Capítulo 97

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Anastasia

No dia seguinte não me sentia mais forte, porém, mais decidida. Planejar o futuro continuava parecendo para mim algo esmagador, mas eu poderia enfrentar o presente. Passos de bebê. Era o que eu tinha aprendido durante a terapia. E era algo que eu sabia fazer.

Peguei o lápis e papel e detalhei cada hora. Ver tudo por escrito me ajudaria, e desse modo não pensaria que as coisas seriam piores do que realmente eram. Comecei pela parte inferior da página, pois eu já tinha decidido ir à boate.

"Das oito da noite até às três da manhã, trabalho", escrevi. Antes disso iria a uma sessão de grupo da terapia. Procurei na internet e encontrei uma às seis da tarde. Perfeito. Anotei na linha acima do horário de trabalho. Na parte superior da página escrevi:

"Tomar café da manhã, tomar banho e me vestir." Depois: "Entrar às escondidas na cobertura e pegar alguma roupa." Até escrever este último item tinha sido difícil. Dizer que parecia intimidante e assustador era eufemismo. Aquela cobertura foi o lugar onde Christian e eu tínhamos começado, de verdade, a compartilhar nossa vida. Estaria cheio de lembranças dolorosas. Porém, repassar as lembranças e enfrentá-las – isso fazia parte da cura. Seguir a primeira linha de tarefas do dia foi mais fácil do que eu esperava. Consegui não vomitar o café da manhã. Encontrei uns shorts com cordão ajustável, na gaveta de Kate, que não caíam da cintura.

– Quer que eu vá com você? – ofereceu-se Kate, enquanto beliscava um bolo.

– Não. Eu tenho que ir sozinha. – Prendi o cabelo ainda úmido e fiz um rabo de cavalo. – Eu precisarei de você na próxima vez, quando eu for pegar todas as minhas coisas. Mas agora vou entrar correndo e preparar uma sacola que sirva para alguns dias. Vou me sentir bem quando puder colocar as minhas calcinhas outra vez. – Fiquei em pé e olhei para meus pés descalços. – Merda. Só tenho os sapatos de salto alto da festa.

– Eu lhe empresto alguns sapatos.

– Não calçamos o mesmo número.

Kate era muito mais alta do que eu e mais corpulenta. Se não fosse pelo cordão, aquele short já estaria caindo. Ela chutou para mim os chinelos que usava.

– Pode usar estes. Servem para vários tamanhos, é como tamanho único.

– Legal. – Deslizei os pés para dentro. Serviam. – Ótimo. E lá vou eu. Deseje-me sorte.

– Você não precisa de sorte. Você precisa disto. – Trouxe-me para perto dela e me deu um abraço. – Tem certeza de que ele não estará lá?

– Tenho.

Eu tinha telefonado para Ros para perguntar. Ela conversou com a secretária de Christian e depois me disse que ele estaria em reunião em seu escritório a tarde toda. Além disso, ele mesmo disse para Kate que não estava ficando na cobertura. Se fosse para acreditar de verdade, coisa que eu não iria fazer necessariamente, Christian não iria para a cobertura de forma nenhuma. Bem, possivelmente nem sequer teria voltado para lá desde que chegou de Los Angeles. Mas isso eu descobriria em breve. Como ainda era cedo, dei um tempo antes de ir para a cobertura. Apanhei o metrô em vez de táxi e não corri para o outro trem quando fiz a baldeação. Contudo, apesar de me esforçar em levar todo o tempo que pude, cheguei ao meu destino. As lembranças apareceram antes de entrar no edifício. Fiquei do lado de fora, observando o nome do prédio nas letras gravadas na pedra em cima da porta principal. The Bowery.

Em muitos aspectos, era como na primeira vez em que estive nesse lugar, quando me sentia nervosa e inquieta e não sabia o que me esperava ali dentro. Na época, meu estômago estava como se estivessem rodopiando milhares de borboletas. Agora, ele estava cheio de pedras. Embora nas duas ocasiões estivesse com um frio na barriga, havia uma clara diferença na gravidade. Uma sensação me levantava o ânimo. A outra, a de hoje, me afundava e me cravava à minha triste realidade.

Fixado Forever {Completa}Onde histórias criam vida. Descubra agora