Desvendado

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Penso que estou louca quando vejo Sasuke-kun no além, se aproximando do portão de Konoha.
Mesmo que eu tenha vindo esperar por ele, não achei que realmente o veria chegando, então fiquei mais ou menos cinco minutos parada, aproveitando e esperando minha miragem ir embora nessa manhã fria.
Ele está com passos tão lentos e parece tão cansado, é uma bela projeção das minhas preocupações.
Se esse realmente fosse Sasuke-kun, eu estaria... chorando? Bem provável que sim.
Suspiro e balanço minha mão no além casualmente.

- Vamos logo, vá embora. Eu sei que não é real.

Já tô cansada de sonhar com ele ou escutar sua voz sem que realmente esteja aqui, então não vou mais cair nessa.
Mas, quando minha miragem do Sasuke-kun para e me encara ainda de longe, meu coração acelera como faz só por ele.
Minha nossa! Não me diga que...
Me levantei do chão e corri até alcança-lo, só então, diante do próprio Uchiha Sasuke, pude acreditar que isso é real.
Meu deus!

- Você...

Para onde foram as palavras?

- Não cheguei há tempo para o seu aniversário... Recebeu minha carta?

Ele diz sem forçar um sorriso, como a maioria faria após dizer isso para alguém. Na verdade, não me importo agora.
Sasuke-kun de repente me abraça e, como um interruptor, bastou ele me dizer "parabéns" para que eu caísse em prantos com a cabeça apoiada em seu ombro.
Por que ele está assim? Quem o machucou? Como se sente? Por que sua pele está tão gelada?
Tenho milhares de dúvidas e não consigo pronunciar nenhuma delas.
Apenas me agarro à sua camisa manchada de sangue, que não sei se é do próprio Sasuke-kun ou de outro alguém.
Meu corpo treme e eu soluço dentro dos braços dele, o mesmo percebe que estou chorando.
Com certeza, vê-lo machucado é uma das coisas que mais me entristece.

- O que a-aconteceu?

Consigo perguntar, sem soltá-lo quando percebo que tenta se afastar de mim.
Não vou soltá-lo!

- Tudo bem... Estou bem, Sakura.

Mas seu corpo diz outra coisa, começando a pesar sobre o meu.

- Sasuke-kun?

Não obtenho uma resposta e preciso segurar com força antes que seu corpo caia desacordado.
Então o pensamento desliza para dentro da minha mente tão claramente, tão, tão fácil...

Vou matá-lo!



Já faz doze horas desde que internei meu próprio namorado de novo, e eu pretendia nunca mais precisar fazer isso depois da luta com Naruto-kun.
Meu plantão terminou e eu decidi atrasar meu jantar para ir ver como Sasuke-kun estava -no fundo, não quero deixá-lo sozinho.
Entro na sala e fecho a porta atrás de mim, sendo surpreendida ao ver que o paciente em questão já despertou.
E está olhando para mim.
Ele não diz nada, como sempre.
Mas dessa vez eu também demoro para abrir a boca.

- Se sente melhor?

Porque estou fingindo que estou aqui à trabalho? Nem tirei o jaleco.

- Está brava comigo?

Ele não me responde e me recepciona com outra pergunta, a qual não posso negar.
Sempre tão direto...

- Pra ser sincera, eu quis matar você.

- Entendo.

Ele vira a cabeça para a janela do quarto, a sensação de estar sendo ignorada me irrita. E eu explodo.

- Escuta aqui, você tem que se explicar! Era pra ser uma semana! Uma semana fora, se alimentando e descansando bem. Você prometeu que cuidaria de si mesmo e estaria de volta logo! Então por que chegou já desmaiando em meus braços depois de quinze dias? Ah, e eu não vou nem falar do que fiquei sabendo pelo seu prontuário...

- Sakura.

- Não, espera. Eu vou falar, sim!

Começo a contar nos dedos.

- Desnutrição, hipotermia, exaustão e falta de quase todas as vitaminas essenciais! Ah, eu nem me surpreendi ao ver o baixo nível de glicose no seu sangue. Deu conta de deixar todos os seus exames em estado alarmante.

Ele apenas fica me olhando, pelo menos parecendo atento, apesar de que com certeza não tem um real interesse.

- Não adianta olhar assim pra mim. Saiba que só estou cuidando de você porque depois quero matá-lo lentamente!

Ah... Acho que eu surtei de novo, mas dessa vez foi com razão.

- Você está cuidando de mim, por isso que está aqui agora?

Me pergunto se ele também bateu a cabeça e os exames neurológicos deram errado, porque pensei que fosse óbvio que eu quero vê-lo, apesar de tudo.
É quando percebo que só falei dos maus ocorridos até agora.
Se acalme...

- Ah, não, bem... Eu quero ficar aqui... com você.

Sasuke-kun continua ali, simplesmente lindo e quieto, apenas sendo ele. Estende uma mão no meu rumo, me convidando a me aproximar. E assim faço, me sentando na beira da cama do hospital quando ele chega para o lado e me dá espaço.

