31 ❧ O Relatório

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𝐂𝐡𝐚𝐫𝐥𝐨𝐭𝐭𝐞

Assim que voltei para a comunal, me deparei com Draco sentado na mesa repleta de livros, encarando uma folha com a maior concentração possível. Talvez ele realmente tenha acreditado que Blaise teria minhas anotações da aula. Eu dei uma leve risada, e ele reparou na minha presença. 

— O que é que você está achando engraçado?

— Estou rindo de você, que deixou o trabalho da Minerva para fazer só agora, durante o Natal! Seu burro.

— Ah, é mesmo? Se eu fosse você não riria... 

— Como assim? O que é que você vai fazer? Vai me bater, Malfoy?! - eu ri novamente, agora com um leve tom de deboche. 

— Eu não vou fazer nada. - ele sorriu malignamente. - Porque eu já fiz!

Então, ele ergueu o tal papel que estava encarando há alguns segundos atrás. Mesmo distante, eu consegui reconhecer a letra: era o meu relatório da aula de transfiguração. 

— Você não fez isso... - eu falei.

— Fiz, sim... E assim que eu rasgar esse papelzinho e assinar o meu nome no meu pergaminho, esse pequeno relatório será oficialmente meu! É claro que a Minerva não vai saber disso.

— Você não se atreveria!

— Tem certeza?! - ele apanhou a varinha em cima da mesa. - E se por acaso eu tropeçar nessa varinha e sem querer lançar um incendio nele?

Eu dei um passo na direção dele, e Draco fez um movimento ameaçando colocar fogo no papel. Hesitei, imaginando que ele provavelmente teria sim coragem de o fazer.

— Você é um verme... - rangi meus dentes de raiva. 

— O que foi? - ele riu. - Desistiu?!

— Mas não mesmo!

Corri na direção de Draco, que logo tratou de levantar a mão que segurava meu relatório e o afastar o máximo possível de mim. Percebendo que eu jamais conseguiria alcançá-lo, pisei em seu pé, e sentindo a dor ele se contorceu. O papel caiu no chão, muito perto de mim. Eu o recolhi depressa, e fui diretamente para a mesa, rasgando a cópia que ele havia feito em mil pedaços.

— Sua... Sua... Agora este aí vai ser o meu! 

Draco disparou na minha direção, furioso com o que eu havia feito, tentando a todo custo arrancar o papel que ainda estava inteiro das minhas mãos. Eu lutava para me desvencilhar dele, e ele se esforçava para me vencer.

— ME... DA... ISSO... - ele diz, pulando para a alcançar.

— NEM PENSAR! - eu gritei.

Trapaceiro como sempre - tudo bem que eu não estava muito distante disso -, Draco colocou seu pé atrás do meu, para me fazer tropeçar. E antes que eu pudesse me dar conta, meu corpo pendeu para trás. E, como um efeito dominó, Draco também se desequilibrou.

Cai de costas, sendo logo esmagada pelo corpo de Malfoy. E como se nada tivesse acontecido, ele se arrastou para chegar até as minhas mãos, se empenhando para conseguir o meu relatório de um jeito ou de outro. E, finalmente, ele havia conseguido.

— Eu ganhei! - ele comemora.

Mas nossos rostos estavam muito próximos, e não demora para que ele também percebesse aquilo. Por algum motivo, ele pareceu confuso por alguns segundos, olhando dentro dos meus olhos tão profundamente como se conseguisse enxergar através de mim. Foi um momento muito estranho, e eu nunca havia passado por algo como aquilo e nem me sentido daquela forma. Eu sentia um desconforto terrível em meu estômago, e mal conseguia conter a respiração e o batimento acelerado do meu coração

Seus olhos azuis, que agora tão de perto, pareciam dois grandes oceanos, permaneciam me encarando. Eles não pareciam tão cinzentos daquela distância e daquele jeito. Parecia uma eternidade, tudo isso dentro de segundos.

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𝐃𝐫𝐚𝐜𝐨

Eu não conseguiria mensurar o quanto aquele pequeno momento foi estranho para mim. Nós estávamos tão próximos um do outro, e por algum motivo não era algo repulsivo. Era algo terrivelmente interessante. Alguma coisa dentro de mim parecia me prender de maneira profunda naqueles olhos negros como um véu misterioso, enquanto eu tentava sem sucesso algum descobrir o que se passava na cabeça dela.

Era um esforço idiota - afinal meus próprios pensamentos estavam uma bagunça. Não sabia se tentava entender o que eu estava sentindo, ou se tentava acalmar o meu coração que parecia querer pular para fora do meu peito, ou se tentava controlar meu fôlego. 

Tudo isso sem conseguir descolar os meus olhos dos dela. Com toda certeza ela devia estar me achando um completo idiota, mas eu não podia me controlar. Eu não sabia o que fazer. Não sabia o que pensar. Eu só sentia aquelas cócegas na barriga tomando cada vez mais força.

Até que um barulho de passos entrando na sala comunal me acordou de meus pensamentos. Me levantei num piscar de olhos e Charlotte se ergueu do chão logo em seguida. Por sorte nós nos afastamos a tempo, pois quem se aproximava era o professor Snape, que nos encarou da forma mais suspeita possível. 

— O que estão aprontando? - ele fala, severo.

— Nada... - eu disse, sentindo uma leve coceira na orelha.

— Espero que não estejam brigando. - ele comentou. - Não quero ter que passar minhas noites de feriado ocupado castigando vocês dois. Principalmente você, mocinha.

— Não, pai... Eu só estava ajudando Draco com a matéria de transfiguração... 

Os olhos de Snape paralisaram sobre a filha, que congelou imediatamente. 

— Como assim ajudando? 

— Ora, o senhor disse que deveríamos nos entender, não é? - ela continuou. - Pois bem, ele estava com dificuldade com o relatório, não é Draco?!

Ela me lançou um olhar de reprimenda, e eu fiz que sim com a cabeça, tentando não encarar Snape.

— Sim, senhor...

— Ótimo... Menos dor de cabeça para mim! - ele disse, por fim. - Ainda assim está muito tarde. Vocês devem ir para seus dormitórios imediatamente.

Sem pensar mais nada, eu e ela o obedecemos. Enquanto caminhávamos para a escadaria, eu a encarei uma última vez. Ela sequer olhou na minha direção, provavelmente porque estava se sentindo tão embaraçada com a situação anterior quanto eu estava.

Entrei em meu dormitório e me joguei na cama, me sentindo profundamente abalado. Sentia que meu coração não se acalmaria mais. Fiquei me perguntando se haveria alguma possibilidade de eu conseguir dormir depois daquilo tudo. Não era para ter acontecido, definitivamente não era! 

Um sorriso ladino se abriu no meu rosto de repente. Senti que meu rosto estava totalmente vermelho, e por alguma razão eu me sentia feliz. Muito, muito feliz. E ao mesmo tempo irritado com a audácia dela por ter destruído meu relatório - ainda que eu tivesse roubado dela. A culpa era do Blaise, que havia pego dela primeiro! Quando eu vi o papel em cima da sua estante, não pude evitar de pegar. Me facilitaria muito copiar tudo dela. 

Mesmo assim, a raiva era pequena. Pequena demais... Nem um pouco comparada a ansiedade que eu estava sentindo.

— Estou ficando maluco... - eu disse a mim mesmo.


Prometidos - Draco Malfoy Fanfic [REWRITED]Onde histórias criam vida. Descubra agora