O Silêncio do Uchiha

Escolha Errada

- Ai, eu não consigo mais!

Aquela garotinha estava tão cabisbaixa no suposto caminho de volta para o acolhimento que acabou tocando o coração mole da minha esposa. Ela se abaixou para contar o segredo à criança e não tive tempo de impedi-la.

- Nós vamos te levar para experimentar um cupcake antes de conhecer seus novos pais! Tcharam!

- Sakura!

Ela ignorou minha advertência, mais focada em alegrar a menininha.

- Era para ser uma surpresa, mas eu quero que você fique contente logo!

De um segundo para o outro, minha esposa alcançou seu objetivo e a resposta da garotinha foi um enorme sorriso infantil. Levantei a mão que estava livre e segurei no alto do nariz com o polegar e o indicador, bufei para o alto.
Eu deveria esperar que ela não conseguiria deixar essa menina desanimada.
Olhei para baixo e encontrei um par de olhos brilhantes me encarando com expectativa, então balancei a cabeça e tirei a responsabilidade de cima de mim.

- Não foi ideia minha. Sakura que quis fazer assim.

- Mentiroso...

Minha esposa cantarolou ao se levantar, disputando seu sorriso satisfeito com meu olhar cético. Ela deu uma piscadinha e me ganhou de vez.

- Sério mesmo? Obrigada!

Eu queria reclamar para que a criança não me agradecesse, só que ela já estava correndo e puxando meu dedo para que fossemos atrás da minha esposa, que nos guiou até uma confeitaria toda colorida e cheia de pessoas entrando e saindo. Eu nem sabia que isso existia em Konoha. A criança começou a pular de novo.
Eu fui adiante, torcendo para que ninguém dentro do estabelecimento ainda se incomodasse demais comigo ao ponto de deixá-la perceber.
Passar pelo batente das portas duplas me trouxe a sensação de ter escorregar em uma dimensão criada por um arco-íris, não sei se foi pelo fato de tudo ter um milhão de cores vivas, ou se foi o cheiro exagerado de açúcar que me intoxicou. De qualquer forma, eu estava completamente deslocado.
Olhei para o lado e percebi que aquilo parecia ser muita informação para Sakura também, mas a mesma sempre se acostumou rapidamente com lugares agitados. Ela virou a cabeça e me pegou observando-a, foi quando começou a sorrir e apontou para os lábios -mesmo que eu já estivesse bem atento nessa parte- para que eu entendesse o que ia sussurrar com leitura labial:

- Eu sabia que ela gostaria daqui.

E então apontou para baixo.
Céus! A menininha estava balançando meu dedo junto com a mão dela, vidrada em tudo ao seu redor e deixando cair completamente a fachada revoltada que apresentou na noite passada. Eu não me lembrava de alguma vez ter visto uma criança sendo tão... criança.
Sakura se abaixou de novo para conseguir um pouco de atenção.

- Aqui é muito bonito, não é?

- É lindo! E tem cupcakes. Vamos, vamos! Antes que todos acabem!

- Tem tantos que parece que nunca vai acabar.

Resmunguei comigo mesmo ao descobrir o que era um cupcake, desacreditando da variedade incontável que havia por detrás do balcão de vidro. Mas a garotinha me ouviu e mostrou a língua, se lembrando de ser irritante de repente.

- Nós vamos comer todos!

Franzi meu cenho.

- Coma você. Eu não quero tudo isso.

- Tá, eu como!

Ela nem se incomodou e saiu correndo para colar as mãos no vidro da vitrine. A risada de Sakura me alcançou em meio a todo aquele alvoroço, automaticamente me virei para olhá-la, e a mesma estava se aproximando de mim.

- Não brigue com uma criança.

- Ela fica tentando me perturbar.

Minha esposa revirou os olhos e soltou um suspiro exasperado, o que não combinava nada com o sorriso que ela não conseguia esconder.