O Silêncio do Uchiha

No Seu Ritmo

Acordei com a cabeça latejando, um castigo bem merecido por ter me deixado levar mais uma vez pela influência do Naruto e seu papinho de "aproveitar com um amigo" enquanto ainda estou aqui.

Eu nem me lembro como vim parar na minha própria casa.

Me levanto da cama esfregando o rosto, caminhando sem certeza para fora do quarto. Descer a escadaria foi o que me fez olhar para baixo em mim mesmo e reparar que estou completamente sem roupa.
Parei.

- Hm?

Mas... o quê?
Olho para o alto da escadaria e penso em voltar e pegar uma cueca e uma calça, mas deixo pra depois, a sede é maior agora.
Eu não cheiro mal e não sinto nenhum gosto ruim na boca, nenhum resquício do álcool da noite passada. Estou limpo. E não me lembro de ter tomado banho e escovado os dentes.
Bebo alguns copos de água enquanto faço um esforço maior para me lembrar de tudo, e nada vem.
Eu queria jogar a culpa no Naruto e depois socar a cara dele uma ou duas vezes, mas é mais fácil assumir que foi escolha minha também.
Deixo o copo na pia e volto a subir para o meu quarto.
Empurro o cabelo para trás e meus olhos se arregalam quando vejo que tem alguém mais na minha cama. A vertigem bate tão rápido que preciso me segurar no batente da porta pra me equilibrar, com as mãos espalmando na madeira.
O que é que tá acontecendo aqui?
O barulho do meu susto parece ter acordado a pessoa, que se mexe e sai debaixo dos lençóis.
Os cabelos cor-de-rosa...

- Sakura?

Ainda bem! Porque tem alguém na minha cama e eu só consigo me lembrar do Naruto na noite passada.
Ela se vira e abre um sorriso sonolento na minha direção.

- Oi...

O bocejo que minha esposa solta é tão suave que automaticamente suaviza minha dor de cabeça.

- Mas que bela visão.

Seguindo seu comentário e seu olhar, lembro-me mais uma vez da minha total falta de roupa -o que não é nenhuma novidade para seus olhos verdes.

- Você... me trouxe pra cá?

Ela assente.

- Me deu banho?

Sua cabeleira rosa balança de novo.

- Escovou meus dentes?

- Sim, Sasuke-kun. Eu fiz tudo isso. E também te coloquei pra dormir.

Cruzo os braços diante desse olhar orgulhoso dela.

- Eu poderia ter feito tudo sozinho.

- Ah, corta essa!

Sakura suspira alto e vai voltando a soltar todo o corpo na minha cama. Reparo que ela está vestida e me deixa mais confortável saber que não fizemos nada.

- Vem cá, querido. Deixa seu orgulho pra lá e vem me receber com sua sobriedade dessa vez.

Ela estende uma mão e balança um dedo pra me convidar.

- Eu aceito alguns beijos, já que me deu um fora há cinco dias atrás.

- Você merecia.

Dou de ombros e entro no closet, me permitindo sorrir um pouco enquanto me visto.
Ela está mesmo aqui! E está bem.
Coloquei uma cueca e uma calça bem rápido e voltei para o quarto ainda vestindo a blusa.
Sakura levantou da cama e abriu os braços para mim.
Ah, eu amo essa mulher!
Cheguei até ela a passadas largas e agarrei seu corpo, ela agarrou o meu também.

- Não parei de pensar em você.

Seu sussurro me faz abraçá-la com mais força, esperando que assim eu possa lhe mostrar a falta que senti também.
Um pouco depois sinto seus braços me soltando, mas mesmo assim continuo insistindo em não te largar agora.
Não consigo soltar.

- Sasuke-kun...

- Ainda não.

- Eu não vou trabalhar hoje, temos o dia todo. Mas quero mesmo conversar com você... sobre ela.

Claro, eu sabia que Sakura não esqueceria daquele ocorrido.
Eu a solto e encontro seus olhos preocupados esperando por respostas.

- Ela está com Orochimaru.

Essa resposta claramente não agrada minha esposa, mas não posso mentir para ela sobre isso.

- Por quê?

- Ele convenceu o Kakashi de que seria mais seguro mantê-la por um tempo e "analisar", já que é uma sobrevivente das experiências dele.

