BIANCA:
Quando o sol já estava se recolhendo no horizonte, Lorenzo achou melhor voltarmos para casa. Entramos em seu carro e ele colocou um estilo musical bem diferente: música clássica.
— Você gosta disso? — indaguei, curiosa.
— De quê?
— Sabe, desse tipo de música.
Lorenzo apenas dá de ombros.
— Gosto não se discute, querida. — ele me respondeu.
— Calma, eu não tô te criticando. É que, sabe, eu pensei, que assim como a vida devemos experimentar novos estilos. Vou te mostrar.
Mexo no painel de controle do carro, mas era tão tecnológico, que eu estava tendo uma certa dificuldade.
— Onde fica o rádio nessa droga de painel?! — reclamei.
Ouço uma risada abafada de Lorenzo. Acabo de perceber que minha voz tenha saído um pouco acima do volume normal.
Constrangida, paro o que estou fazendo e tento me recompor.
— Desculpa. — balbuciei, meio nervosa.
Com a mão no volante, e com a outra livre, Lorenzo mexe rapidamente em alguns botões no painel e a música se encerra.
— Eu... Não quis te ofender... É que...
Tento me explicar, mas sinto a mão livre de Lorenzo pegar a minha mão e entrelaçar nossos dedos.
— Não estou bravo. Apenas... Quero conversar um pouco com a minha namorada. — ele disse dando um sorriso rápido para mim.
Sorrio gentilmente. Conversar? Fiquei curiosa sobre o que conversaríamos.
Numa esquina que passávamos, o sinal ainda estava verde e Lorenzo parou o carro no acostamento.
— Por que paramos? — questionei, sem entender.
— Naquele dia que te encontrei com aquele cara, antes de você fugir, o que houve entre você e o meu avô? Ele te fez alguma coisa ou falou algo que te magoou? — Lorenzo me perguntou num tom sério.
Me apavoro com tal pergunta inusitada. Só de lembrar aquela conversa terrível que tive com o Sr. Franklin, me causava arrepios congelantes!
Mas o que me deixava mais assustada, era a visão que tive antes. De supostamente a imagem do rosto do Sr. Franklin aparecer naquele pesadelo, como o vilão, com a arma em mãos, atirando no homem que salvou aquela menininha tão frágil em meio ao fogo.
— Bárbara, por favor, diga algo. — ele pediu, tirando-me de meus pensamentos.
— Lorenzo... Que tipo de pessoa é o seu avô?
Percebo o olhar confuso em sua face com a minha pergunta. Mas eu precisava ter certeza de que Lorenzo sabia sobre o caráter duvidoso que seu avô realmente escondia de tudo e de todos.
— Como assim, Bárbara? — ele questionou.
Viro-me de frente e o encaro.
— É que às vezes... Ele parece ser uma pessoa totalmente diferente... Com um ar sombrio, sabe.
Lorenzo sorriu e assegurou com a maior naturalidade:
— Não há nada com o que se preocupar. Meu avô é apenas um idoso muito ranzinza. Ele é rígido, pois teve uma educação mais tradicional. Ele tem mesmo esse ar meio "sombrio", sim. Mas ele não faria nada de ruim. Ele é uma boa pessoa.
— Será mesmo? — pensei, atordoada, com a possibilidade de ele ser um possível assassino.
Sinto um cafuné em minha cabeça e ergo o olhar novamente para Lorenzo que tinha um semblante meio preocupado.
— Por quê? Algo te preocupa em relação ao meu avô?
Hesito em respondê-lo. Como não tinha certeza de nada por conta das minhas lembranças serem fragmentadas, não posso simplesmente acusar o próprio avô de Lorenzo, seria errado da minha parte e ele ficaria magoado. Eu não quero mais vê-lo arrasado por minha causa.
— Nada demais. Acho que no dia, eu estava tão nervosa em me encontrar com ele, que fiquei com as emoções a flor da pele. Na próxima vez que nos encontrarmos, eu pedirei desculpas ao seu avô pelo transtorno. Espero que ele não fique com raiva de mim. — respondi, tentando parecer convincente.
Lorenzo desce sua mão da minha cabeça, para as minhas mechas. Seus olhos possuíam um brilho cintilante cheio de ternura.
— Certamente meu avô irá entender. E comigo ao seu lado, ele não poderá discordar. — ele me falou de maneira gentil.
Lorenzo dá uma rápida piscadela para mim. O sinal ainda estava aberto, então ele sai do acostamento e prossegue a estrada, rumo a nossa casa.
Mas havia algo em minha mente que eu tinha certeza: preciso tomar cuidado quando me encontrar sozinha com o Sr. Franklin. Pois essa visão sendo real ou não, tenho muito medo do que esse homem possa fazer. Além do mais, existe alguém mirando em mim e eu preciso descobrir quem é, antes que essa pessoa me silencie de uma vez por todas!
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O Coração em Chamas
RomanceNuma noite de lua cheia, a mansão Rodríguez incendeia-se misteriosamente. O culpado tinha como o objetivo de apossar das empresas da família Rodríguez aniquilando todos que viviam naquela casa. O que ele não esperava, é que as gêmeas sobrevivessem...