- Eu não fiz por querer. Me atrasei com Juugo e os outros, então tentei compensar o tempo na volta, sem parar.

Balanço minha cabeça negativamente.

- Foi burrice.

- Sei disso.

- E não está arrependido?

- Não.

- Por que? Você acabou parando no hospital.

- Com você cuidando de mim. Por mim, está tudo bem assim.

Balanço minha cabeça negativamente com um pequeno sorriso que não consegui segurar.

- Isso é sério, sabia?

- Não precisa se preocupar tanto comigo, Sakura. Vou ficar bom logo.

Ele puxa minha mão dentro da sua, o suficiente para me deixar inclinada sobre o mesmo. Eu estava esperando tanto por isso que não me surpreendo com a habilidade dele em me atrair para si, como uma mosquinha atraída pela luz em meio à uma noite silenciosa.

- Eu posso...?

Como resposta, eu mesma preencho o pouco espaço que ainda havia entre nossos rostos e o beijo.
Sinto gosto de menta na boca de Sasuke-kun, e não era isso que eu esperava, ele também está com um cheiro fresco. Quase não parece que passou o dia todo num hospital.
É quando toco seus cabelos e sinto que estão úmidos, que enfim percebo.
Me afasto e o encaro, já irritada.

- Você tomou banho? Não deveria se levantar sozinho!

Olho para o lado e vejo que o soro não está mais na veia.

- Eu vou, com toda certeza, matar você, Uchiha Sasuke! Tirou isso sozinho? Está louco?

Volto a olhar para ele e, por um curto segundo, fico ainda mais irritada por simplesmente voltar a me beijar. Mas não consigo ficar brava por muito mais tempo e meu corpo logo relaxa, aceitando suas carícias em minha bochecha.
Recebo uma nova carga de energia quando ele morde meu lábio, e essa energia se transforma em empolgação.
Eu realmente senti muito a falta dele!
Apoio um antebraço sobre o tórax e descanso meu corpo sobre o seu, mas inesperadamente Sasuke-kun resmunga contra minha boca.
Ele está numa cama de hospital, pega leve.

- Me desculpe...

- Não tem problema.

E ele me segura perto antes que eu possa me afastar pelo menos um pouco.
Eu já estava relaxando de novo quando escutei o baque da porta se abrindo. Me afastei tão rapidamente que só escutei Sasuke-kun grunhir quando levantei o corpo dele junto com o meu, já que estava me abraçando.
O susto me impede de me desculpar agora, mas meu companheiro já deu de ombros e está agindo naturalmente enquanto finge só estar se sentando na cama.
Às vezes me assusto com a habilidade dele em mentir, esconder e se adequar o tanto necessário.

- Sasuke!

Quando foi que o Naruto se tornou tão bom em roubar meu tempo com Sasuke-kun?

- Você prometeu que-

- Não foi a intenção dele dessa vez, Naruto-kun.

Eu aviso antes que ele fique tão bravo quanto eu, e me apresso para pegar o que preciso para encontrar uma veia de Sasuke-kun e fazer ele terminar aquele soro, que não deveria simplesmente tê-lo arrancado do braço.

- Você gosta de sumir no mundo, não é?

- É.

- Mas sempre tem eu pra estragar seus planos, não é?

- É.

Naruto-kun ri com algum tipo de orgulho interno, mas Sasuke-kun não parece interessado.
Ele olha para mim quando amarro o torniquete em seu braço estendido, mas não tenta me impedir dessa vez.

- Não sabíamos onde você estava, então não deu nem pra mandar uma carta, e... Muita coisa aconteceu.

Após a anti-sépsia com álcool, tenho um pouco de dificuldade para encontrar a cubital mediana de Sasuke-kun. A enfermeira que fez isso anteriormente comentou ter tido a mesma dificuldade, mas vou ser cuidadosa para não deixar hematomas.

- O que aconteceu, Naruto?

- Bem, sabe como é...

Punciono a agulha.

- Eu e Hinata-chan nos casamos.

Levanto meu olhar para Naruto-kun, como quem diz: "precisava dizer agora?"
Mas eu não sei o que pensei que aconteceria, porque, na verdade, nada acontece.
Sasuke-kun varia o olhar entre a agulha que acabou de atravessar sua pele e depois volta o olhar para seu amigo, então diz com a voz e a expressão perfeitamente neutras.

- Parabéns.

Ele não está nem um pouquinho surpreso.
E Naruto-kun parece sem jeito agora. Assim como eu, ele não entendeu porque nada de mais aconteceu, mesmo se tratando de Sasuke-kun.

- Só isso? Caramba, você é muito chato! Achei que brigaria comigo por não esperar você voltar. Queria que ficasse bravo e ofendido!

- Não. Mande os parabéns para Hinata também. Ela é louca.

