16 ❧ A Conversa

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𝐂𝐡𝐚𝐫𝐥𝐨𝐭𝐭𝐞

As aulas daquele dia haviam se encerrado, e todos estávamos voltando do jantar quando me lembrei que deveria encontrar com meu pai na sala de poções. 

— Não desista agora, Charlotte. - disse Harry. - Conte a ele. 

Eu havia conversado com Harry a respeito do que acontecera entre mim e as minhas colegas de quarto. Ele me incentivou a contar tudo para meu pai, mesmo que ele não acreditasse. Harry disse uma verdade: eu não podia continuar fugindo delas e nem sofrendo todo aquele bullying sozinha. Precisava ao menos tentar falar com ele a respeito. Se ele acreditasse em mim talvez até me trocasse de quarto.

— Tudo bem. - falei, fazendo um sinal positivo com a cabeça. - Eu vou.

— Vou estar torcendo por você. 

— Amanhã te passo os detalhes. Boa noite.

E então, ele foi para junto dos outros na direção dos dormitórios. Respirei fundo antes de entrar na sala do meu pai. Havia pensando o dia inteiro no que iria dizer a ele, mas eu precisava explicar tudo. O motivo de eu chegar atrasada, porque minhas tarefas simplesmente desapareciam, entre outras coisas que as meninas estavam fazendo para me prejudicar. Mas também me preparei para escutar o que quer que ele tivesse para me dizer. 

Engoli em seco e finalmente bati duas vezes à porta.

Quem é? - escutei sua voz irritada por trás da porta.

— Sou eu, pai. Charlotte.

De repente, a porta abriu tão rápido que quase fui sugada para dentro da sala. Em seguida, meu pai me encarou por meio segundo, antes de realmente me puxar para entrar. Ele estava mais nervoso do que eu imaginei, mas assim que atravessei a porta, tive uma certa ideia do motivo. Draco Malfoy estava sentado em uma das cadeiras, de braços cruzados e rosto tranquilo, como se estivesse perfeitamente confortável.

— Sente-se!

— M-Mas pai...

— SENTE AGORA!

Obedeci imediatamente, sentindo arrepios por todo o corpo. Eu encarei Draco de relance, tentando imaginar o que ele havia falado para que meu pai ficasse tão furioso daquela maneira. Comecei a tentar buscar na memória algo que eu tivesse feito de errado. Nada me vinha a mente, além dos atrasos e deveres de casa perdidos. Isso definitivamente irritaria meu pai, mas não tanto.

— O que foi, pai? 

— Por acaso você sabe porque está aqui esta noite? - ele perguntou, se aproximando de mim irritado.

Seus olhos estavam quase vermelhos de tanta raiva. Poucas vezes na vida eu vira meu pai daquela forma, principalmente comigo, que sempre me esforçava para deixá-lo o menos irritado possível.

— Não é por causa dos atrasos e das tarefas? - perguntei, engolindo em seco novamente.

— Pobrezinha... - riu Draco, que parou assim que meu pai virou-se para encará-lo. - Desculpa...

Meu pai voltou-se para mim.

— Acha mesmo que a senhorita vai caminhar por esses corredores, fazendo tudo o que dá na sua cabecinha, e que eu não vou ficar sabendo? 

— Pai. Só me diz o que foi que eu fiz! Ou melhor... - eu encarei Draco, com raiva. - ... o que foi que ele disse?

— Não interessa! Como você pode ignorar tudo o que aconteceu? Todos esses anos de planejamento, todos os votos que fizemos... Não vou deixar que arruíne tudo isso, Charlotte! Ouviu bem? 

— Mas... Mas eu não estou entendendo...

— Então serei mais específico: você não tem permissão para andar com Harry Potter!

Foi então que eu entendi tudo. Draco fez exatamente como havia prometido: denunciou minha amizade com Harry simplesmente para que papai me proibisse. Minha vontade naquele momento era de voar no seu pescoço, mas infelizmente havia um Severus Snape muito bravo entre nós dois.

