Desci logo depois deles, lógico não deixando ninguém me ver, por mais que eles estavam espalhados. Ninguém tinha ido em direção da casa da Bia, eu fiquei na dúvida se eu avisava ou não, afinal, cada um com a sua bronca, por um lado eu entendo que elas não tem nada haver com isso, juro que entendo, mas por outro o que elas fizeram por mim? Precisava parar de pensar e agir. Olhei bem pra linha, pensando em voltar, mas eu não podia, estava dividida mas tinha que escolher, sem ficar em cima do muro e depois conviver com as consequências. Atravessei a rua pequena correndo, passei pelo portão abaixada, sei que a Bia guardava a chave reserva em baixo do vasinho de planta, destranquei a casa.Bia: Marina? — me olhou surpresa, levantando da cadeira.
Marina: O Tom vai fazer arrastão aqui. — mordi os lábios — Cadê o Sorriso?
Bia: Tá ali. — apontou pro quintal.
Marina: Avisa ele. — falei aflita — Ele vai atrás da Lana.
Bia: A Lana tá na rua com o Hugo. — veio até mim.
Marina: Que é a mesma coisa do que nada. — bufei como se fosse óbvio.
Bia: Sério? — dúvidou.
Só bastou ela falar isso, só foi uma explosão atrás da outra, o Sorriso entrou dentro de casa correndo, subindo as escadas sem nem se importar com a minha presença.
XXX: FOGO, FOGO. — ouvia gritaria.
Coloquei as mãos na cabeça, era tiro, era tiro.
Sorriso: Bia, não sai de casa! — aflito, parou na frente dela — Só sai se eu te passar um rádio.
Bia: Se cuida por favor. — despediu dele com um beijo enorme, meu coração apertou, pensei no Maquinista sendo morto, meu coração doeu.
Sorriso: Veio avisar sobre isso? — parou na minha frente.
Marina: Tentei. — passei a mão no rosto.
Sorriso: Valorizada. — sorriso leve.
O rádio dele até a parte de abrir a porta, não parava de apitar, sem parar, depois que ele saiu não deu pra ouvir mais.
Bia: Meu Deus. — escorregou, chorando — Por favor.
Marina: Promete pra mim, que não vai sair daqui? — agachei na frente dela.
Bia: Prometo. — chorando, dei um beijo na testa dela.
Olhei pros lados, só via os galpões em chamas, as lojas, as mercearias, tudo sendo explodidas, aqueles montes de papéis voando. O povo estava perdido, corriam pra descida vinha tiros, corria pra subida era tiro, de todos os lados.
Nessas horas o Maquinista já estava lá em combate, eu precisava achar a Lana. Me misturei no meio da multidão, até chegar na casa da Dona Sônia.
Marina: Lana? — procurando ela por todos os lados, quem sabe ela já tinha chegado.
Bianca: Ai, quem tá gritando? — saiu de trás do sofá.
Marina: Cadê a Lana? — fui grossa mesmo.
Bianca: Primeiro seu nome.
Marina: FILHA, ESTÁ ACONTECENDO UM TIROTEIO DO LADO DE FORA E VOCÊ QUERENDO SABER MEU NOME? — bati as mãos nas minhas coxas — ACORDA. CADÊ A LANA?
Bianca: Olha, abaixa o tom. — se aproximou de mim — Vai acontecer um aqui dentro também.
Eu evito gente, mas a briga me puxa.
Marina: Quem vai atirar em quem aqui? — deu um passo pra ela.
Bianca: Eu em você.
Marina: Me poupe, que medo. — mais um passo — Peita que eu gosto.
Bianca: Af. — revirou os olhos — Desce do pedestal.
Marina: Pra ficar de cara a cara contigo sou até obrigada a descer. — cruzei os braços.
Sônia: MENINAS PAREM. — desesperada um tiro acertou a janela — Deitem no chão.
Marina: Sônia, cadê a Lana? — ainda em pé.
Sônia: Saiu com o Hugo. — desesperada, eu preciso ligar pra ela.
Marina: Fica aí tentando...
Sônia: Vai aonde? — me perguntou — Aquieta aqui.
Marina: Impossível.
Sei que é uma atitude muito burra, mas fui até a boca, procurar quem sabe, vai que eu dou sorte.
XXX: Dona me ajuda. — no chão ferido.