Seguro a risada e volto minha atenção para o que faço, trocando o soro e o tubo, adicionado com um anti-inflamatório forte -porque no fundo ainda sou egoísta o suficiente para querer que Sasuke-kun descanse um pouco mais, mesmo que ele queira ficar acordado.

- Hã? Por que? Eu vou ser um ótimo marido, dattebayo!

- Então o que está fazendo aqui?

- Eu sou um bom amigo também.

- Naruto...

- Não vou embora! Na verdade, talvez eu passe a noite aqui como um castigo pra você e sua tei-

- Naruto...

- Já disse, não vou deixar você sozinho!

- Naruto, você não entende nada? Por que é tão idiota?

Levanto minha cabeça quando meus amigos ficam em silêncio de repente.
Não consigo entender o que aconteceu, mas percebo Naruto-kun olhar para mim e de volta para Sasuke-kun, que está com a cabeça virada para o lado oposto ao meu, então não sei se está fazendo alguma expressão insinuativa.
Na verdade, não entendo nada.

- Ah, é! Acabei de lembrar que tenho mesmo um compromisso...

Naruto-kun diz enquanto se levanta, gesticulando exageradamente.

- Vou lá, então. Sabe como é, eu nunca me atraso.

Ele quase sempre se atrasa.

- Fique com ele, Sakura-chan. Eu volto amanhã.

- Não precisa. Eu não vou mais estar aqui.

Ouço o que Sasuke-kun diz e o interrompo na mesma hora.

- Mas é claro que vai! Quem disse que eu te dei alta?

Ele vira a cabeça e me encara com as sobrancelhas levemente franzidas.

- Eu não quero ficar aqui.

- Mas precisa.

- Já estou bem.

- Não discute comigo, Sasuke-kun. Eu já disse que ainda quero te matar.

Uma risada tensa nos interrompe no fim do quarto e nós olhamos para o dono dela.

- Bem, eu já tô indo, então... não se matem.

- Tchau... Naruto-kun.

Meu amigo sumiu da sala antes mesmo de eu conseguir dizer o nome dele.
Volto meu olhar para Sasuke-kun, que está distraído consigo mesmo, ele levanta a camisa e olha para seu próprio torso.

- Foi você que suturou?

- Não. Por que?

Assim que respondo, ele muda completamente. Abaixa a camisa e parece ansioso de repente, demora um pouco pra olhar para mim.

- Sakura... Outra pessoa cuidou de mim enquanto estava desacordado?

- Não me deixaram tomar conta de você porque somos conhecidos. Mas qual o problema?

- Não... Esquece. Só me sentiria melhor se tivesse sido você.

- Me desculpe.

Acabei de lembrar que Sasuke-kun não gosta de toques desconhecidos, ainda mais quando não está totalmente consciente.

- Tanto faz.

O que?
Ele já parece dar de ombros para o assunto mais uma vez e já está brincando com meu cabelo entre os dedos.

- Como você está se sentindo agora, Sakura?

- Hmm... Ainda um pouco preocupada com você, mas muito feliz por saber que vai se recuperar. Vai me contar como foi lá fora?

Ele balança a cabeça negativamente.

- Podemos não falar de mim pelo resto da noite? Como você mesma disse, eu ainda vou estar aqui amanhã. E tenho certeza que fez algo que está me dando sono quando colocou isso aqui...

Ele olha para a agulha que leva o soro -e o remédio- para suas veias.

- Então quero que converse comigo enquanto ainda estou acordado e consigo te ouvir.

Ele bate de leve no vazio que deixei na cama quando me levantei.
Me aproximo novamente e Sasuke-kun me puxa para perto até eu estar deitada ao lado dele, com a cabeça sobre seu braço.

- Eu trabalhei por horas e ainda não tomei banho.

Aviso para que ele não se apague muito a mim pela sua própria saúde, mas de nada adianta.

- E eu tô cheirando a hospital e doentes.

- Hã? Você não es-

- Shh. Sakura, fique comigo esta noite. Posso dar mais espaço pra você, se quiser.

- Não, eu estou bem assim.

A única coisa que precisa de mais espaço agora é o meu coração, que parece não caber no peito.

- Me diz como foram os seus últimos dias.

Aprendi a reconhecer quando Sasuke-kun está com sono, então decido ajudá-lo a se render mais rapidamente.

- Posso te contar tudo isso amanhã. Agora você pode fechar os olhos e dormir, eu vou cuidar de você.

- Hm... Eu queria conversar com você. Mas...

Os efeitos colaterais do anti-inflamatório começam a agir antes que ele possa terminar sua frase, e o sono o arrasta contra vontade.
Me desculpe, Sasuke-kun.
Mas a saúde dele é realmente importante para mim.
Me sento devagar na cama para conferir que o soro está descendo e o braço dele está esticado, então puxo os lençóis para cima de nós e volto a me deitar.



O Silêncio do UchihaOnde histórias criam vida. Descubra agora