- O quê? O Kakashi permitiu isso?

Eu assinto.

- E eu concordo também. Sinceramente, prefiro ela nas mãos dele do que solta por aí.

Sakura se senta na beira da minha cama e parece pensativa quando coloca uma mecha do cabelo pra trás, uma mania irritantemente atraente.

- Então ele vai manter a distância junto com ela, mas ainda em Konoha?

- Sim. Yamato está encarregado da escolta.

- Quanto tempo isso vai durar?

- Pouco, eu espero.

Minha esposa levanta a cabeça e me olha daquele jeito ainda preocupado.

- Chega. É desnecessário e isso me irrita.

Peço, colocando uma mão na cintura -acho que aprendi isso convivendo com ela.

- Isso não te incomoda nem um pouco, Sasuke-kun?

- Desde que ela esteja longe de você ou de qualquer outra criança, não.

Sakura se levanta e começa a andar ao meu redor lentamente. É assustador.

- O que tá fazendo?

- Olhando para você...

Ela responde com um tom muito analítico, o que continua sendo desnecessário.

- Dá pra parar de agir como se ela fosse uma ameaça? Eu já disse que lido com isso sozinho.

- O que foi que ela fez?

Levanto as sobrancelhas diante dessa pergunta espontânea.

- Ela fez algo, não fez?

- Talvez.

Decido brincar com as preocupações da minha esposa, só pra ver se depois ela para.

- Sasuke-kun.

Sakura congela em minha frente.

- Como assim?

Dou de ombros.

- Nada.

- Uchiha Sasuke...

Ela aponta um dedo e cutuca meu peito.

- Você vai me contar, sim.

A cada palavra, ganho um novo cutucão.

- Ou vamos ter alguns problemas aqui, tá me ouvindo?

Ela abaixa a mão.

- O que ela fez? Vamos, eu quero sa-

- Me beijou.

Sakura fica pálida, posso ver a raiva subindo em seus olhos esverdeados ao mesmo tempo que a indignação.
Preciso sufocar uma risada dessa vez e impedir meus músculos faciais pra não sorrir.

- Como é que é...?

Encolho os ombros, as sobrancelhas da minha esposa vão franzindo até ela ficar com uma expressão assustadora.
Melhor parar por aqui. Não quero que destrua minha casa agora.
Seguro seus braços e chaqualho um pouco, a fim de tirá-la do seu estresse exagerado.

- Não é verdade, Sakura. Eu quis... brincar com você.

- O quê?

Ela suaviza as expressões e levanta a cabeça para me olhar.

- Então ela não te beijou?

- Óbvio que não. Eu impedi.

- Então ela tentou?!

Sua pergunta já sai toda raivosa de novo.
Talvez eu não precisasse dar esse detalhe.
Mas já que dei, não vou mentir. Faço que sim com a cabeça.

- Ah, tudo bem... Eu quero acertar a cara dela. Tanto, tanto... Nossa, como me irrita!

Me pego pensando em dar um passo atrás -ela sabe dar medo- mas não o faço.
Não tem jeito.
Eu me aproximo para beijá-la, mas Sakura se inclina pra trás assim que percebe o que vou fazer. Ela está com os olhos arregalados agora, diferente da primeira vez que fiz isso e senti que estava se rendendo.

- S-S-Sasuke... kun...

Minha esposa tá ficando tão vermelha que me deixa surpreso.
Pensei que já tínhamos passado disso há muito tempo.
Eu a solto e dou um passo atrás, definitivamente sem entender sua reação.

- O que foi?

Sakura fica me olhando, paralisada, e de repente solta uma risada daquelas estranhas.

- Hã, nada. Nada mesmo! Só... me pegou de surpresa.

Sua reação foi tão inesperada que eu prefiro não tentar de novo, pelo menos por enquanto. Eu não queria deixá-la abalada.

- Tanto faz. Não precisa ficar brava pelo que não aconteceu.

Ela achou mesmo que eu deixaria outra pessoa encostar em mim?
Dou a volta na cama e começo a ajeitar os lençóis.

- Como foi sua viagem?

Pergunto, esperando conseguir fazer ela relaxar de novo. Minha esposa se vira com um sorriso enorme.

