O Silêncio do Uchiha

Último Dia - Parte1

Passei as últimas 32 horas inteiras no hospital, dando o máximo de mim para ajudar o maior número possível de pessoas antes da minha folga.
Obviamente, no fundo, estou cansada; mas isso realmente não importa para mim porque estou todinha animada.
Vou surpreender Sasuke-kun hoje!
Eu disse que queria jantar com ele ontem e o mesmo provavelmente ficou me esperando, já que não pude sair do hospital. Ficar com ele me faz esquecer do mundo afora, então não pensei no meu plantão quando propus o jantar.
Preciso me desculpar com ele.
Preciso me desculpar por tudo.
Por tê-lo exposto à Ino sobre sua virgindade.
Por ter me deixado levar por um jutsu ordinário e quase matá-lo asfixiado.
Por não acreditar que ele pode lidar sozinho com outros.
Por tê-lo feito de idiota na frente do Orochimaru e da Karin.
Sasuke-kun está sendo tão paciente comigo...
Sinto que devo recompensar meu garotão de alguma forma.
Pensei em tudo enquanto corria pelos corredores do hospital.

- Sakura! Sakura! Vai seguir meu conselho? Eu posso ajudar!

Vejo minha amiga correndo até mim, ainda com o jaleco pendurado no braço enquanto sai às pressas do hospital.
Bem... Eu também falei para a Ino, precisava de ajuda para fazer algo inesquecível.

- Ah, por favor! Preciso de flores.

Ela sorri para mim, andando ao meu lado.

- A ideia é boa, mas Sasuke-kun gosta de flores?

- Todo mundo gosta.

Dou de ombros, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.

- Uhum... Mas, Sasuke-kun é... bem diferente.

Ela diz timidamente, como se não quisesse me deixar triste, mas talvez minha ideia fosse ruim.
Ai, meu deus! Será?
Olho desesperada para Ino, que volta a abrir um sorriso gentil.

- Relaxa. Ele vai gostar, já que você quem vai dar, não é?

Assinto, ainda um pouco insegura.
Tento pensar em algo mais, mas não tenho nenhuma outra ideia de presente para o Sasuke-kun. Eu queria preparar um jantar, presentea-lo com flores e ter uma noite agradável. Marcar de uma vez a minha mudança de comportamento com ele. Passar a ser mais cautelosa.
Ele é muito reservado.
E é aí que me dou conta:
Eu não sei do que Uchiha Sasuke gosta.

O mundo continua em rotação, mas minha mente ainda está congelada quando chegamos na floricultura da família da Ino.

Sasuke-kun não come senão para se manter forte, às vezes nem isso, então não tem apetite. Ele tem muitas músicas, mas nunca falou sobre qual é seu gênero favorito. Ele tentou dançar comigo, mas não quero acabar pisando no pé dele.

Uma vez o vi escrevendo, durante nossa viagem a Iwagakure, mas eu mal sei qual é a caligrafia dele. Sasuke-kun não tem um senso de humor fácil de atingir.
Ele não fica impressionado facilmente.
Eu estou perdida! Não sei nada sobre ele!
Não sei qual sua cor favorita. Não sei quais flores ele mais gosta. Não sei se gosta de animais, ou até de pessoas. Não sei o que faz para relaxar -não sei nem mesmo se ele consegue relaxar.
Ele me pegou! Todo esse tempo, ele conseguiu!
Me deu informações difíceis, como eu queria, mas conseguiu se livrar de me dizer as coisas mais simples.
Ele é um ser humano!
Precisa se abrir comigo, precisa se permitir gostar de algo, ou alguém.
De mim...
Tudo o que sei é que ele é um ninja imbatível; muito inteligente; sei que não consegue dormir bem por conta de seus demônios; sei que é implacável quando se trata de sexo; e que metade de Konoha não gosta dele.
Meu deus! Do que Uchiha Sasuke gosta?
Como um flash, me lembro do nosso primeiro dia como Time 7. Me lembro da resposta que ele deu:

"Eu detesto muitas coisas. E não gosto de nada em particular."

