Antes
A terapia até que foi bastante útil. Minha vida não mudou no decorrer de uma sessão ou duas, ou mesmo cinco, mas pouco a pouco comecei a entender coisas sobre mim que achei que nunca poderiam ser entendidas. E, embora eu ainda me sentisse principalmente insensível, também senti algo mais. Uma espécie de leveza. Como se o peso sobre meus ombros tivesse diminuído, de algum modo. Eu ainda estava cético sobre o progresso desse trabalho, mas estava disposto a tentar.
Consegui evitar Elena por mais de um mês depois que comecei a minha reabilitação. Me tornei muito bom em desculpas – negócios, viagens, obrigações familiares. Ela telefonou e apareceu no meu loft, mas consegui me esquivar.
Finalmente, tive que encarar a mulher. Dr. Flynn insistiu nisso. Disse que, enquanto eu mantivesse a opção de jogo "aberta", então eu nunca conseguiria me livrar disso completamente. Ele estava certo, é claro. O único problema era que eu não tinha certeza se queria sair completamente do jogo. Na verdade, tinha certeza de que não queria.
Foi em uma sessão no meu escritório que finalmente admiti isso.
– Não é que eu sinta falta de jogar. Bem, não só que eu sinta falta de jogar.
Estranhamente, não senti tanta falta quanto eu havia imaginado. Havia outras coisas, descobriu-se, que preenchiam o meu tempo com a mesma facilidade. Eu gostava das artes – a sinfônica, o balé, a ópera. Tanto é assim que arranjei uma série de bolsas de estudo e contribuições de caridade que beneficiaram esses interesses recém-descobertos. E o trabalho era mais do que um substituto adequado. As estratégias manipuladoras que eu tinha aperfeiçoado provaram ser úteis na sala de reuniões. Isso ainda me dava a mesma emoção que eu encontrava em meus experimentos.
– Então, o que o impede de abrir mão de uma vez? – A abordagem do dr. Flynn sempre foi gentil e compreensiva. Nunca agressiva ou sentenciosa.
– Não sei. – Eu sabia. Dizer é que era difícil. – É só que... quem sou eu sem o jogo?
Era uma crise de identidade boba, realmente. Todo mundo sabia quem era Christian Grey.
Eu poderia fazer uma busca na internet e encontrar várias biografias que resumiam a minha vida de forma mais sucinta do que eu jamais poderia esperar. Eu esperava que o dr. Flynn me desse a sua própria lista de minhas realizações e curriculum vitae.
Mas ele não o fez. Em vez disso, disse:
– Isso é o que nós temos que descobrir, Christian. Felizmente, você é jovem e saudável.
Você tem bastante tempo para descobrir isso.
Havia algo em suas palavras que me atraíram. Ele expressou isso como se fosse um desafio – de propósito, provavelmente – e isso foi o suficiente para chamar minha atenção.
Eu nunca me afastei de um desafio. E que belo substituto, super adequado, de autodescoberta, para os meus experimentos do passado. Ao invés de estudar os efeitos de certas situações em outros, eu poderia estudar os efeitos sobre mim mesmo.
– Mas – havia sempre um mas com dr. Flynn – você nunca será capaz de explorar plenamente o futuro Christian se ainda estiver firmemente ancorado ao passado.
Tudo me mantinha ancorado ao passado. Minha mãe, que constantemente lembrava a gravidez de Elena. Meu pai, a quem não podia olhar sem me lembrar de sua traição à sua esposa, a mim. Minha irmã, que sempre olhava para mim com olhos inocentes, ainda que, como se viu, sabia mais do que ninguém sobre quem eu realmente era.
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Fixado Forever {Completa}
Fanfiction"Eu posso facilmente dividir minha vida em duas partes: antes e depois dela."