O Silêncio do Uchiha

Legítima Defesa

Era estranho como algumas coisas mudavam, e o meu marido era uma prova viva.

Ele tinha acabado de se abrir para mim quando fomos interrompidos e, como estava aqui à trabalho, tive que deixá-lo. Mas fiquei de olho no mesmo, procurando-o de hora em hora enquanto conversava com vários representantes da medicina ninja. Ele estava aos arredores com Sarada no colo, parecendo um rei com sua pequena princesa. O Sasuke-kun de antes teria ido embora no momento em que dei as costas para ele naquela sala.

- Uma bebida?

Sato senpai apareceu para me oferecer. A parte mais maçante daquela noite já tinha passado, então agora eu podia relaxar um pouquinho. Peguei a taça e molhei a boca.

Os olhos do meu marido já haviam se focado em nós dois, como se ele pressentisse uma ameaça. Eu dei uma piscadela para ele, a fim de fazer com que relaxasse.

Sato senpai era inofensivo para mim. Ele era só um médico, tinha mãos delicadas para realizar cirurgias e procedimentos cuidadosos. Sua função era curar as pessoas, e não machucá-las. Ainda assim, Sasuke-kun não relaxava com ele aqui.

- Você está fazendo algo realmente grande, Sakura.

- Nossa, é uma honra ouvir isso de um dos melhores médicos da nossa era.

- Você fala como se também não fosse uma.

- Ah, é verdade. É que eu ainda tenho tanto a aprender que me esqueço disso.

Ele soltou um riso encantador, do tipo que havia sido muito bem ensaiado para conquistar meninas indefesas e carentes. Me causou um enjoo, que tentei encobrir com mais alguns goles da bebida.

- Você está mesmo casada agora?

- Estou. Nós temos uma bela filha também.

- Que coisa...

- Maravilhosa, eu sei.

- Eu ia dizer inconveniente, na verdade.

Franzi minhas sobrancelhas, surpresa com a ousadia do que Sato havia acabado de dizer. Ele continuou com aquele sorriso bobo, como se tivesse feito alguma boa jogada.

- Para de tentar flertar comigo, Sato senpai.

Quando percebi, eu já tinha falado.

- Quer dizer, eu estava ignorando até agora, mas é que está ficando mesmo muito estranho. Eu estou ficando com vergonha por você. Será que poderia só... não fazer isso?

Antes que o meu marido corresse para cá e o atacasse com os dentes. Pela primeira vez ele ficou constrangido.

Finalmente!

Pensei que vê-lo vacilar me faria sentir mais confiante, mas na verdade aquele enjoo se intensificou na base do meu estômago.

- Nossa... Você foi direta agora.

- Não sei por que ainda tenta, sabe que temos uma política bem ética para seguir. E além disso, sou casada, como você já sabe muito bem.

Bebi o resto do champanhe. Quis apontar para o meu marido e deixar o olhar dele intimidar Sato senpai mais uma vez, mas meu marido sumiu do meu campo de visão.

Uma dor de cabeça latejante se juntou ao meu enjoo, me deixando de repente muito perdida.

- Ai...

- Tudo bem com você, Sakura?

- Acho que preciso de um ar.

- Eu vou te levar para fora.

Olhei ao redor uma última vez, mas não encontrei minha família, então segui para fora com Sato senpai antes que eu acabasse vomitando ou desmaiando no meio do evento. Foi um mal-estar súbito.