Não! As coisas mudaram, ele mudou!

- Sakura, está tudo bem?

Ino me faz encaixar nos eixos da Terra.

- Minha cabeça vai explodir!

Ela levanta uma sobrancelha diante da minha confissão dramática -porém nem tanto- enquanto abre a loja para nós.
Os variados cheiros limpos das flores invadem meu olfato.
Ele tem que gostar disso!

- Então, vamos nessa.

Ino deixa seu jaleco de lado e eu a acompanho até a estufa natural nos fundos da loja.

- Podemos pensar sobre as Violetas, combinam com os tímidos.

Balanço minha cabeça negativamente.

- Não quero que ele fique ainda mais evasivo.

Minha amiga bate a mão na testa.

- Ah, claro! Eu deveria ter pensado nisso.

Continuamos andando, então Ino solta uma curta risada quando me pega olhando para as Rosas.

- Nem pensar! As Rosas são para os românticos. Eu nunca vi isso no Sasuke-kun.

Eu apenas assinto para ela, a fim de não expor meus momentos com ele.
Amo quando me chama de "meu anjo", brinca com meu cabelo, dorme comigo...
Ah, Ino, mal você sabe sobre esse lado... Só eu!
Meu humor ainda não é dos melhores, mas consigo sorrir facilmente só de pensar que sou única para ele. A única dele.
Meus olhos recaem sobre os Girassóis.

- São lindos!

Aponto para que Ino veja, mas em seguida ela faz uma careta.

- Para os alegres...

Ela diz simplesmente e eu já sei que essas flores com certeza não são as que melhor combinam.

- Talvez as Orquídeas caiam bem; para os mais exigentes.

- É, talvez...

Particularmente, não gosto muito do cheiro das orquídeas. Mas, quem sabem...
Não! Tem que ser algo que represente o que há entre nós!
Ino não tem que entender a minha escolha, desde que Sasuke-kun goste.

- Eu vou levar as Rosas.

Minha amiga se vira e me olha surpresa.

- Hã?

- Um buquê de Rosas, tem que ser lindo, mas nada de mais.

Quero ficar dentro da minha tênue do que agrada e desagrada Sasuke-kun.
Ino fica mais alguns segundos me encarando, estupefata. Enfim ela abre um sorrisinho cúmplice e assente para mim.

- Algo me diz que as Rosas Vermelhas serão perfeitas.

Ela solta uma curta risada e se afasta para preparar o buquê.
Todas Vermelhas?

- Espera... A cor também tem um significado?

- Claro, sua bobinha!

Ai, meu deus!

- Qual o significado das Rosas Vermelhas?

Ela não me responde e continua se afastando.

- Ino! Espera! Volta aqui!




Quase vinte minutos depois saio da floricultura, me despedindo da minha amiga, que negou de todas as formas me dizer o significado das Rosas Vermelhas.
Espero que ele gosta.



Antes de ir para casa, deixei uma carta na casa aparentemente vazia do Sasuke-kun. Confesso que me senti idiota por ter escrito a mesma coisa mais de cinco vezes durante meu almoço de ontem, apenas para ver em qual carta minha letra ficava mais bonita.
Não sei por que, mas ele parece fazer tudo tão perfeitamente, que me inspira a tentar também.



Meu apartamento não é tão grande como a casa de Sasuke-kun, mas faço tudo o que posso para deixar o mais confortável possível.
Preparei oniguiri, do jeito que ele gosta -eu acho. Acendi algumas velas pela casa e deixei nosso jantar posto no chão da sala, com a mesinha de centro como apoio. As rosas perfeitamente posicionadas no centro do sofá.
Está tudo pronto... Menos eu!
Quando estou indo para o meu banheiro, a fim de tomar um banho e depois perder alguns bons minutos para escolher uma linda lingerie, o interfone do meu apartamento toca.
É como se eu tivesse batido a cabeça com força, de tão surpresa.
É ele? Não... Não pode ser.
Corro para a cozinha e vejo que já passa das dez horas da noite.
Como? Já?
Eu perdi tempo demais ajeitando nosso jantar, que me esqueci que Sasuke-kun poderia chegar cedo ou tarde.

