Toda a ajuda de Karin

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- Karin acha que você é uma garota, e agora a Sakura também está acreditando nisso, então eu vou assumir os adjetivos femininos daqui pra frente. Mas se estivermos todos errados, não importa, porque você não se importa, e isso não importa. Você é só um feto aí. Aliás, você pode ficar por mais um tempo, eu sei que está segura.

Sasuke-kun suspirou mais alto do que costumava fazer quando sabia que tinha alguém vendo.

- Sakura está melhorando, então esperamos que você também esteja crescendo forte. Será que pode reconhecer a minha voz a esse ponto?

Sentado ao meu lado na cama, ele encostou a cabeça na minha barriga.

- Ah, eu queria poder comer uma salada fresca e crua amanhã. Estou enjoado dessas comidas instantâneas... Será que você vai gostar de cupcakes? Eu e Sakura conhecemos uma garotinha uma vez, e ela disse que isso tinha gosto de unicórnios, seja lá o que for.

Ele mudou o assunto por um instante, expressando o emaranhado de pensamentos que sua cabeça era. Quando estava sendo assistido, ele só expressava verbalmente um por cento de tudo aquilo.

- Escuta: eu não vou estar por perto quando você crescer. Tem coisas que eu preciso fazer para que você, sua mãe, e as pessoas que ela ama fiquem seguras e vivam em paz em Konoha. Seria demais pedir que não duvide dos meus sentimentos, a distância e a minha ausência vão te magoar, mas você estará viva e com a sua mãe, então eu estarei feliz por vocês. Distante. Mas feliz.

Sasuke-kun falava com nossa filha, e eu dormi antes de conseguir ouvi-lo até o fim. Ele fazia aquilo todas as noites desde que chegamos aqui. Não fazia quando sabia que eu estava assistindo, então esperava eu dormir, e eu fingia adormecer mais cedo para poder ouvir o que ele tinha a dizer.

O meu marido era sensível e profundo com ela. Ele simulava conversas que, em sua maioria, eu não conseguia entender muito bem. Ele mudava o assunto de repente umas cinquenta vezes todas as noites, sem contexto algum. Muitas vezes se justificava pelas tomadas de decisões do futuro, como se estivesse esperando desesperadamente para ser desculpado. Ele falava de mim, do Naruto e do Kakashi sensei. Às vezes se remetia ao passado. Mas nunca, nunca mesmo, falava de si para ela.

Sasuke-kun nunca contou o que gostava, o que não gostava, suas fraquezas e seus pontos fortes, ele nunca fez uma descrição de sua própria aparência ou disse o que estava sentindo.

E eu não sabia por quê.

No fim das contas, me deixava feliz saber que ele estava se conectando com nossa filha antes mesmo de ela nascer, mesmo que escondesse isso de mim. Eu entendia que podia parecer algo muito sentimental para a sua racionalidade fria conseguir explicar para alguém, inclusive para si mesmo.

Estar ciente disso fazia do momento ainda mais fofo e muito amável, tornava as minhas noites as mais lindas. Eu dormia ouvindo a voz dele e sentindo nosso pequeno fruto se desenvolvendo enquanto ouvia o papai.

Infelizmente, as coisas ficaram ainda mais complicadas no sétimo mês. Karin foi sincera a todo momento e disse o que eu já esperava: posso entrar em trabalho de parto a qualquer momento.

Sasuke-kun demorou cinco segundos para fazer um cálculo mental exato com sua contagem diária e deixar que a matemática básica dissesse a ele que aquilo significava que nossa filha nasceria prematura. Ele estava aguentando a barra diante das complicações com a minha saúde, mas com o bebê... Foi um baque e tanto.

A boca dele abriu e a cor sumiu completamente. Pensei que fosse desmaiar ali mesmo, então precisei acalmá-lo, citando dados clínicos que apontavam que a taxa de sobrevivência a esse ponto era de 95%, e 70% sem quaisquer problemas graves. Eu estava otimista, na verdade. Tinha que ser. Cheguei até aqui, e não podia imaginar perdê-la agora. E para a nossa sorte, Karin estava mais que determinada a fazer com que nossa garotinha pudesse viver. Ela estava sendo o pilar de todos nós.

O Silêncio do UchihaOnde histórias criam vida. Descubra agora