O Silêncio do Uchiha

Cuidando Um do Outro

Eu passei a noite toda assistindo Sakura dormir e tentei meu máximo para aguentar um pouco mais minha própria exaustão. Só mais essa noite.
Não podia dormir com ela agora. Não queria assustá-la com meus sonhos ruins.
Mas não tem problema... Com certeza não me arrependo das noites em claro quando junto da minha esposa, protegendo-a do mundo todo e de mim mesmo enquanto tinha o privilégio de sentir sua paz. Eu valorizava a tranquilidade de Sakura e era capaz de qualquer coisa para mantê-la comigo.
Eu tinha que melhorar por ela, por nós.
Às vezes sentia que estava pendurado numa linha acima da insanidade e do esquecimento, esperando o menor desequilíbrio para cair. Só que então eu olhava para a mulher que sempre esteve esperando por mim e ela olhava de volta com toda a vida que irradiava, e pronto... Meu Deus, eu tinha que dar mais de mim, tinha que fazer isso, que continuar ao lado dela, e ponto final.
Não era sua culpa desejar nossa família, na verdade era lindo. Era culpa minha não conseguir aceitar os convites que ela me oferecia à felicidade.
Preciso ser melhor. Menos danificado.

- Você fez o café da manhã?

Passava das sete horas quando Sakura apareceu na cozinha, eu me virei para olhá-la e me apaixonei mais ao notar o efeito que eu tanto gostava dos raios de sol em seu cabelo rosado.

- Sem showzinho particular hoje?

Ela zombou enquanto vinha até mim. Deixei de lado o sifão de café e apertei minha esposa com força, sorrindo um pouco por trás do abraço.

- Ah-uh... Vai me quebrar, querido.

Soltei seu corpo ao comando do resmunguinho que fez vibrar meu peito, levando as mãos pra trás do meu próprio corpo e apertando as bordas da pia. Sakura parecia melhor hoje e isso me deixava insuportavelmente... contente. Ficava difícil conter.
Ela avançou até tocar a pia atrás de mim também, com as mãos bem em cima das minhas, ficou nas pontas dos pés e me encarou bem de perto.

- Você ficou acordado de novo?

- Fiquei.

O verde de seus olhos recaiu, preocupada como eu já esperava. Apertei minhas mãos para relaxar os dedos antes de pegar seu rosto, então trazer seu olhar de volta para mim.

- Seu plantão vai durar dois dias de novo e eu vou dormir assim que você sair dessa casa, prometo. Então me deixa te aproveitar um pouco mais.

- Estou preocupada com sua saúde, Sasuke-kun. Não pode se deixar deteriorar sempre que a gente se desentende, nós combinamos isso lá no comecinho. Quando algo ruim acontece comigo, você desliga tudo. O mundo. As outras pessoas. A si mesmo.

- É porque fico cansado, assim como você. Não tem que se preocupar comigo.

- Isso é sério.

Ela usou uma voz tão rígida que logo me fez entender que eu estava falando com o lado profissional da minha esposa: a médica compacta.
Pensei em fugir do assunto e procurei uma escapatória, mas não tinha como ir para lugar nenhum com seus braços ainda aos lados do meu corpo, preso entre a pia e sua habilidade inacreditável de arrancar verdades de mim. O suspiro que ela deu me trouxe a reação de inspirar fundo, retornar automaticamente a porta da minha alta para a perspicácia da minha esposa.

- Não quero ter esse assunto ainda, Sakura. Odeio quando falamos da minha saúde.

- Você odeia porque sabe que não está se cuidando como deveria, é por isso que tô sempre pegando no seu pé. E você sabe por que faço isso?

Ela levantou uma mão e tocou a ponta do meu nariz.

- Porque te amo e me importo com sua vida, Uchiha teimoso. Com todo o meu coração.

Sakura sorriu. Eu jamais me cansaria de ver o sorriso dela pela manhã.

- Vou comer com você, te levar até o hospital e dormir o máximo quando eu voltar para casa. Prometo.

- Promete mesmo?

Assenti com a cabeça e cruzei nossos dedos assim que Sakura levantou o mindinho entre nós, tranquilo por estar dizendo a verdade. Não era problema algum porque já estava nos meus planos mesmo, eu só precisava tomar coragem para fechar os olhos. Minha mente iria me perturbar durante o sono, com certeza iria.
A minha sorte era que a realidade estava voltando a ficar mais clara só pelo sorriso da minha esposa.