Capítulo 59 - Me desculpa

89 6 0
                                    

BIANCA:

Tento manter a rigidez e a frieza diante de Lorenzo. Exatamente como a Dra. Esther me instruiu.

O envelope branco ainda estava em minhas mãos. Encaro Lorenzo, ele parecia hesitante em pegá-lo. Então, resolvi provocá-lo um pouco.

—  Está com medo? Ou acha que armei tudo isso?

Ele finalmente me olha nos olhos.

—  Tenho certeza de apenas uma coisa, você é a pior pessoa que já conheci. Suas belas palavras não passam de mentiras sedutoras!

—  Eu estou doente, Lorenzo! O que está aqui, comprova tudo.  — falei duramente.

Ele rapidamente tira o envelope das minhas mãos e o abre depressa. Lá ele vê relatórios e gráficos médicos. Ele folhe-a cada papelada atentamente e depois me encara pasmo.

—  O que significa isso, Bárbara?!

—  Você quer a verdade, Lorenzo? Pois bem. Eu vou te contar!  — anunciei.

Sinto seu olhar fixado em mim. Não posso falhar agora. Você consegue, Bianca!

—  A doutora Esther é a médica responsável pelo meu tratamento.

—  Você...?

—  Exatamente. Há um tempo atrás, tive um problema de saúde bem agravante. Entretanto, escondi de todos da mansão e inclusive do meu avô, pois não queria gerar preocupação a ninguém. Então, fiz uma consulta em segredo e os exames deram nesse resultado. Eu sofro de uma anemia profunda, Lorenzo. Fiquei em choque no início, é claro. Mas o consultório me recomendou a doutora Esther, que era uma especialista nesta área, para que ela cuidasse pessoalmente do meu caso. E ela me disse que a melhor opção seria fazer um tratamento durante um ano. Aceitei, desde que guardasse segredo da família Rodríguez.  — expliquei, com um olhar sério e num tom seco.

Vejo a palidez no rosto de Lorenzo. Aquilo parecia ser informação demais para ele.

Para ele não ter dúvidas, reforço um pouco mais em minhas palavras:

—  Até aqui, todas as minhas saídas de casa foi para ir ao hospital, para fazer o tratamento com a doutora Esther.

—  Quer dizer... Que naquele dia que choveu, o carro que te levou em casa foi...

—  Sim, era a Esther. Ela me ofereceu carona depois de terminarmos a sessão.  — confrontei-o friamente.  — Foi a própria Esther que me deixou em casa, e não um homem, como você me acusou naquele dia. Mas o que você fez? Me trancou no quarto antigo sem ao menos saber a verdade!

—  Bárbara, eu...

Lorenzo tenta falar, mas o interrompo imediatamente:

—  O que aconteceu hoje ao visitar o vovô, foi porque tive medo. Esther não sabia nada sobre minha família, devido o nosso acordo. Assim que eu a vi e soube que ela era a médica responsável pelo meu avô, eu tive medo do meu segredo ser descoberto. Diante da situação que se encontra o meu avô agora, eu fui atrás de Esther e explicar tudo. Não é só a minha saúde que está em jogo, Lorenzo, é o do meu avô também. Você não tem o direito de se intrometer nos meus assuntos pessoais!

Observo suas mãos tremerem e amassarem o boletim médico lentamente.

Seus olhos assustados percorrem pelo papel, até parar sob mim. E surpreendentemente, ele agarra meu braço e me puxa para si, dando um abraço longo e apertado.

Fico imóvel. Não esperava que ele fizesse tal ato. Tento falar, mas hesito. Naquele momento, o silêncio entre nós era precioso demais para ser interrompido por palavras insignificantes.

Sinto suas mãos me apertarem ainda mais. Percorrerem pelas minhas costas, a ponto de acariciar meus cabelos. Lorenzo mergulha suavemente sua cabeça em meu pescoço. Uma faísca invade o meu corpo, deixando-me arrepiada. Fecho os olhos tentando assimilar a situação.

Até que eu ouço, desajeitadamente de seus lábios:

—  Me desculpa.

—  O que disse?  — perguntei no impulso.

Ele me envolve mais ainda em seus braços, como se ele quisesse me proteger de algo ou de alguém.

Até que Lorenzo repete com uma voz meio chorosa:

—  Me desculpa, Bárbara! Eu te maltratei e a acusei injustamente. Desculpa por duvidar de você. Me perdoe!

É a primeira vez que ouço Lorenzo soluçar de choro. Emocionada, retribuo o abraço e o envolvo em meus braços. Claro que tudo o que eu disse, foi exatamente como Esther me instruiu a fazer. Mas vê-lo assim, sinto-me meio culpada. Mas era necessário manter minha identidade em segredo.

Nos afastamos um pouco, mas ainda mantínhamos próximos. Lorenzo me olhava com um certo brilho no olhar. Um olhar que eu já tinha visto antes. Quando ele me salvou do cativeiro e cuidou de mim.

—  Lorenzo... 

—  Shhh... Não diga nada.  — ele sussurrou para mim.

Sensibilizados com o calor do momento, Lorenzo pega suavemente o meu rosto e encosta seus lábios nos meus, dando-me um beijo apaixonado. Me surpreendendo.

Mas não sei porque, não o afasto. Deixo de pensar, fecho os olhos e entrego-me ao desejo misterioso guardado em meu coração que reside a um bom tempo.

Eu beijo Lorenzo de volta.

O Coração em ChamasOnde histórias criam vida. Descubra agora