Os... brinquedinhos

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Eu não sei direito, mas acho que acabei de acordar. Tão sonolento que não me apresso nem mesmo em me mexer, apenas respiro fundo e deixo meus sentidos irem despertando devagar.
Percebo o som da chuva depois, em seguida, trovões também.
Abro os olhos para encontrar o quarto parcialmente cinza e anônimo, assim como o céu se apresenta do lado de fora dos vidros, totalmente nublado. A cama está vazia ao meu lado.
Escutei a porta do banheiro e virei a cabeça tão rápido que meu pescoço doeu com o movimento abrupto, mas é só a minha esposa...
Só a minha esposa vindo até mim.

- Sakura...

- Não precisa levantar agora. Ainda é muito cedo.


Ela se senta na beira da cama e toca meu rosto, apesar de sua pele estar fria, não me incomodo. Observo que está vestida, já com a bandana em volta de seus cabelos rosa e o jaleco branco dobrado em um braço.
Ela vai sair...
Já entendi que preciso de mais algumas horas de sono, mas não quero ficar sozinho hoje -mesmo já tendo ocupado todo o tempo dela desde que voltou da viagem com suas amigas.
Assumo meu egoísmo quando levanto uma mão e seguro o pulso dela, um pedido silencioso para que fique mais um pouco.
Sakura entende em um instante, mas...

- Desculpe, Sasuke-kun. Tem pessoas precisando de mim, já faz muito tempo desde a última vez que assumi meu posto no hospital de Konoha.


E é por saber bem disso que eu não insisto muito mais. Eu só... fico observando-a por mais um tempo.

- Você não vai sair de casa hoje, não é? Está chovendo lá fora, acho que seria ótimo se tirasse o dia para descansar. O mundo vai sobreviver sem você por mais um dia.

Ela diz com um sorrisinho, acho que está tentando uma conversa humorada. Mas não quero responder nada agora.
Me sento para abraçar Sakura...
Não, nem chega a ser isso.
É ela quem me abraça. Tudo o que faço é deitar a cabeça em seu ombro e aproveitar um pouco mais, sem nem tentar pensar ou dizer algo. Isso exige uma energia que não tenho agora.
Estou tão sonolento que minhas pálpebras pesam e quase durmo nos braços da minha esposa, mas sei que tenho que deixá-la ir...
Respirei fundo e me mexi um pouco, ela entendeu e me soltou. Então voltei a deitar na cama e deixei quando Sakura puxou o cobertor para cima do meu corpo.

- Eu acho que só volto mais tarde, mas não deixe de almoçar e jantar. Tudo bem?

Suas palavras parecem tão distantes...
A última sensação da qual tive percepção foi um aperto no peito depois de ganhar um beijo na testa, então minha esposa virou um borrão e tudo ficou escuro de novo. Me entreguei a todo o cansaço que vim reprimindo.

Mesmo com o modo inerte do meu corpo, minha mente estava longe da ataraxia quando acordei.
Eu vi meu irmão em meus sonhos hoje.
Não foi um pesadelo. Não me lembro da última vez que acessei tantas das nossas poucas boas memórias juntos, então meu cérebro fez isso inconscientemente por mim e foi... muito inesperado.
Ao mesmo tempo que não estava mais cansado, também não consegui sair da cama.
Nem precisei pensar para saber que hoje não vou me preocupar em comer ou fazer coisas que me distraiam da tristeza. Venho fazendo isso há um bom tempo, por Sakura, por Naruto, por mim mesmo. Acho que tenho o direito de tirar um dia para só... me permitir sentir triste.
Posso me lembrar tão vividamente dos olhos de Itachi.
Acompanhando o barulho da chuva, a voz dele ficou soando na minha cabeça durante cada segundo do resto da manhã.
Às vezes ainda sinto-me tão pequeno pra tudo isso...

Alguém tocou a campainha de casa duas vezes. Eu não me esforcei nem um pouco para levantar e ir atender.
Não quis saber quem era também, e apesar de lembrar de Sakura dizendo que chegaria tarde, eu torci para que fosse ela toda vez. Eu a quero comigo.
Por que estou me sentindo tão solitário hoje?
Virei de lado na cama e apertei o cobertor contra o corpo após escutar:

O Silêncio do UchihaOnde histórias criam vida. Descubra agora