Contagem: Um... Sete... Doze Dias Sem Flores De Cerejeiras

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- Tsk...

Só tenho tempo de colocar a blusa de volta no corpo antes de Suigetsu abrir a porta do quarto.

- Sasuke, nós vamos comer agora. Você vem?

Assinto para ele, já andando até o mesmo para apressar sua retirada e evitar que veja as gases e curativos sobre a mesa. De repente ele bate a mão em minhas costas e preciso sufocar um gemido de dor.

- Tá com tanta fome assim?

- Hm. O Juugo vai comer também?

- Vai, mas não com a gente. Ele não vem aqui desde que quase atacou eu e Karin, é melhor assim. Vocês vão ir ver ele amanhã, né?

- Sim. Vamos ajudá-lo o quanto antes.

Enquanto andamos até o outro cômodo, sinto o olhar de Suigetsu em mim e sei que ele está querendo perguntar algo, mas não me dou o trabalho de dizer nada.

- Ah... Então você tá com pressa pra voltar?

Apenas dou de ombros assim que nos encontramos com Karin, que começou sua refeição antes de nós.

- Sasuke, tem algo no seu pescoço... A Karin te atacou?

- Hã?

Ela levanta um olhar irritado para Suigetsu, mas assim como eu, logo a mesma entende a o que ele se referiu.
Já não era pra todos os hematomas terem sumido de uma vez?

- Não sei do que está falando.

- Tá roxo aí, não é?

Ele olha para Karin, que nega com a cabeça e volta a comer como se não houvesse nada para ver aqui.

- Vão me ignorar? Sabem que isso só dá razão pra minha ideia, não é?

Sem comentários, ele bufa antes de voltar sua atenção pra comida.

- Tanto faz, vocês são estranhos...



Já está bem tarde quando tento alcançar o centro da ferida em minhas costas, mas é impossível fazer isso sem me machucar mais, mesmo me orientando pelo reflexo do espelho.

- Sasuke-kun?

A voz repentina me faz virar imediatamente, percebendo que não estou mais sozinho no quarto.

- Eu vim te ajudar.

- Não precisa.

- Não foi o que eu vi...

Karin varia o olhar entre a gase ensanguentada em minha mão e minha expressão descontente, então se aproxima quando dou consentimento, me virando de costas para a mesma.

- Ugh! Parece estar mais avermelhado... Espero que não tenha infeccionada.

- Não. Deve ser por causa do tapa.

- Tapa? Foi o Suigetsu? Eu vou matar aquele-

- Foi só um cumprimento. Ele não sabe disso, afinal.

Me arrisquei ao proteger Karin de um ataque de ninjas renegados no meio do caminho e como resultado duas kunais acertaram minhas costas, mas pedi que deixasse isso como um problema unicamente meu.

- Vai arder um pouco quando eu esterilizar... Quer segurar algo pra apertar quando doer?

- Não. Pode começar.

- Ah...

Ela abaixa a mão que propositalmente deixou descansando um pouco na mesa logo ao meu lado.
Prendo o maxilar quando sinto um jato de soro atingir a ferida, Karin não diz nada mais e apenas continua. Levanto um pouco meu olhar no espelho e fico enjoado ao olhar pra alguém como eu, precisando de cuidados porque se deixou ser aceitado por simples kunais nas mãos de inexperientes.
Isso é ridículo.

- Me desculpe, Sasuke-kun...

Olho para o reflexo de Karin, mas ela continua atenta aos seus movimentos, olhando para baixo atrás de mim.

- Se eu não estivesse tão distraída aquela hora, teria percebido que não estávamos sozinhos lá e então você não teria se machucado no meu lugar. Me desculpe, eu só...

- Não quero que se desculpe.

- Mas, Sasuke-kun-

- Esquece. Você terminou?

- ...Ainda não.

Ela segura no meu ombro ao se inclinar atrás de mim para pegar as gases novas. O contato inesperado não é bem-vindo e o incômodo aumenta quando sinto seus dedos me pressionando, mas felizmente sua mão deixa meu ombro antes que eu precise dizer algo.
Me pergunto se Karin percebeu que não gosto de toques sem concentimento...

- Eu posso suturar, se quiser. Tenho o material esterilizado aqui, mas nenhuma anestesia...

- Faça.

Concordo rapidamente, antes que ela suponha que usemos seu método particular.

Ficamos em silêncio enquanto Karin faz os pontos em minhas costas, enquanto isso me pergunto se essa ferida vai me atrapalhar de alguma forma no caminho de volta à Konoha. Nunca foi fácil chegar lá sozinho.

- Sasuke-kun?

Volto meu olhar para o reflexo de Karin atrás de mim, nesse momento ela também me encara de volta.

