- Eu não sou egoísta. - Se defendeu. - Eu só não quero que você corra riscos.
- Você sempre foi tão racional, tão certinho, vivia dando lição de moral em mim por causa do meu jeito. Mas isso é algo que você não está certo. Só quem viveu aquele inferno, sabe quando outra pessoa passa pela mesma coisa. Se eu puder ajudar, eu vou ajudar.
- E se o Thiago fizer algo contra você? - Deu uns passos que o aproximaram da esposa. - Você vai fazer eu ser preso, porque eu vou matar aquele filho da puta. - Arrancou risos de Sophia.
- Você não vai matar ninguém. - Ela deu de ombros. - Eu só preciso me aproximar da Fabiana e convencer ela a denunciar o Thiago.
- Ela tem um filho com ele. - Micael disse novamente irritado. - Ele deve manipular essa mulher igual manipulava você com a Júlia.
- Eu não era tão manipulada assim, eu tive pena da minha filha. - Micael fez uma careta. - Você lembra muito bem o quanto a Júlia era apegada a ele. Não queria fazer minha filha sofrer com a separação.
- A separação veio de qualquer jeito e o cara ficou livre. - Sophia bufou. - Vocês são sentimentais demais.
- Chega. - Ergueu as mãos. - Já deu desse assunto. Eu vou ver o que vou fazer pra tentar ajudar e no caso se você não quiser ajudar, não atrapalha. - Disse alto e saiu do quarto pisando forte. Micael se sentou na cama com as mãos no rosto, nunca entenderia como aquela mulher era capaz de se colocar em risco e não se importar. Depois de um longo banho, ele desceu para a sala.
Ficou sozinho zapeando canais na televisão, mas na verdade não queria ver nada, só queria ficar em paz com a sua familia, mas aquilo parecia impossível. Estava quase cochilando quando sentiu o sofá afundar a seu lado. Abriu os olhos e viu sua filha ali, encarando a tv.
- Você e a mamãe brigaram né? - Júlia perguntou ainda sem olhar para o pai.
- Não. - Ele disse baixo, mas foi pouco convincente.
- Quando vocês brigam até as plantas percebem. - Ela soltou um sorrisinho.
- Não brigamos, apenas conversamos. - Não gostava de expor as desavenças as filhas.
- Pai, nem eu e nem a Cléo somos mais criancinhas, a gente percebe as coisas. - Dessa vez olhou para o pai. - Você e a mamãe vivem de chamego pela casa, é só brigar que pronto, cada um num cômodo.
- Eu não acho que isso seja assunto pra falar com você. - Deu um sorrisinho e ergueu a mão pra fazer carinho na bochecha da jovem. - Nós não concordamos em alguns pontos, mas logo, logo a gente se entende.
- Por causa do Thiago de novo? - Ela soltou um longo suspiro. - Tudo que ele quer é ver vocês brigando, se você cair na pilha dele é o que vai acontecer.
- Não foi bem por conta dele. - Foi a vez dele suspirar. - Sua mãe é a pessoa mais teimosa que já conheci na vida. Ela se coloca em perigo atoa e isso me irrita tanto.
- Não é pra tanto, o senhor age como se o Thiago tivesse a espreita esperando pra sequestrar a minha mãe. - Soltou uma risadinha. - Não é bem assim que funciona.
- A diferença é que eu não quero pagar pra ver, diferente de vocês que ficam pensando "ah, ele não faria isso". - Ficou de pé.
- Relaxa pai, eu também tenho medo de que algo aconteça, mas não tem como viver com medo. O medo impede a gente de viver.
- Sabe o que impede a gente de viver? - Ele encarou a filha. - A morte. - Se virou para a escada. - Avisa sua mãe que eu perdi a fome, vou deitar.
Os dias foram passando e nada do clima tenso entre Sophia e Micael passar. Na verdade, ele só ficava pior á medida que Sophia conseguia se aproximar de Fabiana e ganhar a confiança de sua quase irmã gêmea. Elas já tinham trocado telefone e conversado algumas vezes. Naquela tarde, Sophia tinha saído mais cedo do trabalho pra receber a mulher em sua casa.
- Ei, achei que não vinha mais. - Sorriu ao abrir a porta.
- Esperei o Nathan sair da escola. - Sophia deu um beijo na bochecha do menino.
