O Pôr do sol

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Posso ouvir uma música. Ouço o koto, shamisen, taiko e biwa vibrando em harmonia, soando em uníssono para dar continuidade à uma música instrumental que penso já ter ouvido antes, em uma de minhas viagens.

Mas foi o cheiro de salmão grelhado que realmente me acordou.

Sinto-me tão confortável que me permito espreguiçar o corpo antes de abrir os olhos, algo que logo resulta na imagem da minha esposa acima de mim; eu não poderia querer mais.

- ...Um anjo.

Deixo-me dizer sem pensar, ainda um pouco sonolento demais para me arrepender imediatamente disso.

Mesmo com os olhos entreabertos posso ver o rosto de Sakura ficar todo vermelho e um sorriso franquear ao mesmo tempo, combinando com o verde vivo de seus olhos.

- Bom dia, querido. Eu amo você.

Definitivamente, não tenho mais sono. Não que eu me incomode por ouvir isso, mas ainda fico um pouco agitado quando ela lança seus sentimentos em mim assim, de repente. Eu me sento e apoio as mãos atrás do corpo na cama.

- Você...

- Eu só quis dizer mais uma vez. Porque é verdade.

Ela parece ainda mais cheia de vida e disposta hoje. Jamais poderei explicar isso, entretanto, meu corpo absorve as vibrações dela e não demora muito para eu abrir um fraco sorriso.

Às vezes ficar com Uchiha Sakura é assim. Ela faz com que qualquer um se sinta bem com menos de um minuto de interação.

- Olha, Sasuke-kun.

Seu olhar desce.

- Eu fiz para nós.

Olho para baixo também. Estava tão emergido na presença da minha esposa que não prestei atenção o suficiente para descobrir de onde vinha o cheiro de comida.

Há uma bandeja entre nós dois, suportando dois pratos com salmão grelhado e sunomono. Quatro copos acompanham a refeição, dois deles com um líquido verde, suponho que seja ryokucha, e outros dois com água.

É o que quero!

Sakura e eu fizemos uma coleção com quase uma dúzia de copos de água aqui, todos espalhados pelo quarto -sobras das pequenas pausas do sexo de ontem. Mas minha garganta está tão seca que me pergunto quanto tempo dormi. Que horas eram quando nós... paramos?

Penso nisso ao pegar o copo e engulo toda a água rapidamente, soltando um suspiro de insatisfação quando a água acaba, mas minha sede não.

- Pode ficar com o meu.

Sakura oferece antes mesmo de eu olhar para as outras 400ml de água que deveriam ser dela. Viro um pouco a cabeça e olho por cima do copo que ela estende até mim.

- Você também deve estar com sede.

- Sim, mas não se preocupe com isso. Eu quase acabei com a água da sua casa quando acordei.

Ela diz com uma risadinha, sem dar a devida atenção ao que disse. Pego o copo de sua mão e o esvazio sem pensar mais. Depois deixo sobre a bandeja e coloco tudo de lado.

Sakura começa a abrir mais os olhos quando me vê chegando mais perto, puxando o lençol na altura da cintura para não ficar totalmente desnudo agora.

- Fala de novo. Eu quero que ajeite isso.

Ela abre a boca, mas hesita e nada sai. Fica claramente confusa com meu pedido.

- Você disse "sua casa", Sakura.

E eu odiei ouvir isso. Muito mais do que poderia esperar de mim mesmo.

O Silêncio do UchihaOnde histórias criam vida. Descubra agora