas sujas, todas as noites sem dormir por causa de uma criança. Isso sem contar que você fica completamente insuportável quando está grávida, eu não posso nem olhar pro lado.

- Ei, não é assim. - Já tinha os olhos cheios de lágrimas. - Quando eu estava grávida aquela desmilinguida queria tirar você de mim e você não enxergava isso.

- Só que eu nunca nem quis aquela desmilinguida. - Rolou os olhos. - Você brigava comigo o tempo todo, arranjava confusão na rua, você quebrou meu apartamento, você literalmente ficou louca.

- Eu quebrei só uns dois vasos no seu apartamento e porque aquela vaca tava lá sem blusa. Não foi tão infundado. - Se defendeu. - Eu não estava louca sem motivos não.

- Claro que foi sem motivos, eu nunca trairia você. - Ela suspirou. - A questão é que eu não quero passar por isso tudo novamente.

- Tudo bem, Micael. - Ela virou pro outro lado e cobriu a cabeça novamente. - Boa noite. - Ele puxou um dos edredons e virou pro outro lado. Nenhuma palavra mais foi dita.

- Bom dia, meninas. - Sophia disse ao chegar na mesa do café da manhã e encontrar suas filhas e seu marido. - Filha, seu pai leva você e sua irmã hoje, preciso dar uma saidinha agora de manhã. - Deu um beijo na testa de Cléo.

- Pra onde você vai? - Micael perguntou, mas ela não respondeu, pegou uma maçã na mesa, as chaves do carro dela que estavam penduradas na parede da cozinha e a bolsa. Saiu quase que correndo.

- Pelo visto nada melhorou ontem né? - Júlia perguntou olhando pro pai com cara de besta.

- Você percebeu? - Debochou e voltou a tomar café, pensando onde que Sophia teria ido.

- Bom dia, mamãe... - Sophia sorriu a médica que tinha acompanhado suas duas gestações. - Vamos ver como está esse seu bebezinho?

Virada [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora