Capítulo 78 - Não há essa chance!

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LORENZO:

Fico pasmo ao ouvir tal coisa. Nunca ouvi alguém dizer que não possuísse memória. Mas ao ver a expressão no rosto de Bárbara, vejo que não era mentira. Porém, não consigo entender, porque o Sr. Samuel nunca me contou sobre isso.

Retorno meu olhar a Bárbara e ela me encara com um sorriso triste.

— Acha que eu estou inventando tudo isso?

— É meio difícil de acreditar, mas... Eu estou disposto a ouvi-la. — afirmei.

Ela retorna seu olhar para o longínquo horizonte e começa a contar:

— Não sei ao certo quando isso tudo começou. Mas, quanto mais me esforço para me recordar de algo, minhas lembranças parecem se tornar cada vez mais invisíveis e inexistentes. Não consigo lembrar de nada da minha infância.

— Por que você não foi a um...?

— Médico? — ela sorriu meio desapontada. — Já fui a vários e todos me deram uma única resposta: "não existe uma data definitiva para você recuperar sua memória."

Ela passou a mão rapidamente no rosto. Vê-la desse jeito, me deixava triste. Por que insisti em fazê-la contar sobre isso? Droga, Lorenzo!

— Você não se lembra de nada mesmo? — indaguei, meio receoso.

Ela não me encara, apenas solta um suspiro de angústia misturado com um choro.

— Na verdade... Não sei ao certo, mas tem coisas que eu inexplicávelmente me fazem travar e desencadear uma crise de pânico... É como se estivesse relacionado com o meu passado, mas eu não consigo lembrar de nada. — ela explicou.

— Tipo o quê? — perguntei, curioso.

— Som de tiros e fogo. Só de ver ou ouvir, sinto-me petrificada! — ela contou, apavorada. — Teve até uma vez...

Vejo ela hesitar, acho que seus sentimentos estão a flor da pele. Tomo sua mão e faço carinho, tentando acalmá-la.

— Não tenha medo. Eu estou ao seu lado agora. — falei, tentando tranquilizá-la.

Ela respira fundo e me faz a seguinte pergunta:

— Você se lembra de quando cuidou de mim, depois que me resgatou do cativeiro?

Confirmo lentamente com a cabeça.

— O sonho que tive... Eu vi um homem familiar tirar uma menininha de um incêndio... Tudo ao redor, estava sendo consumido pelo fogo... Então, esse homem pegou a menina e a escondeu num compartimento secreto... Depois vi... Esse homem levando um tiro no peito... E ele caiu no chão, morto... Bem na minha frente. — ela confessou já engatando num choro.

— Então o que houve na mansão Rodríguez foi uma tentativa de homicídio! O Sr. Bernardo foi o alvo nesse esquema todo! - pensei, preocupado. — Ou seja, o criminoso ainda está a solta!

Logo, ela solta alguns soluços nervosos. Percebo que Bárbara estava prestes a entrar numa crise de pânico. Tomo sua mão e a puxo para perto de mim, envolvendo-a em meus braços. A abraço com força, com a intenção de acalmá-la.

— Não precisa me dizer mais nada! Eu acredito em você! — sussurrei em seu ouvido.

Então, Bárbara não resistiu e começou a chorar copiosamente em meu ombro. Eu a aperto ainda mais, tocando minha mão levemente em suas costas, dando meu apoio e consolo.

— E não se preocupe, eu vou te ajudar a recuperar as suas memórias. Eu prometo! — declarei.

De repente, Bárbara se afasta de mim, com um olhar preocupado.

— Lorenzo, eu preciso te perguntar uma coisa. Se existisse outra mulher... Igual a mim... Você trocaria ela por mim? — ela perguntou meio hesitante.

Imediatamente reconheço o que Bárbara queria dizer. Então ela sabe da existência de Bianca. Mas por que ela não conta para mim? Deixo esses pensamentos de lado, ao ouvir ela falar novamente:

— Quero dizer... Você ainda me amaria?

Vejo em seus olhos, um semblante assustado. Ela deve pensar que eu supostamente trocaria ela por sua própria irmã. Como ela é boba!

Esboço um pequeno sorriso em meus lábios.

— Não há essa chance! — brinquei.

A frase era apenas uma brincadeira, mas vejo logo lágrimas descerem do rosto de Bárbara. Ela deve ter levado o meu comentário a sério. Antes que ela fizesse qualquer coisa, pego seu rosto carinhosamente e a surpreendo com as palavras de meu coração:

— Não há menor possibilidade de te deixar! Nós nunca vamos nos separar, bobinha.

— Mas e se...? — ela insistiu em questionar-me.

Acaricio sua bochecha, direcionando meu olhar apenas a ela.

— Não importa o que aconteça, só existe você no meu coração! — declarei-me, apaixonado.

Logo, um sorriso de felicidade toma conta de sua face e de repente, ela me surpreende, pulando em meus braços. Depois ela sussurra em meu ouvido na maior alegria:

— Eu te amo!

Fico feliz em ouvir tal resposta. Se Bárbara estiver mesmo escondendo algo, eu não vou ter pressa em saber. Eu confiarei nela e quando ela estiver pronta para contar-me, eu estarei ali para ouvi-la e apoiá-la.

Sorrio calorosamente e retribuo seu gesto de amor dando um selinho em sua testa.

Felizes e apaixonados, demos as mãos novamente e continuamos a caminhar pelo restante da praia.

O Coração em ChamasOnde histórias criam vida. Descubra agora