BIANCA:
Reparo nas mãos de Lorenzo, ele fazia um movimento repetitivo. Eram sinais de ansiedade. Observo também, o tal cliente. Ele parecia desviar seu olhar de mim. Há algo de errado aqui.
Retorno meu olhar para Lorenzo e o confronto sem hesitar:
— Estou esperando a resposta, Lorenzo. Diga-me. O que está acontecendo?!
Do nada, o senhor que mais parecia um detetive de filme, apenas se despede e vai embora sem dizer nada. Lorenzo se afasta de mim, mas rapidamente seguro seu braço.
— Não fuja do assunto! Sobre o que vocês conversaram exatamente? — questionei-o novamente.
Lorenzo toma a sacola da minha mão e põe em cima de sua mesa. Em seguida, ele pega em minhas mãos e me diz:
— São só uns processos chatos. Nada demais.
— Tem certeza de que é só isso mesmo? — indaguei, meio desconfiada.
Lorenzo me envolve em seus braços, dando-me um abraço gentil. Fico meio paralisada, mas percebo que ele esteja muito cansado. Eu não devia cobrar satisfações dele o tempo todo. Ninguém gosta de ser pressionado assim. Retribuo o gesto e falo:
— Vamos esquecer esse assunto. Confio em você. — sussurrei.
Ficamos assim parados por uns três minutos, até que Lorenzo se afasta e me encara com um olhar provocativo:
— O que foi?
— Estava pensando de relaxarmos um pouco. Que tal fugirmos do trabalho e darmos um passeio divertido pela praia? — ele propôs.
Ao ouvir a palavra "praia", meu coração explodiu de felicidade! Sempre quis ir numa praia grande, mas nunca tive essa oportunidade. Imediatamente, confirmo com a cabeça, empolgada!
Então, Lorenzo toma minha mão e saímos do escritório. Porém, somos barrados por Rúbia.
— Sr. LeBlanc, o senhor tem outras reuniões marcadas para hoje. Não pode sair agora. — ela falou de forma suave, mas rude.
Lorenzo solta-se de minhas mãos e se aproxima de Rúbia, deixando-a desconfortável sob um olhar furioso.
— Senhor, por que está me encarando assim? — ela questionou, meio ruborizada.
— Sabe Rúbia, estive pensando que hoje o mundo vai de mal a pior. Entende o que eu quero dizer? Sociedade hipócrita, pessoas fúteis, egoístas e interesseiras. Sabe o quanto é horrível esse tipo de pessoa? — ele dirigiu-se a Rúbia com tal pergunta inusitada.
Rapidamente, ela coloca aquela máscara de secretária boazinha e finge diante de mim e Lorenzo.
— Sim, o senhor tem toda razão.
— Pois bem, não quero pessoas desse tipo na minha empresa. Não posso impedir as pessoas de serem cruéis e egoístas, mas aprendi que posso me livrar delas. Está demitida, Rúbia! — Lorenzo declarou.
Após dizer isso, Rúbia tentou se jogar pra cima de Lorenzo, porém, ele desvia e ela acaba caindo, justamente quando Tomás passava com uma torta recheada numa bandeja e Rúbia acaba sujando-se toda. Tento prender o riso ao ver tal cena.
Lorenzo sorri, toma minha mão e advertiu Rúbia:
— Esse é o preço por ofender a minha namorada! Se a tentar machucar outra vez, ser demitida da minha empresa será pouco para você.
Dito isso, Lorenzo me leva para longe dali e entramos no carro, rumo a praia.
Por sorte, encontramos um comércio pelas ruas movimentadas da praia. Passamos em cada barraca, vendo as mercadorias que as pessoas tinham feito. Experimentamos colares de concha, tomamos refrescos, trocamos arquinhos de cabelo, havia também uma feira de livros no meio da praia. Achei aquilo super interessante!
Tinha de temas infantis e outras de temas mais adultos. Entusiasmada, pego um livro e começo a observar cada detalhe. Depois fomos até o píer e ficamos passeando de mãos dadas, contemplando ainda a luz do sol.
Até que Lorenzo começou a falar sobre suas histórias quando criança, cada coisa que ele contava, eu ria e ria. Nunca pensei que Lorenzo fosse tão sapeca quando pequeno.
— E você? — ele perguntou.
— Eu, o quê? — indaguei, sem entender.
— Me conta uma história sua. Você deve ter muitas, imagino! Aposto que você era uma pilantrinha tanto quanto eu. — ele respondeu em tom de brincadeira.
Suspirei de nervosismo. O que eu respondo? Será que ele me acharia estranho se eu contasse sobre o meu passado? Melhor não.
— Não tem nada de especial. — respondi.
Porém, sinto Lorenzo ficar decepcionado com a minha resposta. Mesmo me apoiando em tudo, e em certas coisas, eu não estava sendo honesta com ele verdadeiramente.
Ficamos de frente para o mar, em silêncio. Ouvindo apenas o som do mar e a deliciosa brisa a soprar. Lorenzo parecia evitar de iniciar um assunto comigo. Sei que ele está magoado e me doía vê-lo assim.
— Eu não tenho memórias. — confessei em meio ao vento.
Lorenzo me encarava de uma maneira confusa.
— Como assim? — ele me questionou.
— Essa é uma história complicada... Mas por você... Estou disposta a contá-la. — falei, finalmente.
Será que ele me acharia esquisita? Será que ele acreditaria em mim? Será que ele está pronto para saber que eu sou uma pessoa diferente de qualquer outra? Em saber que eu possuo uma memória fragmentada? Chegou a hora de tentar, Bianca!
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O Coração em Chamas
RomanceNuma noite de lua cheia, a mansão Rodríguez incendeia-se misteriosamente. O culpado tinha como o objetivo de apossar das empresas da família Rodríguez aniquilando todos que viviam naquela casa. O que ele não esperava, é que as gêmeas sobrevivessem...