Virada - Capítulo 120

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- No quarto, de castigo. - Micael respondeu sem encarar a mulher. As pessoas que estavam na sala saíram de fininho até só restarem eles e Júlia ali. 

- Como assim de castigo? - Arregalou os olhos. - É natal. 

- Não muda o fato dela ser uma mal criada. - Deu de ombros. - Ela precisava de um corretivo e eu dei. 

- Micael, do que você está falando? - Rolou os olhos e comeu um pouco da comida de seu prato. 

- Estou falando que eu dei umas cintadas nela e a coloquei de castigo. - Disse com a maior calma do mundo. - E você não vai tirar. - Sophia começou a tossir, engasgada com a farofa. Micael segurou o prato dela e Júlia foi ajudar a acudir a mãe. 

- Você bateu na minha filha no natal? - Estava incrédula. - Você bateu na minha filha no natal?  - Repetiu. 

- Eu fiz o que tinha que ser feito. - Não tinha remorso. - Cléo não respeita ninguém, só faz o que quer e fica falando coisas pra machucar as pessoas. Ela é chata e mimada demais. 

- Isso não te dá o direito de bater na minha filha. - Ela gritou. Micael colocou o prato na mesa de centro e encarou a esposa.

- Nossa filha. 

- Minha filha. - Ficou de pé. - Eu vou tirar minha filha desse castigo agora. - Micael segurou a mulher pelo pulso e a puxou de volta para o sofá. 

- Você não vai. 

- É natal. - Cruzou os braços. - Minha filha tá passando o natal trancada num quarto. Ela pelo menos comeu? 

- Lógico que eu levei comida pra ela, minha intenção não é matar a nossa filha de fome. - Bufou. - Sophia, eu cansei de ser desrespeitado o tempo todo, aquela menina vai ter que aprender agora. Eu errei em ter deixado você tirar ela do castigo todas as vezes que eu coloquei quando era criança, mas agora chega. Eu estou de saco cheio. 

- Ela não merece. - Sophia chorava. 

- Sophia, eu fui conversar com ela de boa, a menina riu de mim, debochou de mim. Chega. CHEGA!

- Pai, você não precisa gritar. - Júlia disse baixo e Micael assentiu. - E mãe, ninguém nunca morreu porque levou umas cintadas uma vez na vida. 

- Exatamente o que eu pensei. - Micael concordou. - Meu pai fazia eu ir buscar o cinto pra apanhar. Você deu umas chineladas na Júlia quando ela era criança. Vai dizer que nunca levou uns tapinhas quando criança? 

-  Já, mas não era assim que eu queria criar as minhas filhas. - Cruzou os braços, estava com um bico enorme, Micael e Júlia estavam achando graça. 

- Ah, mas quando deu chineladas em mim era né? - Júlia falou em tom brincalhão. 

- Você fez eu terminar com o Micael, você mereceu aquelas chineladas. - Sophia disse, agora mais calma. 

- Eu era uma criança, não fiz nada não. - Se defendeu, sentada no braço do sofá. 

- Você fingiu que eu bati em você. - Micael riu se lembrando do tempo em que as coisas mesmo complicadas, pareciam ser mais simples.  

- Eu era dessas! - Deu um beijinho no ombro e arrancou risada dos pais. 

- Para que tu nem lembra disso. - Sophia puxou a filha pra perto. - Tudo bem, dessa vez passa, mas eu não quero você batendo o tempo todo na minha filha. 

- Eu não vou bater o tempo todo nela, mas eu quero que você deixe ela no meu castigo até eu tirar. - Sophia suspirou. - Tudo que eu falo a ela que vou fazer, ela fica debochando "Minha mãe não vai deixar você fazer isso". Se você soubesse a raiva que isso me dá. 

- Tá bem, dessa vez eu não vou interferir, mas isso não significa que eu goste dessa situação. E eu vou olhar a minha filha pra ver se você deixou marcas nela. 

- Ela deve estar vermelha só. - Deu de ombros. - Meu intuito não era deixar a menina cheia de hematoma, eu tenho noção, né Sophia. 

- Meu Senhor, esse com certeza foi o pior natal da minha vida. - Resmungou e foi abraçada por Micael e Júlia.

No dia seguinte eles estavam se preparando para ir embora depois do almoço de natal. Cléo tinha almoçado no quarto de novo, a menina estava agoniada pra sair de lá. Se despediram de todos e Micael buscou a filha no quarto. Não demorou para chegarem em casa. A caçula se jogou no sofá e ligou a televisão. 

- Ei, pode parando. - Micael falou e desligou a televisão no botão. - A senhorita ainda está de castigo então vá  para o seu quarto. 

- Pai, o senhor está exagerando. Não precisa disso tudo. - Rebateu. 

- Cada vez que você me responder eu vou aumentar o seu castigo em uma semana. - Ela colocou as mãos na cintura e olhou a mãe. 

- Você vai deixar ele fazer isso comigo? - Sophia ficou em silencio. - Fiquei o natal todo trancada, ele pegou meu celular, mãe, ele me bateu com o cinto. Você tem que fazer alguma coisa. - Ela foi até a mãe e a chacoalhou pelos ombros. - Me ajuda mãe. - Sophia respirou fundo e olhou para Micael antes de responder. 

- Sobe. - Foi só o que disse e a menina subiu rangendo os dentes e pisando forte. 

- Obrigado. - Micael foi até ela e lhe deu um selinho. - Muito obrigado. 

- Eu espero que isso não demore muito a acabar, não acho que vou aguentar muito tempo fazendo a linha durona. 

- Não vai demorar, ela vai ficar pianinho. - Deu um beijo mais demorado. 

- Ei, crianças na sala. - Júlia disse do sofá com um sorriso no rosto. 

- Crianças. - Sophia repetiu rindo. - Já deve beijar vários gatinhos por ai no cursinho. 

- Ah, Sophia. - Micael fez uma careta. - Eu não precisava saber disso. - Sophia gargalhou. 

- Ué, a Júlia é linda, deve atrair muita atenção por ai. 

- Mas é uma menina ainda. - Olhou a filha que tinha um sorriso nos lábios. 

- Ela já vai completar dezessete, meu filho. - Sophia se divertia. - Com quantos anos você tirou a minha virgindade mesmo? - Fingiu pensar um pouco. - Ah, foi com dezesseis. 

- Ai, eu não precisava saber disso! - Foi a vez de Júlia fazer uma careta. - Tem certas coisas que os filhos podem ser poupados. - Micael olhou a filha com um jeito desesperado. 

- Filha, não dá confiança pra esses adolescentes da sua idade, são todos irresponsáveis e só pensam em uma coisa. Eles vão te usar e te descartar, não cai na conversa deles. - Micael se ajoelhou ao sofá e juntou as mãos implorando á filha. 

- Que horror! - Franziu a testa. - Ninguém vai me usar não. 

- Eu também achei que ninguém ia me usar, até eu conhecer seu pai e ele me levar pra cama em mais ou menos uma semana. - Apesar do assunto pesado, Sophia se divertia com a cara do Micael, ele estava realmente assustado que alguém pudesse fazer com a filha dele o que um dia ele fez com as inúmeras garotas do colégio. 

Virada [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora