Capítulo 01.

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AYLA.

Enquanto somos crianças acreditamos em coelhos de páscoa, papai noel, fada do dente, bruxas más, fadas madrinhas e finais felizes para sempre em todos os livros e contos infantis que nós lemos. Inclusive, eu acreditei em tudo isso porque meus avós sempre permitiram que eu fosse sonhadora, deixasse a minha imaginação me levar e fizeram absolutamente tudo pra que eu fosse uma criança feliz.

E eis me aqui, Ayla Fernanda Falconi com vinte anos tendo que aceitar e conviver com a dor diária da saudade daquela que me deu o mundo, me enche de amor e me deu exemplo de como ser mulher de verdade. Mesmo seguindo a vida errada, ela ainda insiste em fazer com que nós seguíssemos os caminhos certos.

Dona Fabiana, ou melhor Bibi Imperatriz, está na tranca há exatos quatro anos e desde que ela foi transferida pra um presídio fora do Rio de Janeiro, a gente tenta levar a vida da mesma maneira que levaríamos se ela estivesse em casa.

Tem dia que meu avô coitado chora de saudade porque sabe que a minha vó não tá numa situação confortável. Quando ele deita, ele lembra dela; Quando ele vai almoçar, ele lembra dela... Absolutamente em todos os momentos ele lembra dela e diz que não vê a hora dela voltar pra casa e diz que o melhor é ele se entregar também.

Se tá ruim pra gente com ela trancada, imagina como não ia ficar com ele também fora de casa? Ele parou o trem bala dele e nós seguimos esperando ela voltar pra casa. Entendo que, pra ele não é fácil conviver com a saudade, com a falta dela porque onde ela ia, ele estava e vice-versa. Às vezes eu pego ele sentado sozinho pelos cantos da casa chorando de saudade da minha vó e eu não consigo mensurar o quanto eles se amam.

Se fosse outro, já estava comendo outra e ela que se foda, já que quem tá presa é ela. Isso é o que eu acho mais foda neles dois... Independente de qualquer coisa, o juramento deles tá intacto e a corrente deles não se quebra.

Depois que a minha gata foi presa, muita coisa aqui mudou.

6 de Dezembro — Quatro anos atrás.

Maior movimentação em casa por causa do jogo do Flamengo na última rodada do Brasileirão contra o Grêmio. Tio Fabinho subiu pro profissional e era uma das estrelas da atualidade, o que deixou o meu casal de velhinhos os mais felizes do mundo.

Minha avó, que é vascaína doente, esquecia de tudo quando via o Fabinho dela pela televisão. Todo gol que ele fazia, ela chorava emocionada e quando ele virou capitão do time, aí é que ela chorou mesmo.

Estava rolando a maior tensão porque o Internacional estava a dois pontos do Flamengo, então meu avô estava nervoso e mesmo tomando uísque ele não tava bem não.

Tio Davi puxou um bondão pro Maracanã e levou parte da nossa família pra assistir o jogo até pelo fato do Fabinho não se sentir sozinho já que minha vó e meu vô não podiam ir e o motivo todo mundo já sabia.

Tia Keila se tornou empresária do Fabinho desde o início da carreira dele e foi assim que o gato virou um homem de sucesso.

Fomos geral pro bar mais famoso do Alemão e pasmem, minha mãe vestiu a camisa do Flamengo com o número 7 e o nome do meu tio nas costas.

Juntamos as mesas e nós ficou maior bondão no meio do bar, só descendo vários petisco e muito gelinho. Meu avô era meio contra eu beber, porque eu tinha só quinze anos e na cabeça dele eu não podia.

Mas com moderação a minha avó deixava e nisso eu não vacilava, só bebia muito quando estava longe dos olhos dos dois porque faz parte da vida né?

MK: Falei que um dia eu ia te ver trajada de Fla. - falou todo sorridente - Muito gata, tá maluco.

DO JEITO QUE A VIDA QUER 3.Onde histórias criam vida. Descubra agora