O Marido de Uchiha Sakura

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Eu já podia ver a casa quando meus pés travaram.
Eu não vou ficar aí.
Já estava começando a me sentir sufocado por Konoha de novo, não entendia como as pessoas podiam se acomodar tanto assim. Ficar sempre em segurança e seguir uma rotina é chato.
Eu já tinha tomado a decisão de passar a tarde fora de Konoha quando me lembrei que não tinha -e não queria- uma permissão oficial; tecnicamente, isso faria de mim um ninja renegado de novo... Mas já não seria novidade alguma.
Sakura, Naruto e Kakashi deviam estar muito ocupados e felizmente ninguém sentiria minha falta. Eu precisava mesmo me sentir fora das asas deles.

- Oi, Sasuke-kun.

Agora?
Me virei para encontrar o dono da voz que já se tornara familiar. Sai sorriu e acenou para mim.

- Bom te encontrar aqui.

- O que você está fazendo aqui?

- Eu estava indo te encontrar. O que acha de ir para fora com minha equipe hoje? Vamos nos encontrar com visitantes de Sunagakure para escoltá-los até Konoha. Yamato sensei disse que você poderia gostar de tomar um ar.

Apesar de ter pressentido que Sai estava falando comigo como se fosse um cachorro que precisava passear, o que mais chamou minha atenção foi a parte relacionada ao Yamato. O mesmo estava encarregado de Orochimaru e Yumi, ter pedido para Sai usar a Ambu para me distrair não foi coincidência.
Então Yamato já sabe.

- Sabe, a Folha e a Areia têm um bom relacionamento e ninjas fortes, então não acho que possa resultar em ataques surpresa ou algo assim, nada muito empolgante.

Sai levantou uma mão até o cabelo e pareceu desconcertado. Comecei a suspeitar que ele tivesse sido informado sobre o motivo pelo qual Yamato -e Kakashi também- me querem fora daqui -e sob os olhares da ambu.

- Sinceramente, Sasuke-kun, não vamos precisar da sua ajuda dessa vez. Mas pode vir se não estiver ocupado com nada mais. O que acha?

Eu negaria, obviamente. Mas mudei de ideia.
Eu poderia sair com a equipe de Sai e me separar deles no momento certo. Dessa forma, teria uma autorização para sair de Konoha sob o motivo de uma suposta missão de escolta, deixaria Kakashi e Yamato achando que sabem onde e com quem estou até que Sai pudesse voltar com os visitantes.

- Vou me juntar à missão.

Sai sorriu.

- Legal, então. Vamos sair pela noite e voltar amanhã de manhã se tudo correr como o planejado. Há previsão de chuva, não esqueça de usar a capa do uniforme da Ambu que eu te dei.

- Não preciso. Vou usar a minha própria.

Ele levantou uma sobrancelha e ficou me encarando com incerteza. Isso confirmou minha suspeita.
Yamato também pediu que ficasse de olho em mim, no fim das contas. Que coisa inútil.

- Ei, Sasuke-kun... Sabe que estamos indo em missão, não sabe?

Eu assenti como se fosse a pessoa mais honesta e despretensiosa do mundo, porque foi isso o que os olhos esperançosos dele pediram.

- Vou fazer minha parte.

Ele voltou a sorrir e se virou, voltando a andar enquanto acenava mais uma vez.

- Até mais tarde, às oito horas, nos portões de Konoha.

Como Sai avisou, começou a chover pouco antes das sete da noite.
Eu e Sakura não havíamos feito compras juntos desde que ela se mudou para essa casa e eu não estava com tanta fome também, então nem considerei preparar um jantar decente.
Eu estava mastigando uma das barras cereais de granola que Sakura trouxe da casa dela, nada reforçado como deveria ser, mas não tão ruim quanto imaginei que seria. E assim poderia responder que eu comi quando minha esposa voltasse e fizesse a típica pergunta sobre minha alimentação.
Me inclinei para pegar um elástico de cabelo de Sakura que estava em cima da mesa de centro, coloquei no bolso da calça. Sentei no chão da sala e cruzei minhas pernas, jogando o resto da barra cereal na boca enquanto esperava a hora certa para sair.
Repassei o dia na minha cabeça e me perguntei onde Yumi estaria agora.
Será que já colocaram ela atrás das grades? Ou será que está aqui, me observando em silêncio?
A pergunta pareceu inofensiva na minha mente, mas me fez virar e olhar ao meu redor assim mesmo. Me arrependi de não ter deixado nenhuma luz acesa e ter me colocado no meio das sombras, isso aumentava a sensação de que não estava sozinho.
No entanto, eu claramente estava me deixando levar pela insegurança e recobrei os fatos da realidade antes que fizesse a tentativa inútil e doente de me esconder dentro da minha própria casa -a ideia passou pela minha cabeça por um segundo.
Ela deve estar ocupada enquanto pensa em uma forma de lidar com sua nova rotina tediosa na cela.
Engoli o que havia na minha boca e bufei para o alto, irritado por pensar nela como se ainda fosse uma ameaça, e como se eu ainda fosse o garotinho que Yumi conheceu.
Por um momento ouvi a voz de Sakura me dizendo ser uma vítima de novo e tudo isso continuava soando tão idiota.
Se eu fosse mais frio e cruel, teria matado Yumi no momento em que apareceu na minha frente de novo, ao invés de ter sentido que eu deveria fazer o que ela desejasse.
E por que tô lembrando disso agora? Não adianta mais. Está tudo resolvido.
Me levantei para escovar os dentes no andar de cima, foi onde cometi o erro de encarar o espelho.

O Silêncio do UchihaOnde histórias criam vida. Descubra agora