Um Breve Momento

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Já fazia quase cinco dias que eu mal via ou falava com meu marido.
Nós tínhamos tido uma conversa na manhã em que acordei com a cabeça girando pelo efeito resquício do álcool, eu tinha passado dos meus limites porque quis comemorar a chegada de Tsunade-sama. Foi ótimo na hora, mas o dia seguinte foi como um monte de curvas radicais demais pro meu cérebro acompanhar.
Meu marido tinha me entregado um copo de água e, de um jeito muito fofo, pediu que eu cuidasse de mim mesma. Mas preferi escutar o que tinha para me dizer primeiro.
Sasuke-kun começou leve, me contando de uma pequena discussão nossa da qual eu nem me lembrava, e mesmo assim quis ficar brava com ele pelo motivo do nosso desentendimento, só que ele pediu desculpas antes. Eu não duvidei de sua honestidade quando disse que às vezes esquecia que pessoas têm umas às outras e as consideram igualmente. E estava certo, ao menos ele entendia. Era isso mesmo.
Eu o amava mais que tudo, mas não abriria mão das outras pessoas em minha vida. Me deixava triste saber que na vida dele havia somente a mim, e Naruto dentro dos parâmetros estranhos com o qual eles se relacionam.
Depois disso é que o assunto foi me desagradando, entretando, eu não devia dizer nada que fosse atrapalhá-lo.
Sasuke-kun me explicou vagamente sobre a conversa que teve com Kakashi, sobre o seu nome ter retomado a liderança nos bens do Clã Uchiha, o que já era tudo legalmente dele. E agora tinha muita coisa que precisava resolver. Eu fiz um esforço um pouco maior pra acompanhar quando me contou que os representantes do País do Fogo estavam tentando entrar em contato com o Hokage, a fim de exigir uma conferência com meu marido; parecia uma situação surreal.
Carregar um Clã inteiro nas costas sozinho não deve ser fácil, foi o que pensei na hora. E, por mais que eu quisesse ajudá-lo, isso seria um crime, eu não tinha permissão e nem direito de me meter com essas questões.
Talvez pudesse se eu fosse oficialmente uma Uchiha, mas não era, e bem que meu marido me lembrou que precisávamos resolver isso...
Enfim, Sasuke-kun tinha que tomar conta de toda a burocracia. E ele nunca se meteu com essas coisas -eu sabia que o entediava, mas me contou da ajuda que Kakashi iria lhe prestar, juntamente com várias outras pessoas com disposição e experiência para transmitir o conhecimento de que ele precisava.
Eu vi meu marido dar duro nos últimos quatro dias, assim como a mim.
Sasuke-kun levantava antes de mim e ia pra cama depois, se despedia com um beijo breve na minha cabeça e seguia seu caminho para o Prédio do Hokage, onde ficava o dia inteiro, e quando Kakashi o expulsava de lá para que descansasse, Sasuke-kun trazia uma papelada enorme consigo para casa e continuava trabalhando na organização daquilo tudo.
No começo, ele ocupava a mesa da sala de jantar, mas houve uma noite em que cheguei mais cedo em casa -dispensei o jantar com Tsunade-sama, pensando que poderia jantar com meu marido, e nem sequer havia onde me sentar. Ele se desculpou, recolheu os papéis e levou consigo para o segundo andar. Começou a usar um dos cômodos vazios e, quando a porta estava fechada, eu já podia saber que iria terminar meu dia sem vê-lo.
Eu sabia que estava dormindo pouco, pois ele me abraçava quando se deitava na nossa cama tarde da noite, e sua ausência me fazia sentir frio quando ele levantava antes do sol nascer. A única coisa boa disso, imagino eu, é que o cansaço estava sendo suficiente para que ele nem tivesse tempo para seus pesadelos, já que não houve um sequer nas últimas noites. Também não sabia se estava comendo ou com quem andava falando.
Realmente não trocamos mais de dez palavras de cumprimentos e despedidas extremamente rápidas nos últimos quatro dias.
O novo cargo estava tomando muito de mim também, Tsunade-sama continuava exigente como sempre, e ficou ainda mais ao saber que fui promovida. Ela diz que tenho que mostrar para aquela "gente de nariz empinado" quem é que salva vidas aqui, acho que estava se referindo aos líderes do País do Fogo. De qualquer forma, ela parecia tão animada quanto eu e, mesmo durante os horários de almoço, acabava me ensinando algo mais. Eu senti falta de momento assim com minha professora.
Estava sendo uma semana altamente produtiva para mim e para Sasuke-kun, era necessário, mas nós simplesmente não tínhamos mais tempo um para o outro.
Eu ficaria preocupada com esse tipo de rotina se não soubesse que é temporário. Logo nós dois estaríamos saindo de Konoha de mãos dadas e eu poderia viver um paraíso de uma semana todinha só com o meu amor.
E falando no diabo, parece que ele nunca se cansa mesmo.
Pela primeira vez nos últimos cinco dias e quatro noites, eu cansei disso tudo.
Dispensei o almoço com Tsunade-sama e me desculpei por isso, mas ela me deixou sair sem pedir nenhum tipo de satisfação da minha parte. Talvez já soubesse que eu iria atrás do meu marido.
Passava do meio-dia quando deixei minha sala e fui atrás de Shizune-san, puxei uma conversinha rápida para conseguir fazer isso de um jeito mais discreto, mas ela me descobriu antes de qualquer coisa.

O Silêncio do UchihaOnde histórias criam vida. Descubra agora