Capítulo 5 - Quem é você?

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BÁRBARA:

Após o que ocorreu no restaurante, volto para mansão da família Rodríguez e passo o dia inteiro vendo meus filmes preferidos, como "Meninas Malvadas", um clássico. Até que ouço uma voz áspera chamando meu nome repetidamente:

— Bárbara! Bárbara! Venha até a sala, agora!

  Saio do meu cinema particular e desço as escadas de roupão, com a cara mais santa que eu podia ter depois de tudo que aconteceu.

  Ao chegar, deparo com meu avô olhando-me com um semblante sério.

  — Vovô, já chegou? Nossa, como o senhor demorou! Por que não se senta um pouco, preparei uma tigela de biscoitos para você. Quem sabe uma massagem o fará se sentir melhor, hein? — sugeri de forma suave para acalmá-lo.

  Porém, ele novamente aponta o dedo para mim e retruca:

  — Tem ideia do que fez, mocinha?!

  — Sim, recuperei minha dignidade hoje. Tudo foi resolvido!

  — Bárbara! — ele me repreende ao aumentar o tom do meu nome.

  Desfaço minha pose de "santa" e o encaro com seriedade.

  — Ok. Serei bem direta! O senhor não tem o direito de me dizer com quem vou me casar! Sou sua única herdeira, mesmo que outras pessoas casam-se por alianças de negócios, eu não jogaria a minha vida inteira na lama! 

  — O Sr. LeBlanc é um homem íntegro, justo. Ele é um homem honrado para ser o genro de nossa família! Casamento é uma grande responsabilidade, isso é verdade. Mas não precisa se exaltar desse jeito, pois não é o fim do mundo! — discutiu o Sr. Samuel.

  — Desde pequena eu o obedeci sem questioná-lo. Mas o tempo só provou que o senhor tinha medo que uma mulher assumisse a empresa que você fundou, só pelo fato de eu ter nascido como mulher! O seu filho, meu pai, não lhe deu um menino como neto, não é? É por isso que faz questão de controlar a minha vida a todo custo! — exclamei jogando minhas angústias pra fora de meu peito.

  — É pela reputação desta casa, da minha família que eu estou lutando! — ele me respondeu abruptamente.

  — Para o inferno com sua reputação! — gritei sem pensar.

  Logo, sinto uma mão pesada atingir meu rosto em questão de segundos. Levanto o olhar,  ainda incrédula, para meu avô, que possuía um olhar triste sobre mim.

  — Nesses vinte e sete anos... Eu nunca ousei levantar a mão para você, Bárbara. Mas olha que você fez... Me envergonhou, me desobedeceu, humilhou seu marido em público...

  — Ele não é o meu marido! — repito com raiva.

  — Mas vai ser! Daqui a dois dias, você se casará com o Lorenzo LeBlanc, goste você ou não!

  — Você é o culpado por arruinar a minha vida! Te odeio! — retruquei com toda tristeza e amargura em meu coração.

  Tiro o roupão apressadamente, revelando meu conjuntinho preto. Em seguida, saio correndo, pego meu carro e dirijo sem rumo pela estrada nebulosa. Em poucos minutos, a chuva começou a cair.

  Lágrimas desciam do meu rosto e penso em tudo que aconteceu hoje.

  — Vovô... Ele não presta! Eu prefiro morrer a me casar! Se ao menos existisse uma chance de eu fugir deste casamento...

  Fragilizada pelo calor do momento, não noto o sinal mais próximo fechar, até que em minha reta aparece uma jovem atravessando na faixa de pedestre justo naquela hora. Ao retomar o olhar para a estrada, apenas ouço um grito alto estridente e o meu carro atingindo algo.

  Atordoada, paro o carro e ergo meu pescoço. Sinto um arrepio gelado invadir meu corpo, pois vejo uma menina caída ao chão.

  — Eu acabei de atropelar uma pessoa... Devo fugir? Não, eu posso ser presa por isso. Então, me livro do corpo... Não, isso é maldade...

  Mas antes que a loucura tomasse conta da minha mente, vejo a menina se mexendo aos poucos. Suspiro aliviada. Desço do carro as pressas e ajudo a tal menina se levantar.

  — Me desculpa! Eu não te vi... Eu apenas... Como você está? Devo levá-la ao hospital?

  — Tá tudo bem, moça... Acho que estou bem.

  Ao erguermos os nossos rostos, quase caí para trás. A menina que estava a minha frente tinha algo similar a mim e ao mesmo tempo assustador. Ela tinha a mesma aparência que eu.

Ao mesmo tempo que fico atordoada com ela, a menina também sentiu a mesma coisa, pois olhávamos uma a outra de forma confusa e perplexa. Nós éramos iguais! Nossas fisionomias eram muito semelhantes, como se fôssemos até gêmeas.

  — Quem é você? — pergunto ao mesmo tempo que ela, enquanto nos encarávamos completamente estarrecidas diante daquela situação bizarra.

O Coração em ChamasOnde histórias criam vida. Descubra agora