— Pai... Qual o problema? Nós somos apenas amigos.

— Você é uma aluna de slytherin, Charlotte! - meu pai segurou meu rosto. - Não deve ser vista próxima de gryffindors! É por conta disso que existem as casas! Elas separam os bruxos medíocres dos excepcionais. 

— O senhor sabe que eu nunca concordei com isso.

— Não quero que concorde! Quero que obedeça!

— E além disso, o que Harry tem a ver com o tal voto perpétuo? 

— Em primeiro lugar... - ele respondeu. - ...ninguém pode saber do voto que vocês fizeram!

— Tudo bem. Eu sei disso... Ele sequer desconfia de algo desse tipo.

— E além disso, se o Lorde das Trevas retornar, a primeira coisa que ele vai fazer é ir atrás de Harry Potter. E pode ter certeza disso, Charlotte, ele não poupa esforços para conquistar seus objetivos. Não importa o que tenha que fazer para chegar até Potter, ele será capaz de matar qualquer um que tenha qualquer ligação com ele.

— Nós nem sabemos se ele realmente voltará. - eu comentei, revirando os olhos. - Está morto há anos, por que é que vocês ainda se preocupam com isso?

— O Lorde das Trevas foi  bruxo mais poderoso do mundo. - disse meu pai, quase rosnando de raiva. - Sabemos que ele não poderia morrer daquela forma! E estamos nos prevenindo! 

— Mas pai, eu -

— CHEGA! - ele gritou, e sua voz ecoou pela sala inteira. - Eu não quero ouvir mais um pio vindo de você, mocinha! 

Eu me encolhi na cadeira. Não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo. Por que Draco se importava tanto com minha vida? Ele já tinha seus amigos. Por que é que apenas eu tinha que ficar sozinha? As meninas e os meninos de slytherin não davam a mínima para mim. Harry fora o único que me acolheu como sua amiga. E agora eu sequer podia andar com ele.

— Você está terminantemente proibida de andar, falar ou se sentar perto de Harry Potter ou qualquer outro gryffindor! Sua casa é slytherin, ou seja, seus amigos devem ser como você: slytherins. Entendeu?

— ... Entendi...

— Eu espero que não tenhamos que ter essa conversa novamente, Charlotte. Estou muito decepcionado com você e com a forma como anda agindo. Não me faça me arrepender de ter permitido que você estude nessa escola.

— Sim... Pai...

— Agora eu quero que você limpe toda esta sala, desde o teto até o chão. Deixe-a tão limpa que aparente estar nova em folha. Talvez com isso você comece a ter mais responsabilidade com os seus atos. - disse ele, dando seu ultimato. - Senhor Malfoy, você já está dispensado. 

— Sim, professor Snape.

— Direto para seu dormitório, ouviu?

Enquanto se levantava e caminhava em direção a porta, Draco me encarava com os olhos mais frios e maldosos que eu já tivera o desgosto de ver. Ele estava perfeitamente satisfeito de ter me denunciado daquele jeito. Eu só me perguntava o motivo dele adorar me fazer tão infeliz como fazia.

— E agora, a senhorita pode começar. - disse meu pai. - Espero que não se atrase para suas aulas. Mais uma reclamação de professor e você volta para casa, ouviu bem?

— Pai... Eu... Queria te contar uma coisa...

— Menos conversa, mais arrumação! Boa noite...

E então, ele saiu. Eu estava me sentindo completamente destruída. A partir daquele momento eu não poderia mais falar com Harry, meu único amigo. E eu também teria que lidar com Draco bisbilhotando cada um dos meus passos e contando tudo o que eu fazia de "errado" na escola. Isso tudo sem contar que ele sequer escutou o que eu tinha para falar de Pansy e as outras.

Eu realmente estava sozinha. Sozinha e muito infeliz.

Prometidos - Draco Malfoy Fanfic [REWRITED]Onde histórias criam vida. Descubra agora