- Foi demais! Demais mesmo!

Ela soca o ar como se fosse um tipo de selo de aprovação.

- Você estava errado, querido. Ninguém me olhou com malícia lá e não fui desrespeitada. Foi muito tranquilo e relaxante.

- Hm.

Eu ainda acho que ela simplesmente não se deu conta, como eu esperava. Entretanto, fico quieto sobre isso pra não estragar a experiência.

- A comida era deliciosa. E nós até saímos pra dançar e fazer com... com...

Levanto a cabeça e vejo Sakura ficando vermelha de novo. Eu não fiz nada dessa vez.

- Compras...

Ela enfim solta, com aquele sorriso forçado de novo. O que isso significa?
Eu gostaria de saber o que tá passando pela sua cabeça agora.

- Entendi.

Eu não sei qual outro comentário fazer, porque na verdade acho que não entendi nada.
Pego o coberto e jogo nela, vejo o tecido cobrir toda sua estrutura.

- Ei! Sasu-

- Você tá estranha.

Eu digo assim que ela coloca a cabeça pra fora do cobertor.

- Isso me irrita. Ajeita isso pra mim e volta ao normal logo.

Assim como com o Naruto, Sakura também tem um pouco daquela coisa sem sentido onde só funcionam normalmente quando eu os ignoro.
E é maluco, mas funciona.
Minha esposa assente e começa a dobrar o cobertor, depois o coloca na cama que acabei de ajeitar e se joga no meio, como se eu não tivesse literalmente alisado todos os lençóis pra deixar ajeitado.

- Sakura...

- Ops!

Ela faz uma carinha falsamente inocente. Penso em reclamar, mas me contento com um suspiro.
Não posso fingir que não estou feliz por vê-la se acomodando aqui.

- Hmm... Fica aqui comigo.

Sakura bate ao seu lado quando vê que estou hesitando.

- Pode vir, por favor.

Certo... Eu me junto a ela na cama, torcendo para que não comece a corar de novo. A gente não está fazendo nada.
É em vão. Suas bochechas estão vermelho vivo quando me deito e olho para ela.

- Sakura, você tá pensando demais. Só estou aqui com você.

- Não está pensando em...

- Não. É você que está pensando.

- Você também! Senão não saberia do que estou falando antes de eu falar. Sasuke-kun, seu menti-

Eu agarro a mão dela.
Está tão quente...

- Para de pensar.

Fecho meus olhos, o que não é tão difícil assim quando estamos só nós dois. Quero mostrar que não estou na defensiva, e nem querendo atacar.
Eu respiro fundo, sentindo quando Sakura está olhando para mim, me segurando pra não virar e capturar seu olhar.

- Sasuke-kun...

Sinto um braço e uma perna passando por cima do meu corpo, minha mandíbula se prende em resposta. Eu tento evitar, mas no fim abro os olhos para encará-la.
Sakura demora seu tempo, me observando tanto quanto eu a observo. Uma mão tímida sobe no meu pescoço para tocar minha orelha, e eu deixo.

- Desculpe... Ficar perto de você novamente tá me deixando nervosa demais. Eu nem sei como reagir.

- Nós somos casados agora.

- Eu sei... Mas ainda sou completamente apaixonada, não consigo evitar minha agitação.

Ela começa a brincar com meu cabelo.

- Me sinto uma criança feliz de novo.

Sua risada mexe com meus sentidos desacostumados a ouví-la tão de perto.
Senti falta disso...

- Faz como da primeira vez.

Sakura levanta uma sobrancelha, e vai parando de balançar os dedos no meu cabelo ao se lembrar do que estou falando.
Foi ela que me beijou primeiro.

- Não precisa ser agora. Quando você quiser.

Digo já tirando o braço e perna dela de cima de mim pra me levantar da cama.

- Tem algo que quero falar com você também, mas isso vai esperar. Preciso de um banho antes.

- Eu te dei banho ontem à noite, Sasuke-kun. Posso garantir que está bem limpinho.

- O único que pode garantir isso, sou eu.

Fecho a porta assim que entro no banheiro, e já estou me despindo quando Sakura me faz sorrir com seus resmungos.

- Por que é tão exigente? Meu deus, volta aqui, Sasuke-kun!