Virada - Capítulo 119

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- Você está me machucando. - A menina segurou o pulso depois que Micael a soltou. - Olha aqui, está vermelho!

- Cléo, você tem a maior sorte do mundo que eu não sei bater e eu tenho noção disso. - Disse sem paciência alguma. - Eu tenho a mão muito pesada e com certeza você ia parar no hospital se eu resolvesse te dar uma surra. - Ela não disse nada apenas encarou o pai. - Escuta direito, eu já estou cansado desse seu jeito, estou esgotado, sinceramente não aguento mais. 

- Mas eu não fiz nada. - Ele ergueu um dedo e ela ficou em silencio. 

- A sua mãe mima você desde que você nasceu e por isso você nunca levou umas chineladas quando era criança, mas garota, você já tem idade suficiente pra saber como deve se comportar. - Ergueu o dedo e apontou bem no rosto de Cléo. - Se você ficar me desafiando como vem fazendo ultimamente, me faltando com o respeito e não só comigo, com seus avós também, você vai aprender na marra a ser educada. 

- Você vai fazer o quê? - Cruzou os braços debochada. - Minha mãe não vai deixar você me bater. - Passou as mãos no rosto, aquela menina conseguia tira-lo do sério a qualquer momento. 

- Eu vou mandar você pra um internato bem longe, sei lá, na suíça. - A menina riu. 

- Até parece que minha mãe vai concordar com uma loucura dessas. Ao contrario de você a minha mãe me ama. - Elevou a voz. - Você só quer saber da Júlia e agora fiquei ainda mais surpresa quando soube que nem sua filha ela não é. 

- Ei, pode parando de falar besteira, a sua irmã é minha filha sim e se você ficar repetindo isso vai ser pior pra você.

- Só uma questão de tempo até ela se entender com o pai dela e você ficar ai sem ninguém, porque eu não vou fazer questão de te chamar de pai. - Ela gritou na cara de Micael que sem paciência tirou o cinto da calça. - Eu não sei porque esse teatrinho, você não vai me bater. - Debochou. 

Micael pensou bastante antes de fazer aquilo, mas aquela menina precisava de um corretivo. Ela não podia falar o que quisesse sem que tivesse consequências. Sabia que estava errado, mas deu umas boas cintadas na filha que agora chorava descontroladamente. Não morreria por apanhar uma vez, era o que ele repetia em sua mente. 

- Você vai ficar aqui nesse quarto até amanhã. - Ele disse enquanto colocava o cinto de volta no lugar. - Está de castigo. 

- É natal. - Disse entre lagrimas. - Não faz isso comigo, pai. - Pediu com as mãos juntas. 

- Até você aprender alguma coisa, vai ficar de castigo. - Estava irredutível - E não adianta chorar pra sua mãe não, dessa vez eu não vou deixar ela te liberar. - Parou perto dela e estendeu a mão. - Me dá o celular. 

- Mas é meu. - Rebateu. 

- Eu acabei de dizer que você está de castigo. - Ela colocou o celular na mão do pai. - Ótimo, mais tarde a gente conversa de novo. 

Saiu do quarto e deixou a menina chorando. Micael não sabia ser assim, mas precisava fazer algo antes que fosse tarde de mais. Agora teria de lidar com Sophia que com certeza surtaria ao saber o que ele fez com a filha. Voltou para a sala de jantar devagar.


- Filha... - Sophia disse baixo depois de bater na porta algumas vezes. Entrou no quarto e encontrou a menina deitada na cama. Foi até ela e colocou sua cabeça em seu colo, fez cafuné. Não demorou ao perceber que a menina estava olhando uma foto. A foto que Sophia tinha rasgado e que Micael colara. - Onde essa foto estava? 

- Eu guardei essa foto debaixo do colchão depois que a gente se mudou. - Fungou. - Fiquei com medo de que a senhora achasse e me fizesse jogar fora. Essa era a única foto que eu tinha do meu pai, ele tinha sumido e eu não queria esquecer como que era o rosto dele. O tempo foi passando e eu esqueci que essa foto estava aqui, lembrei porque ele apareceu hoje. 

- Filha, se você sente falta dele... - Júlia não deixou Sophia terminar a frase. 

- Você não está entendendo. - Se sentou e encarou a mãe. - Esse homem aqui não significa nada pra mim. - Voltou a olhar a foto. - Eu olho para essa foto e não consigo me lembrar de nada além daquele dia que ele surtou e gritou dizendo que ia matar você. É a unica lembrança que eu tenho dele. Não tem momento feliz, eu não consigo lembrar. 

- Você só tinha quatro anos, é normal esquecer. - Deu de ombros. - Mas nós tivemos momentos felizes. 

- Que momentos, mãe? - Cruzou os braços. - Pelo que você e o meu pai contam, você vivia em carcere privado, podia nem ter amigos. Como que um casamento desses pode ter algum momento feliz? 

- Júlia, foram anos muito difíceis mesmo. Ele sempre me manteve preso por causa de ciumes e dizia que era por amor, longe de mim querer defender aquele embuste, mas ele sempre amou e cuidou de você. 

- Até parece. - Bufou. 

- Ele cuidava de você todo dia, ele largou o emprego pra ficar com você em casa. Você e ele sofreram demais a separação. Você me odiava e odiava ainda mais o Micael. Ele até te manipulou pra fazer com que terminássemos. 

- Mãe, eu não estou entendendo onde quer chegar. 

- Meu amor, a ultima coisa que eu quero no mundo é o Thiago de volta na minha vida. - Suspirou. - Mas eu não posso decidir isso por você. 

- Eu não quero chegar perto desse homem. Ele fez mal pra você, vai fazer mal pra mim também. E fora que meu pai ia ficar chateado e a ultima coisa do mundo que eu quero é que ele fique chateado por algum motivo. Eu amo demais o meu pai pra fazer ele passar por isso. 

- Sabe que eu tenho o maior orgulho de você? - Sophia ergueu a mão e secou a bochecha da filha. - Mesmo eu deixando muito a desejar com você, você cresceu e se tornou esse mulherão. Linda, inteligente, bem educada, decidida, responsável. - Puxou a filha para um abraço. - Eu sei que não demonstro da melhor maneira, mas eu te amo tanto filha. 

- Eu também amo você, mãe. - Ela disse ainda naquele abraço. - Amo tanto que vou aproveitar um pouco mais desse colinho. - Elas riram e a mulher voltou a fazer cafuné na filha. 

Já passava de uma da manhã quando Sophia e Júlia desceram para a sala de jantar, não havia mais ninguém na mesa, mas as comidas ainda não tinham sido retiradas. Fizeram um pratinho e foram para a sala de estar. 

- Finalmente apareceram. - Micael sorriu ao ver suas meninas. Cada uma se sentou a um lado dele e ele deu um beijo na bochecha delas. - Como está, meu bem? 

- Estou mais calma, a conversa com a minha mãe ajudou bastante. - Sophia sorriu, era bom ouvir aquilo. 

- Onde está a Cléo? - Sophia perguntou depois de olhar em volta e não ver a menina por ali. 

Virada [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora