Contratempos

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Quatro dias se passaram desde que me despedi de Sasuke-kun, e graças a sua sinceridade repentina, venho tendo sonhos recorrentes com um tal vestido branco e flores. Mas, o que me incomoda de verdade é que até agora não consegui ver Sasuke-kun nestes meus sonhos, nunca consigo ver seu rosto.
Me pergunto se isso não é um mau presságio...
Chacoalho a cabeça antes de prender meu cabelo num rabo de cavalo alto, isso me faz notar o comprimento.

- Será que eu corto de novo, ou...?

Por ora, dou de ombros.
Saio de casa ao nascer do sol e decidida de correr até meus pulmões implorarem por uma pausa. Corridas matinais não são o meu forte, mas isso é tudo culpa da agitação que aquele Uchiha plantou em mim -e ele nem está aqui para arcar com as consequências.

- Sasuke-kun, quando você voltar...

Levanto minha cabeça para o céu, desejando que ele possa me ouvir de seja lá onde estiver.

- eu vou te dar muito trabalho. Vamos ver se ainda vai ter coragem de me falar sobre casamento e cair fora de novo.

Aceitando minha situação atual -e com um pequeno sorrisinho, coloco meu corpo em movimento e inicio meu dia a fim de descarregar o acúmulo de energia.



- Vem jantar com a gente hoje, Sakura!

Ino insiste novamente e agora já nem parece um convite, mas ainda assim ouso recusar.

- Já disse que não posso hoje, vou ajudar com o plantão dos novos residentes.

Minha amiga entra na minha frente quando tento pegar uma prancheta.

- Eu vou te arrastar!

- O que?

- Você não tem escolha, não entendeu? Não pode trabalhar até o Sasuke-kun voltar, ele está muito bem lá fora, jogado no mundo com a Karin.

- Nem me fale dela...

Reviro meus olhos e cruzo os braços, meus ombros caem em rendição.

- O problema não é o Sasuke-kun, e agora nem mesmo a Karin, o problema é que eu fico sobrando quando você está com o Sai. E eu entendo isso, de verdade, vocês precisam aproveitar o tempo juntos. Por isso prefiro ficar aqui e-

- E se for só nós duas hoje? Na minha casa, com alguns filmes e esses doces que engordam... Eu vou abrir uma exceção se aceitar.

Yamanaka Ino vai ingerir mais de 500 calorias de uma só vez? Isso é uma brincadeira?

- Não me olhe assim. Já disse que vai ser uma exceção...

- Bem, não posso negar esse acontecimento ao vivo.

Solto uma risada, já sentindo meus ombros mais relaxados por saber que a programação dessa noite não será ficar no hospital ou sozinha no meio de um casal.



Recebi o aviso de que Naruto-kun havia passado na recepção do hospital para falar comigo, mas eu apenas disse que estava ocupada porque não quero encontrá-lo. Sei que vai me perguntar pelo Sasuke-kun, então não quero presenciar o momento de insatisfação dele com a notícia de que seu melhor amigo está fora de Konoha de novo.
Ai, meu deus... Por que os piores afazeres sempre sobram pra mim? Ficar no meio desses dois é impossível.

Eu estava na sala de descanso, já tirando meu jaleco quando ouvi:

- Sakura-chan!

Naruto!
Me desespero no mesmo instante, sem saber como ele passou pela recepção e como chegou aqui. Rapidamente procuro um jeito de me esconder nesse cômodo.
Olho para um enfermeiro que estava sentado ali perto.

- Ei, se alguém perguntar por mim, eu nunca estive aqui.

Ele apenas assente para mim, então o deixo pra lá com um agradecimento rápido e corro para o corredor de armários, soltando um pequeno grito ao ser puxada para dentro de um armário que acabou de abrir na minha frente.
Eu congelo com o susto, tentando entender o que está acontecendo a medida que minha visão se acostuma ao escuro.

- Mas o que...?

Paro de falar quando percebo que não estou sozinha.
Alguém me puxou e está aqui comigo.
O armário é estreito e posso ouvir outra respiração quando presto atenção.
Levanto um pouco minha cabeça e consigo ver um pouco do rosto daquele que está a minha frente.
Alto, cabelo platinado e uma expressão superior -claramente mais velho e experiente do que eu.
Reconheço-o imediatamente.
É o médico vindo de Sunagakure(Vila Oculta da Areia)!

- Desculpe, o que está... O que nós estamos fazendo aqui?

O susto vai embora e meu mau humor volta de repente.

- Você estava tentando se esconder, eu só ajudei você. De nada, Sakura-sama.

Só... Não seja mal educada, Sakura.

- Certo. Mas eu não precisava de ajuda.

- Não era o que parecia.

E como se para dar razão a ele, ouço uma voz conhecida que chama pelo meu nome, isso me deixa tensa. Sai está por perto e Naruto deve estar com ele-
Estreito minhas pálpebras quando uma luz de repente brilha entre nós, mas rapidamente entendi toda a situação ao meu redor.
Sim, é ele mesmo. Sato Akira, está atuando no hospital de Konoha há uma semana.
Mas esse armário é muito apertado e estamos irritantemente próximos, e para piorar, ele tenta acender um cigarro na minha frente.

- Não se importa, não é?

- Não pode fumar dentro do hospital.

Ele levanta o olhar para mim, então abre um sorriso e apaga o esqueiro, mas sei que ainda está me encarando.

- Sakura-sama... Pode ter sido só a chama, mas parece que você está vermelha.

- N-Não estou!

- Não se preocupe, eu só quero te ajudar a se esconder...

- Não preciso! Na verdade, não aceito ajuda de estranhos. Por favor, não se aproxime.

- Que gatinha hostil.

Hã?
Agora posso sentir que há algo como desgosto no tom de voz dele.

- Você é apenas uma criança, então seja obediente e confie em mim.

Essa me pega de surpresa -e piora o meu humor ainda mais.
Você tem duas opções -dentro das leis morais do hospital-, Sakura: saia daqui e encare o Naruto, ou fique colada com esse estranho até seu amigo ir embora -apenas não espanque ninguém.
Bem... Prefiro mesmo responder as perguntas do Naruto à isso.

- Você tem um cheiro gostoso.

O comentário me traz de volta pra realidade.
Chega de pensar.

- E você cheira a tabaco.

Ugh... Escapou! Mesmo que não seja mentira.
Pigarreio rapidamente, tentando não piorar ainda mais essa situação ridícula.

- Obrigada, Sato-san. Se me der licença, eu preciso ir agora.

Me encolho a fim de conseguir sair sem tocar no rapaz, mas ele torna isso impossível quando estende um braço ao lado da minha cabeça, o que me obriga a levantar um olhar desconfiado para ele.

- Sakura-sama, por que está recusando minha ajuda? A senhorita é uma ótima médica ninja também, presumo que tenhamos muito assunto. Pode me chamar de Akira. Você tem tempo?

Ele avança um passo ao dizer. Essa combinação de tolices me irrita extremamente.
Eu avanço um passo também e seguro o braço que estendeu ao lado da minha cabeça, a fim de mostrar que eu sou a superior aqui.

- Escuta aqui, Akira.

Digo o nome dele com um leve tom de desprezo na voz.

- Primeiro, aprenda como realmente se ajuda alguém. E segundo, guarde suas observações desnecessárias para si mesmo.

Inclino minha cabeça, o encarando friamente.

- Porque se não abrir esse armário agora, eu vou-

O armário se abre sozinho.
A luz que vem de fora me cega por um segundo.

- Sakura... chan...

Sai está segurando as portas do armário, me encarando totalmente estupefato e meu nome quase não saiu da sua boca quando ele viu a cena.
Ai, droga... Não é isso!
Me afasto do rapaz e saio do armário o mais rápido possível, então fecho as portas com o rapaz lá dentro.
Totalmente envergonhada, me viro para encarar Sai.
Não, não, não, não!
Ele está claramente confuso e ainda surpreso.

- Eu acho que sei o nome disso, é-

- Nada! Não é nada! O que você está fazendo aqui?

Ele encolhe os ombros.

- Naruto-kun estava te procurando e pediu a minha ajuda. Você quer falar com ele?

- Eu... Sim. Obrigada, Sai-kun.

Engulo em seco e saio da sala de descanso o mais rápido possível, dando de cara com Naruto ao lado de fora.

- O-Oi...

- Sakura-chan, você tá bem? Tô procurando você ou o Kakashi sensei o dia todo, eu ainda nem comi.

Ele parece chateado, mas atento o suficiente para não esquecer seu objetivo final.

- Aliás, cadê o Sasuke-kun?

Bem, lá vai...

- Ele precisou sair da Vila para ajudar um amigo, já faz quatro dias.

- UM AMIGO?

Naruto grita sua dúvida e começa a andar de um lado para o outro.

- Bom, foi o que eu disse...

- Aquele bastardo! Já faz quatro dias que o Sasuke está fora de Konoha e ninguém me diz nada?

- Ah, então foi por isso...

A voz do Sai quebra o momento de irritação do Naruto, fazendo minha ansiedade aumentar ainda mais diante da insinuação que ele acabou de fazer sem perceber.
Pelo amor de deus, com ou sem o Sasuke-kun em Konoha, eu jamais ficaria com outro.

- Foi por isso, o quê?

- Nada, Naruto-kun. Só acho interessante quando vejo a prática de algo que já li em algum livro.

Sai, eu vou te matar!



O Silêncio do UchihaOnde histórias criam vida. Descubra agora