Vida de Konoha - parte 1

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A sala era monocromática, tal como no restante do consultório. Tantos tons de preto e de branco que iam até o cinza e o bege. Lembrava um pouco a minha casa antes de ser minha e da Sakura.

Toda vez que eu me sentava de frente para o psicólogo, tudo se fechava. E era difícil abrir.

Ele tentou falar comigo sobre os pesadelos. Não deu muito certo. Depois perguntou como foi minha semana. E agora...

- Fiquei sabendo que os remédios não estão respondendo bem mais uma vez, Uchiha-san. Vem se sentindo mal?

- Essa merda tá me transformando em cinco dentro da mesma pessoa, agora sim eu tô pirando.

- As mudanças de humor são esperadas, nós falamos que isso podia acontecer. Não se preocupe, vamos encontrar um equilíbrio em breve.

- É o que Sakura diz também.

O terapeuta me olhou com cautela quando mencionei minha esposa, e então isso pareceu dar a ele a abertura que estava procurando:

- Por que não falamos sobre o seu relacionamento amoroso hoje?

Eu não gostei daquela sugestão.

O nome do psicólogo era Hiroshi, ele era o mesmo que me atendera com maior precisão quando voltei para Konoha. Os cabelos grisalhos denunciavam que já estava perto dos cinquenta anos, o que me deixava curioso sobre como devia ser ter um corpo que aguentaria viver tanto. Ele era esperto e sério, passava confiança quando falava e flexibilidade quando tentava me desvendar. Exatamente como um psicólogo devia ser, eu suponho.

De forma contraditória, o fato de ele ser bom para interpretar pessoas me deixava mais evasivo.

- O que a Sakura tem a ver aqui?

- Você sempre menciona ela, parece que te ajudou muito nos últimos anos e que é alguém de quem realmente gosta. Não tenho dúvidas de que é uma mulher muito inteligente, então se ela está com você, é porque você também é bom para ela. Me fala como é a interação de vocês como esposa e marido.

- Ela é emocional demais e eu sou racional demais. Nós nos comedimos.

- E por que decidiu se casar com ela?

- Porque ela é minha tanto quanto eu sou dela. O casamento foi só uma forma moralmente aceita de mostrar isso para o mundo.

As sobrancelhas do terapeuta mexeram alguns milímetros.

- Para você, o casamento significou uma conveniência socialmente apresentada, Uchiha-san?

- Sim.

Inexpressivo, o terapeuta fez anotações, então voltou a olhar para mim.

- Agora mesmo você disse que ela é sua tanto quanto você é dela.

- Disse.

- Vocês costumam se tratar dessa forma ou é só você que encara a relação assim?

- Não, é recíproco. Eu e Sakura precisamos da entrega total em quase todos os nossos momentos juntos. Sakura é cheia de vida e ousadia, ela quer que alguém a segure quando sentir vontade de se jogar, e eu sou o alguém que vai empurrá-la, mas não vai deixar ela cair. Nunca.

- O que quer dizer?

- Quer dizer que estamos quase sempre levando um ao outro ao limite.

- Como vocês fazem isso?

- Temos nossos meios. Fazemos de maneiras diferentes, mas os dois aguentam a barra.

- Como cada um faz?

O Silêncio do UchihaOnde histórias criam vida. Descubra agora