Capítulo 3 - Não vou me casar!

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BÁRBARA:

Sinto meu coração palpitar. Mal acreditei no que acabei de ouvir.

— Noivo? — balbuciei.

— Exatamente! Veja, querida. — disse meu avô se aproximando de nós dois alegremente, já embriagado pelo vinho.

Analiso o meu tal noivo atentamente. Apesar de ter uma bela aparência, me casar com ele era o cúmulo! Mesmo de ter inúmeros pretendentes, vovô sempre respeitou o meu tempo de fazer as coisas, por quê justo agora ele queria controlar minha vida amorosa?! 

— Querida, o Lorenzo é da família LeBlanc que possue uma ótima relação com nossa família desde que seu pai era vivo. Ele é o único neto do meu velho amigo, Sr. Franklin. Casar-se com ele, certamente a fará muito feliz! 

Deixo escapulir uma risada rude.

  — Vovô, você está claramente vendendo a sua única neta para um desconhecido qualquer! E daí que ele seja neto do seu amigo ou quem quer que seja?! Eu me recuso a casar com ele! — exaltei-me na voz.

Meu avô me olha furioso, mas não me arrependo de ter dito tais palavras. Se há uma coisa que eu não irei fazer é me casar com esse charlatão.

  — Acho que eu e minha futura esposa, precisamos de mais tempo para nos conhecer, Sr. Samuel. A proposta só a deixou bem surpresa. É claro que a Bárbara não fará uma desfeita entre as nossas famílias. — falou suavemente Lorenzo, deslizando descaradamente sua mão até a minha cintura.

Retiro a mão dele de mim e o empurro para longe.

  — Não vou me casar. Não vou! — gritei até todo o ar do meu pulmão se esvaziar. 

  Meu avô me olha, com a testa franzida, e uma boca rabugenta. Ele aponta o dedo para mim e se exalta:

  — Você é uma moça livre sim, porém, é a minha neta! Então, fará o que eu mandar! Nem que seja por cima do meu cadáver, Bárbara!

  Lorenzo percebe que o Sr. Samuel estava prestes a passar mal, ele o ajuda a se sentar. Depois Lorenzo se vira para mim, questionando-me:

  — Seu avô só quer o seu bem! O que há de tão errado em casar comigo? Por acaso não lhe agrado o suficiente, Sra. Rodríguez?

  Neste momento, entra um garçom com uma bandeja com um copo de café. Ao entrar na sala, o garçom se constrange, pois entrou justamente no momento errado, no meio de uma discussão amorosa. Envergonhado, ele ia sair devagarinho, mas meus olhos percorrem imediatamente a bandeja prateada e noto o copo transparente com um líquido preto fervente. Não pensei duas vezes, pego-o. Lorenzo e meu avô me olham estarrecidos. Esbanjo um sorriso falso em meus lábios e me aproximo aos poucos de Lorenzo.

  — Deixe-me ser bem clara, querido. Essa união foi arranjada pelos patriarcas, não por mim. Segundo, eu não te escolhi para ser meu marido, eles que escolheram! Terceiro, acha que eu devia aceitar essa situação? — questionei.

Antes que Lorenzo respondesse, olho para o meu avô, depois ao garçom e por fim ao meu noivo e digo:

  — Acontece que eu não sou uma mulher qualquer. Sou Bárbara Rodríguez! Em outras palavras, a única herdeira de minha família! Nenhum outro homem roubará o que é meu por direito! Mas vamos com calma. Antes eu queria brindar a todos vocês por essa confraternização tão... Especial!  Um brinde a ruína de nossas famílias! Ao Sr. Lorenzo... Meu querido noivo!

  Dito isso, jogo o copo no meu pretendente, o líquido é despejado e começa a escorrer para dentro da roupa, queimando a pele de Lorenzo, e sujando todo seu terno de alta costura. Rapidamente ele tira o paletó agitado por sua pele estar pinicando por conta do calor do líquido preto.

  Vendo ele se espernear, não consigo deixar de rir da situação.

   — Bárbara! — esbravejou meu avô ao ver o que acabei de fazer.

  Sorrio sem nenhum arrependimento e respondo em voz alta:

  — Sua proposta foi definitivamente rejeitada, Sr. LeBlanc! Não iremos nos casar nem aqui e nem em outra vida. Pode esquecer!

  — Ficou louca, mulher?! Esse é um terno de alfaiataria! Custa uma fortuna!

  — É mesmo? Oh... Pobrezinho! — retribuo com um tom de ironia na voz.

  Retiro da bolsa minha carteira e pego meu cartão para emergência feminina. Olho para meu noivo e o coloco na mesa, onde Lorenzo me encarava com ódio.

  — Fique com isso. Tem 30 dólares neste cartão. Pelo menos pode pagar o quanto vale a sua reputação de agora em diante! Tchauzinho, Lorenzo. — me despeço debochadamente.

  Me viro decidida e o garçom se estremece ao me encarar nos olhos. Sorrio suavemente e retiro de minha bolsa uma gorjeta de 150 dólares e coloco no bolso da camisa do garçom.

  — Obrigada pelo... O que tinha mesmo no copo? — indaguei, curiosa.

  — Café puro, senhorita.

  — Ah. Foi de muita utilidade! Obrigada, querido.

  Saio sem me importar com a bronca do meu avô e torcendo para que Lorenzo desistisse de se casar comigo. Espero ter feito o máximo para que esse casamento não acontecesse. 

  — Que Deus me ouça! — pensei, saindo do restaurante e voltando para a mansão.


O Coração em ChamasOnde histórias criam vida. Descubra agora