O grande dia se aproxima

454 51 4
                                    

Três meses se passaram. E eu estava um lixo.
Vinha acontecendo tudo o que eu pretendia evitar, tudo o que Sakura disse que não ia acontecer, e tudo de uma vez só.
Partir sem mal conseguir ter a chance de me desculpar com Aiko e sua família prometia um gosto horrível na minha alma por um bom tempo. Sakura não estava mais em condições de ajudar os outros, já que era ela quem mais precisava de ajuda agora. No final, eu senti como se tivesse causado sérios problemas para a família que mais me acolheu e depois abandonado eles, junto com a forte determinação de uma criança e o desespero de um pai quase em estado vegetativo.
Eu estaria mentindo se dissesse que foi difícil escolher entre ficar e ajudar a família deles, ou ir embora e procurar ajudar a minha -embora não houvesse uma variedade de alternativas a serem consideradas.
O caminho até o País da Luz não foi como nenhum de nós dois esperava. Sakura passava mal todos os dias, sendo que era pior nas manhãs. Eu a estava dando todo apoio durante nossas caminhadas vagarosas, e só o peso do meu corpo já exigia um cuidado maior com a minha costela, um corpo e meio… Não foi a viagem mais fácil.
Fomos atacados nas divisas dos países, como já era esperado, e eu cuidei de tudo antes que Sakura sequer pensasse em se envolver. E quando finalmente nos encontramos com Karin, eu queria gritar de tanta frustração e implorar por sua ajuda, mas sabia que não precisava fazer nada disso.
Karin se prontificou assim que viu Sakura. O procedimento de análise de exames e de estabilização clínica levou duas semanas, mas minha esposa estava demonstrando se sentir melhor com cada nova agulha ligada a ela. Para diminuir os vômitos, estava sendo alimentada através da nutrição parenteral.
Eu imaginava como devia ser uma droga para alguém passar a gestação inteira sem poder realizar os desejos do apetite, então eu e Karin nos separávamos da minha esposa durante as refeições para comer fora do quarto.
Todos os dias, no café da manhã, no almoço e no jantar, nós preparávamos alguma coisa instantânea -normalmente algo que fosse no microondas- e nos sentávamos no chão da suposta cozinha do esconderijo.

- Hiperêmese gravídica.

Karin disse o diagnóstico da minha esposa enquanto me entregava um potinho de talharim instantâneo. Ela me explicou tudo de forma bastante neutra, passando a falsa sensação de que não era algo tão grave.

- Os enjoos são recorrentes e ela está perdendo peso, o que não é bom para nenhuma gestante, mas a nutrição parenteral pode recuperar isso. Só precisamos ficar de olho nos sinais de desidratação e nos números dela.

- Números?

- Anormalidades eletrolíticas: o desequilíbrio do sódio, potássio e cálcio.

Eu ouvi pacientemente. Parti os hashis com ajuda dos meus dentes e os ajeitei nos dedos, então comecei a comer aquela cópia de ramen com gosto de nada.

- Não é um caso de vida ou morte, Sasuke-kun. Quer dizer, é, mas normalmente termina em vida, então não precisa ficar preocupado demais, ok?

Eu assenti, com a mente já um tanto distante.
Não era o real diagnóstico que me preocupava mais, era a situação em geral. Antes, a única coisa que me fez ceder às vontades selvagens da minha esposa de sair de Konoha enquanto grávida foi que, nos casos mais extremos, ela poderia contar com seu Byakugou. Mas a cada dia que se passava, maior era sua restrição quanto à essa técnica.
À medida que a gestação avançava, mais perigoso se tornava ter que depender disso. Pois o Byakugou garantia uma cura instantânea e generalizada, ou seja, o corpo dela não iria permitir qualquer tipo de mudança causada pelo procedimento do parto que pudesse machucá-la -o que era normal que houvesse-, e Sakura e o bebê sofreriam até que o chakra dela se esgotasse, e ambos morreriam. Sendo assim, o Byakugou, a arma de cura suprema dela, estava fora de cogitação.
E o que eu vou poder fazer se o pior acontecer?

- Havia algo aqui na última vez que te vi.

Karin comentou, apontando para a manga caída da minha blusa. Todas as vezes que eu não estava com meus olhos colados na Sakura, Karin tentava seu máximo para me distrair. E eu me sentia ainda pior por não demonstrar alívio nenhum.

O Silêncio do UchihaOnde histórias criam vida. Descubra agora