- Nós dois sabemos que tem um jeito de curar isso agora mesmo, então... Você não vai me morder?

Ela ainda pergunta?

- Não.

- Por que?

- Não é nada muito grave.

- Mas vai ser se você contrair uma infecção, vai começar a ter febre e-

- Karin, não.

- Mas... por que não?

- É óbvio. Você viu como Sakura ficou quando soube que já te mordi antes.

Eu evitaria qualquer coisa que a deixasse chateada de novo.

- Mas vai ser só uma mordida qualquer dessa vez, só pra te curar, Sasuke-kun.

- E das outras vezes não foi isso também?

Karin abaixa o olhar de repente e seu silêncio deixa espaço para deduções diretas de que talvez ela tenha gostado das vezes que precisei mordê-la.
Não. Foram mordidas com um fundamento óbvio, nós dois sabemos bem disso.

- Claro.

Ela enfim me responde e de repente sinto a agulha atravessando minha pele de novo, dessa vez me arrepio antes que possa absorver a dor, mas isso não atrapalha Karin.

- Terminei o primeiro corte... Estava péssimo. O segundo vai ser mais rápido, você cuidou?

- Sim, antes de nós comermos.

A vejo se agachando atrás de mim e me afasto na mesma hora, me virando para olhá-la.

- O que vai fazer?

Ela me encara como se eu estivesse exagerando, então balança a cabeça negativamente.

- Não dá pra suturar inclinada atrás de você, vou ter mais estabilidade se me agachar.

Karin levanta uma sobrancelha para mim.

- O que foi? Não vou enfiar uma terceira kunai em você, Sasuke-kun. Tá tudo bem...

Retorno para perto dela um pouco hesitante, segurando um suspiro ao ver que sua cabeça está na altura da minha bunda.
Por que isso me incomoda? Ela só está atenta aos meus machucados.
Felizmente paro de me importar após os primeiros dois minutos, então volto a pensar na rota que vou traçar ao retornar pra Vila.
Para os braços da minha garota.
Bastou Karin se apoiar com uma mão na minha cintura para a sensação de desconforto retornar. Ela parecia concentrada demais, então não quis implicar com isso. Mas por fim não fui capaz de conter...

- Me solta.

Acho que meu tom de voz saiu um pouco mais rígido do que eu esperava.

- Hm?

Ela olha para o meu reflexo no espelho, sem entender o que eu disse.

- Não... Não segure em mim, Karin.

A mesma parece confusa por um segundo, mas puxa a mão para longe da minha pele quando percebe onde estava segurando.

- M-Me desculpe. Foi sem querer, Sasuke-kun.

Ela diz já abaixando o olhar.
Depois disso tenho certeza que a frequência da sutura aumentou e minha pele foi furada mais rapidamente.
Karin está envergonhada? Por que está apressando? Assim dói mais, mas não penso em interrompê-la de novo.

- Me passa os curativos, os maiores, por favor.

Estico o braço e os alcanço na mesa, então os entrego a ela.

- Terminou?

- U-Uhum.

Só mais alguns minutos e então Karin se levanta e sai de trás de mim, joga fora os gases usados e lava as mãos no banheiro, falando de lá mesmo. Aproveito o tempo para organizar as coisas que ficaram sobre a mesa.

- Não molhe nas próximas 24 horas e não faça nenhum movimento brusco para evitar de abrir os pontos.

Ela sai do banheiro e olha para mim.

- Vamos encontrar um jeito de ajudar o Juugo sem que ele abra o resto das suas costas.

Karin sorri, mas percebo que foi forçado. Não me importo, realmente. Mas fica ainda mais estranho quando ela pega minha camisa e estende para mim.

- Coloca isso.

- Não vou abrir os pontos se-

- Não é pelos pontos. É... por mim.

Duas palavras e então já estamos em uma péssima situação. Há um ano atrás eu não daria a mínima para as vezes em que Karin sinceramente demonstrava estar se sentindo atraída, mas agora que tenho o sentimento de realmente pertencer a alguém importante pra mim, vê-la agir assim me irrita. E ela percebe isso...

- Me desculpe, Sasuke-kun.

Por que todo mundo se desculpa o tempo todo?
Balanço a cabeça negativamente e vou andando até a porta do quarto, então a abro, meu silêncio convida Karin a sair. Ela compreende e logo estou sozinho no cômodo.
A última coisa que quero é dar satisfação sobre meu relacionamento pra Karin, mas se isso for fazer ela parar de uma vez, eu vou esclarecer o máximo que puder até que se distancie.
Fecho a porta e coloco a camisa no corpo, me deito de bruços na cama e aguardo até a dor se amenizar o suficiente para que eu consiga dormir.



O Silêncio do UchihaOnde histórias criam vida. Descubra agora