- Ai! Ai! E agora?

Calma, Sakura! Vá atender ele! Não o deixe esperando para sempre de novo, como fez ontem, senão ele vai embora achando que vai ganhar outro fora.
Minha deusa kunoichi interior está gritando para mim e isso instintivamente me leva até o interfone. Ainda no automático, libero a entrada do Sasuke-kun e corro até o meu quarto.
Paro na frente do espelho.
Cabelo bagunçado. Roupas do dia a dia. Provavelmente fedendo à luvas de látex e medicamentos.
Uau, Sakura. Você está irresistível.
Minha deusa kunoichi interior tenta me animar, pra variar um pouco, mas a verdade é que nós duas queremos nos enfiar debaixo dos cobertores.
Que desastre!
Só tenho tempo de escovar meus dentes rapidamente antes de ouvir batidas firmes na porta da frente do meu apartamento.
Ah, com certeza é ele.
Já posso imaginá-lo, lindo, lindo mesmo, lindo de morrer, olhando para mim... Essa bagunça.

Não sei de onde vem a coragem, mas abro a porta.
Um par de olhos afiados está em mim.
Aquele par de olhos.
Eu estava certa: ele está lindo demais. Ele simplesmente é lindo demais. Até mais do que eu imaginava, mesmo com suas roupas de quase sempre, sem capa.
Adoro quando ele vem me ver já sem a capa!
Mas eu estava errada sobre seu olhar. Ele não está me olhando como o trapo que sei que estou, não mesmo.
Sasuke-kun está me olhando com tanta intensidade que faz parecer que todas as borboletas do mundo resolveram vir bater asas na minha barriga.
Eu descongelo. E esse Uchiha ateia fogo em mim.

- É você mesma.

Ele diz de forma neutra. E eu não entendo.

- Na verdade, eu não estava criando expectativas, e ainda assim é muito bom ver você.

Então sei do que está falando.
Se liga, Sakura! Esqueceu que você deixou ele plantado, esperando por um jantar ontem?
Engulo em seco e dou um passo para o lado, o convidando a entrar.

- M-Me desculpe...

Sussurro, o encarando nos olhos.
Ele apenas abre um pequeno sorriso, quase nada -mas eu aprendi a perceber.
Quando Sasuke-kun adentra meu apartamento, o próprio fecha a porta porque estou paralisada. O mesmo se vira para mim e sou presenteada com um selinho leve nos lábios.
Quando levanto a cabeça, ele está olhando com a cabeça virada para o lado.
Uchiha Sasuke é altamente perceptível. Eu apostaria alto que ele já descobriu metade de toda a surpresa, só pelo cheiro e a iluminação que vem da sala.
Por favor, Sasuke-kun, goste disso! Por favor, goste!
Torço por isso enquanto o pego pela mão, então deixar minha repentina timidez de lado.

- Eu me esforcei para dar desculpas descentes...

Com minha mão tremendo dentro da dele, o puxo até a sala.
Meu garotão olha ao redor do cômodo, silenciosamente.
Por um milésimo de segundo, tenho certeza que o vi fazer uma expressão que não entendo.
Pareceu que seus pensamentos saíram da Terra, rodaram no anel de Júpiter e voltaram ao nosso planeta.
Quando penso que está distraído com algo preocupante de verdade, ele olha para mim e sorri.
Um sorriso amplo!
Ah, deus, os dentes dele sempre foram tão claros ou eu que só percebi isso agora porque ele quase nunca sorri por mais de um segundo?

- Você é linda. Está sempre me surpreendendo. Eu nunca sei com que novo lado de você vou me encontrar.

Ela diz cada palavra sorrindo.
Eu me derreto. Sei que nunca vou me recuperar dessa.
Seu sorriso é como um relâmpago na escuridão, ofuscante, admirável, misterioso, e eu o desejo com tanta força que dói.
Isso vai voltar a acontecer no próximo ano? Espero que sim.