Sophia acordou Micael ás sete no dia seguinte. Ou pelo menos tentou acordar. Ele ficava pedindo cinco minutinhos o tempo todo e ela não resistia. Até que meia hora depois, ela já arrumada para o trabalho abriu as cortinhas deixando o quarto numa claridade que fez os olhos de Micael doerem mesmo fechados.
Ele rolou na cama e tapou o rosto com travesseiro, pouco antes de Sophia arrancar de suas mãos. - Vamos logo, Micael! - Balançou ele agoniada. - Se você não acordar agora, eu vou jogar água na sua cara.
Ele abriu os olhos devagar e a encarou por um instante. - Você não ousaria fazer isso. - Sua voz estava rouca pelo sono. Sophia deu um sorriso maléfico e assentiu. - Não, você não faria.
- Micael, levanta logo dessa cama e vai tomar um banho. Nem a Júlia me dá tanto trabalho pra acordar assim. Ela já está lá embaixo pronta e tomando café. - Falou alto e então ele sentou.
- Eu vou, mas por favor, não grita. - Finalmente levantou e foi para o banheiro. Sophia desceu para a mesa do café. Se sentou ao lado da filha e passou requeijão em um biscoito.
- Conseguiu? - Osvaldo, que estava sempre por ali, perguntou.
- Tive que ameaçar jogar água na cara dele. - Negou com a cabeça rindo. - Parece até criança.
- Pelo visto a noite de vocês foi boa né? - Branca perguntou e Sophia balançou mais uma vez a cabeça. - Pra ele estar assim.
- Teve nada demais, chegamos por volta de onze horas em casa, ele que está exagerando. - Deu de ombros e Micael vinha descendo as escadas.
- Ah, eu estou exagerando? - Estava com um péssimo humor. - Você não bebeu, por isso está tão bem disposta. - Ele se aproximou da mesa e falou com os sogros, deu um beijo na testa de Júlia e se sentou ao lado de Soph, se servindo de café preto e puro.
- Então talvez não devesse ter bebido tanto. - Rolou os olhos. O mau humor dele já estava contagiando seu dia.
- Você não parecia irritada com a quantidade que eu bebi ontem. - Antes que Sophia respondesse, Branca bateu a mão na mesa, que tinha o tampo de madeira e fez um baita barulho.
- Vocês não vão começar a brigar antes das oito né? - Falou séria e os dois tomaram café sem falar um com o outro.
- E você tem noticias dele? - Sophia perguntou a Osvaldo que entendeu na hora. Ela não quis falar o nome por causa da filha ali presente.
- Ainda não temos nada, parece que sumiu no mapa. Estou realmente preocupado. - Sua expressão ficou triste.
- Nada de mal vai acontecer com ele. - Sorriu encorajando o ex sogro que lhe deu um singelo sorriso. - Bom, já acabou filha?
- Já mamãe. - A menininha balançava os pés por debaixo da mesa. - Eu estou só esperando.
- Então vamos logo. - Apertou a bochecha de Júlia que correu pra buscar a mochila. Sophia olhou para Micael que tomava seu café calmamente. - Você não vem? - Ele negou com a cabeça. - E por que não?
- Eu ainda estou comendo, pode deixar que eu pego um táxi. - Sophia fez uma careta e conseguiu ficar ainda com mais raiva.
- Então tá, eu espero que não se atrase e que se vista apropriadamente. - Cruzou os braços observando a camisa polo azul marinho que ele vestia.
- Você sabe muito bem que o meu terno molhou ontem, você me empurrou debaixo da água fria com ele. - Parou de comer e encarou a mulher.
- Acho que você tem mais. - Cruzou os braços. - Vista um deles.
- Eu tenho na minha casa, impossível ir buscar e chegar na empresa a tempo. - Ela sorriu.
- Bom, então você devia ter acordado mais cedo. - Piscou um olho, deu a mão a filha e saiu do apartamento antes que ele pudesse responder.
- Ah, mas eu vou acabar com essa marra que a Sophia tem. - Pensou alto e fez com que Osvaldo e Branca rissem. - Vocês tão achando engraçado é? É só ela ficar com uma pontinha de raiva de mim que ela começa a agir como se fosse minha chefe.
- Mas ela sempre foi sua chefe. - Micael fez uma careta.
- Você entendeu o que eu quis dizer. - Osvaldo riu mais uma vez.
- Vamos, eu te levo em casa pra você pegar um terno e não levar bronca da sua chefe. - Debochou se levantando. - Tchau, meu amor. - Deu um beijinho em Branca.
- Tchau, Branca! - Ele gritou e seguiu Osvaldo pela porta.
Micael chegou um minuto antes de se atrasar e Sophia esperava por ele dentro da sala. Ela o olhou de cima a baixo e sorriu ao ver que estava de terno mesmo. Ele esbaforido pela corrida pra chegar a tempo, se jogou em sua cadeira confortável sem falar nada.
- Vejo que conseguiu se vestir e chegar a tempo, está de parabéns. - Ela debochou e recebeu um olhar fuzilador.
- Será que você consegue ser menos chata? - Encarou a namorada.
- Eu não sou chata. - Bufou.
- Você tem esse ar de superior aí desnecessário. Basta uma coisinha pra você começar a esfregar na minha cara que você é a chefe aqui. - Ele rolou sua cadeira até estar de frente pra Sophia. - Você não é melhor que eu Sophia. Nós somos iguais.
- Eu não preciso lembrar que eu mando nessa sala aqui, não é mesmo? - Se pôs de pé e Micael não demorou a se levantar também. - Você só está aqui porque o seu pai comprou a sua vaga nessa empresa.
- E você só está aqui porque casou com o filho do chefe. - O momento de fúria foi tão grande que Sophia só percebeu que tinha dado um tapa em Micael quando sentiu sua mão arder. Ele estava parado sem reação a sua frente e um segundo foi o suficiente para que ela já tivesse se arrependido do que fez.
- Amor, me perdoa! - Deu um passo para encurtar a distancia, mas ele se afastou.
- Vamos trabalhar. - Foi apenas o que disse no momento.
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Virada [EM REVISÃO]
RomansaQue o mundo dá voltas, todo mundo sabe. Mas você vai esperar que isso aconteça justo com você? Que todo o mal que foi feito com brincadeiras estupidas no ensino médio fosse atrapalhar a sua vida anos depois? Que fosse se apaixonar pela maior vitim...