- Ei, Nathan. - Sophia se abaixou pra lhe dar um beijo. - Sua irmã está lá em cima, só subir as escadas que você acha ela. - O menino assentiu e subiu as escadas correndo. Sophia e Fabiana caminharam para o sofá. A mulher novamente com camisa de mangas longas e gola alta, pelo menos dessa vez vestia uma bermuda.
- Eles se dão bem né? - Fabiana olhava por onde seu filho subiu. - Fico feliz com isso, ele era tão sozinho e Thiago falava tanto da Júlia.
- Júlia adora crianças! - Sorriu, adorava falar da filha. - É uma boa menina, nós tivemos nossos desentendimentos, mas a gente se entende assim. - As loiras riram. Sophia fechou o sorriso logo depois, não sabia como começar aquele assunto, era tenso demais. - Fabi, preciso perguntar uma coisa. - A mulher sorridente balançou a cabeça positivamente. - Por que você sempre está com essas camisas mesmo com esse sol de matar um que tem lá fora?
- Eu gosto. - Ela parou de rir. - São confortáveis.
- Fabi... - Sophia suspirou. - Eu preciso que você confie em mim. Eu sei que sou quase uma estranha pra você, mas eu quero te ajudar.
- Me ajudar com o que Sophia? - A mulher ficou de pé. - Eu não preciso de ajuda com nada.
- Fabi... - Hesitou novamente. - Eu fui casada anos com o Thiago, eu sei como ele pode ser... agressivo.
- Não, o Thiago não é nada disso. - Sophia podia perceber as lagrimas que se formavam no interior dos olhos daquela mulher. - Ele só é um pouco ciumento.
- Não precisa mentir pra mim. - Sophia olhou para os lados. - Thiago já me bateu, ele já me forçou a fazer sexo, ele me manteve presa naquele apartamento por causa da minha filha. Eu sei que ele não é o melhor marido do mundo. - A mulher desabou no sofá, ela chorava tanto que Sophia não sabia o que fazer, então apenas abraçou e deixou que a crise passasse.
- É tão difícil fingir que está tudo bem. - Disse entre soluços. - Eu tento esconder essas coisas do meu filho, ele gosta tanto do pai dele, mas está cada vez mais difícil.
- Sai daquele apartamento, leva seu filho embora. - Sophia aconselhou. - O Thiago quando fica com raiva perde a razão.
- E eu não sei? - A mulher tirou a camisa e revelou as marcas roxas por todo seus braços, costas e barriga. Aquilo era muito pior do que sempre foi com Sophia, ela se sentiu enojada. - Ele chega em casa irritado com alguma coisa e desconta em mim, eu não sei como aguentei esse tempo todo.
- Você não pode ficar naquela casa. - Sua voz estava alerta. - Ele quase me matou, ele quebrou o meu nariz e eu fiquei semanas com aquele gesso no nariz. Você não pode dar a ele a chance de fazer alguma coisa com você e com seu filho.
- Eu não tenho pra onde ir. - Ela suspirou. - Meus pais me expulsaram de casa quando souberam que eu estava gravida. Eles moram em Rio Grande do Sul e não fazem ideia do que acontece aqui. Fora que ele não deixa um centavo na minha mão. Eu procurei moedas pela casa pra conseguir pegar o ônibus até aqui. Eu não tenho amigas na cidade, eu vivo presa naquele apartamento maldito. Fora que ele ameaça pegar meu filho e me deixar sem vê-lo toda vez que... Ele faz isso para que eu não o denuncie.
- Eu sei muito bem como que é. - Sophia já estava chorando. - Mas agora você tem uma amiga na cidade, a gente denuncia ele e nada vai te acontecer, nem ao seu filho.
- Família do Thiago é rica, Sophia. - Ela desabafou. - Ele vive jogando na minha cara que se eu denunciar, o pai dele vai contratar um advogado bom e vai tirar ele de lá. Ai eu vou "me arrepender". Palavras dele.
- Nós vamos encontrar uma saída. - Abraçou a mulher novamente. - O pai dele é marido da minha mãe, ele jamais defenderia algo desse tipo. - Apontou para os hematomas da mulher. - Diferente do Thiago, Osvaldo é uma boa pessoa.
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Virada [EM REVISÃO]
RomanceQue o mundo dá voltas, todo mundo sabe. Mas você vai esperar que isso aconteça justo com você? Que todo o mal que foi feito com brincadeiras estupidas no ensino médio fosse atrapalhar a sua vida anos depois? Que fosse se apaixonar pela maior vitim...