Virada - Capítulo 139

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- Quem será? - Sophia franziu a testa e caminhou em direção a porta. - Está esperando alguém? 

- Meu pai que vem me buscar. - Sophia parou a meio passo da porta e olhou a irmã com olhos arregalados. - Que foi? - Ela achou graça da cara da Sophia. 

- Não era pra ele estar no Rio Grande do Sul? - Falou baixinho. 

- Eu disse que ele vinha me buscar... - Fabiana riu. - Eu o chamei depois que você foi encontrada. Esperei você chegar pra me despedir. - Sophia não falou mais nada, apenas abriu a porta e viu o homem elegante que estava parado atrás dela. Os dois se encararam em silencio por bastante tempo, até Fabiana entrar na frente e abraçar o pai. - Eu estou tão feliz de ver o senhor aqui. 

- Eu estava com saudade. - Apertou mais a filha. 

- Entrem. - Sophia falou e caminhou de volta pra sala. - O senhor bebe algo? - Ofereceu enquanto o observava sentar. 

- Pode me chamar de Renato. - Forçou um sorriso para Sophia. - Não preciso de nada, obrigada. 

- Pai, essa é a Sophia... - Fabiana disse e o homem arregalou ainda mais os olhos. A semelhança com Fabi já era imensa, com aquele nome então... - Ela é a minha...

- Irmã. - Ele ficou de pé novamente. - Sophia eu... 

Ele não falou nada, Sophia não falou também. O silencio constrangedor tomava conta da sala. Sophia estava confusa, não sabia o que pensar sobre aquele pai que nunca nem soube que existiu. Descobrir que ele a abandonou na dificuldade com a sua mãe, que nunca a procurou, era tanta coisa...

- Eu acho que não estou preocupada pra ter essa conversa. - Se afastou e secou as bochechas com as costas das mãos. - Eu não consigo. 

- Filha, eu sei que...

- Filha? - Fez uma careta. - Você me chamou de filha? 

- Você é uma das gêmeas. - Sua expressão era suave. 

- Você me abandonou com a minha mãe, a gente passou necessidade por causa de você e você nunca quis saber. Eu cresci, casei e você nunca me procurou. 

- Branca também nunca procurou a Fabiana. - Fez Sophia gargalhar. 

- Você mudou o nome dela! - Disse com raiva. - Não vem querer colocar o da minha mãe na reta não, ela pode ter tido os seus defeitos, mas ela praticamente me criou sozinha. Você devia aprender a se defender sem acusar ninguém. 

- Você não deixa eu explicar o que aconteceu. - A loira rolou os olhos. 

- Não precisa explicar, eu sei o que aconteceu. - Sorriu falsa. - Minha mãe pegou você no flagra, te expulsou e você se aproveitou do fato dela não ter estudo e nem trabalho, levou uma das bebês e nunca mais apareceu pra  saber se a outra estava viva. 

- Eu sabia que você estava viva. - Deu de ombros. 

- Nunca pensou em ajudar? - Franziu a testa. - Comprar um material escolar, uma dipirona quando estava doente... Nadinha?

- Sempre foi complicado por causa da forma como eu e sua mãe nos separamos. - Ela bufou. 

- Chega de historinha, eu estou cansada. - Sentou no sofá. - Prefiro que vá embora. 

O barulho da porta sendo aberta de supetão deu um susto em Sophia e nas demais pessoas que estavam na sala. Branca apareceu seguida de Osvaldo com uma vasilha de vidro na mão e uma cara de cansada. 

- Filha, eu peguei a vasilha errada na hora de ir embora, não foi essa aqui que eu trouxe. - Olhou pra que segurava. - Fiz Osvaldo voltar todo o caminho, já estávamos quase em casa. 

- Voltou por causa de uma vasilha? - Soph riu. - Só você mesmo. - Ela olhou em volta e ficou de boca aberta quando finalmente notou quem estava parado perto de Sophia. A vasilha agora estava no chão, em pedaços e Osvaldo precisou amparar a mulher. 

- Deus pai todo poderoso. - Fez o sinal da cruz algumas vezes. - Eu estou vendo assombração? O que essa desgraça de homem está fazendo na sua casa? - Com o barulho, Micael e as crianças desceram as escadas. 

- Eu vim buscar a minha filha. - Ele respondeu a Branca com a maior naturalidade. 

- Ah, claro. - Pulou os cacos e se aproximou. - A filha que você mudou de nome e registrou com outra mãe para que eu nunca conhecesse, não é mesmo? - Ela cruzou os braços. 

- Não foi por isso que eu fiz isso. - Ele se defendeu. 

- Pelo amor de Deus, Renato. - Bufou. - Você foi embora com aquela piri guete e sumiu com a Samantha. 

- Você me entregou a Samantha por livre e espontânea vontade. - Ele alterou a voz e Osvaldo avançou para ficar do lado de Branca. 

- Você por gentileza poderia manter o tom de voz baixo? - Pediu educadamente. Micael bateu palmas e atraiu atenção para si. 

- Eu não quero brigas dentro da minha casa não. A minha esposa e a minha filha precisam descansar então vamos encerrando isso aqui agora. - Olhou para Renato. - Você, eu não sei quem você é, mas vou pedir que saia da minha casa. 

- Eu vou embora sim. - Olhou para Fabiana. - Filha, vamos embora, sua mãe está esperando no hotel e nosso vôo é amanhã a tarde. 

- Pai, eu vou dormir aqui essa noite, amanhã eu vou pra lá. - Ela disse baixo, não tirava os olhos de Branca. 

- Como assim dormir aqui? - Fez uma careta. - Eu sai de outro estado pra buscar você por causa daquele garoto mimado e inconsequente que você arrumou e agora você me manda ir embora? 

- Eu só estou pedindo uma noite, você não precisa ameaçar me expulsar de casa de novo, eu vou encontrar você e a mamãe amanhã de manhã. 

- Eu vou esperar você até as nove. - Fez uma careta e em seguida caminhou até a porta sem companhia. Fabiana soltou um longo suspiro. 

- Insuportável como sempre. - Branca sussurrou depois que ele saiu e arrancou risos de Fabiana. 

- Mais insuportável do que antes, isso sim. 

Virada [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora