A Impostora

Vó Vera aceita viajar para fora do Brasil para operar as vistas.

Marília, Vera, Jussara e Walmor conversam no café da manhã. Sidney está no banho. Walmor se sente envergonhado por achar que está incomodando a família de Marília.

- Eu quero pedir perdão Marília, por estar esse tempo todo aqui. Eu pensei que seria uma semana aqui na sua casa, mas as paredes lá de casa estavam fracas, os pedreiros tiveram que derrubar e fazer de novo pra reforçar.

- Seu Walmor, eu to gostando muito por vocês estarem aqui comigo. Faz quase um mês que eu não saio de casa. Depois do assalto fiquei com síndrome de pânico. Anteontem quando voltei a trabalhar, fiquei com tanto medo que corri pra casa. E ontem consegui ficar mais tempo fora. Hoje conseguirei de novo.

- Eu já falei que a senhora tem que buscar ajuda de um psiquiatra. Aconselha Jussara.

- Mas eu não estou louca!

- Eu sei que não! O psiquiatra vai tratar esse seu lado emocional que está abalado.

- Não precisa, vai passar. Daqui uns dois meses eu já estarei boa. Pelo menos já estou saindo.

- Quando eu enxergava melhor, eu li muito sobre essa síndrome, a Lucy teve, ela não passa sozinha não. Tem que buscar um tratamento.

- A minha vai passar com o tempo. E sua visão tá piorando dona Vera?

- Tá a cada dia pior, mas ela não quer ajuda a da Lucy. A Lucy disse que paga pra ela operar fora do país. Ia eu e ela pra Nova Iorque. Mas o orgulho não deixa. Desabafa Walmor.

- Dona Vera, aceita sim. É muito ruim ficar sem enxergar. Já pensou viver na escuridão? Diz Marília.

- Eu não quero nem ficar pensando nisso.

- Tem que ir agora, enquanto tem chances de cura. Aconselha Marília.

- Mas também, a dona Lucy nunca mais apareceu, né seu Walmor?

- É que ela montou uma empresa de aluguéis de barcos, iates e lanchas. Só vive viajando. Walmor defende a filha.

- Mas a família está em primeiro lugar, seu Walmor. Diz Marília.

- Eu sei, mas ela já se comprometeu em pagar tudo até a operação da mamãe.

- Assim que acabar a obra, eu vou viajar. Se é isso que você quer meu filho.

- O que foi mamãe? O que foi que a senhora falou?

- Isso mesmo que você ouviu. Eu vou me tratar. Não quero ficar cega. E também não quero ver você triste pelos cantos por minha causa. Eu enxergo pouco, mas eu vejo você triste por aí.

- Só que depois eu não poderei ir com a senhora. Vou começar a mexer na oficina também. Mas eu dou meu jeito, sem a operação a senhora não fica.

- Se o senhor quiser, eu vou com ela. Diz Jussara.

- Verdade! A Jussaara como enfermeira poderia ir comigo. Se anima Vera.

- Tudo bem. Eu vou ligar pra Lucy e falar da operação. Muito obrigado mamãe, por aceitar a operação. Saiba que vou sentir meu coração mais leve em saber que a senhora volta enxergando.

- Oba! Eu vou conhecer os states.

Sidney sai do banheiro com uma toalha no corpo e o peitoral de fora.

- Que horas o André volta pra casa, Marília?

- Hoje à tarde.

- Até que enfim vou conhecer o famoso André.