HC Narrando
ㅤㅤ🏁🏁🏁Algumas pessoas já tem o seu lugar no mundo, algumas já nascem sabendo o que vão fazer, algumas já tem os seus próprios caminhos trilhados. Tenho uma vaga lembrança de mim na minha adolescência, não foi ruim, muito pelo contrário, meus coroas sempre fizeram e me deram do bom e do melhor, só que eu queria que fosse ao contrário, eu dando uma vida boa para eles. Só que nunca me dei bem com emprego, não gosto que mandem em mim, muito menos me dizendo o que eu devo fazer ou não. Não gosto de ficar servindo de escada para ninguém. Arrumei meu próprio caminho, mesmo com tantas oportunidades, eu fui para a mais fácil, eu não me arrependo. O morro é uma ligação que você estabelece para o resto da sua vida, todas as pessoas que cruzarem o seu caminho, vão estar contigo para o que você precisar. Lógico, tem sempre uns zé polvinho, uns joão bobo da vida, mas nesses a gente passa o ferro. Nunca fui de ficar num lugar só, estou sempre mudando, viajando, explorando, sim para o meu ego e para a minha necessidade de não ficar sujeira por onde eu passar. Apesar de ser bandido, as coisas não precisam ser escancaradas. O Forasteiro, não era aquele irmão presente em tudo, mas sempre dava os seus pulos para ouvir uns assovios, quando a notícia de sua morte chegou até mim, foi pior do que tomar um tiro certeiro.
AZ: Fala malandro.
HC: Tá sumido chefia, arruma o que?
AZ: Só dando as continuidades. ㅤ
HC: Tô sabendo do corre louco.
AZ: Sinto muito pela sua perda.
HC: Faz parte irmão. Todos vão um dia.
AZ: Mano, não mete essa comigo. Te conheço bem Henrique. O Forasteiro era um cara bom, você também é.
HC: É tô ligado nisso, tô indo.
AZ: Não foi culpa sua.
HC: De certa maneira foi, fico pensando se eu não tivesse ido embora, se tivesse ficado de olho nele, iria ver se seguiria esses passos.
AZ: Você tem a sua vida, suas escolhas. Quando saiu do morro, era novo, moleque. Queria conhecer o mundo e as possibilidades, se é que me entende. O Forasteiro também teve as suas influências, mas te garanto que nenhuma delas foi você.
HC: Pode ser, mas comigo aqui, não sei podia ter sido diferente.
AZ: Você vai superar.
HC: Tenho que dar uma força pra mulher dele. Em falar nisso, como era os dois?
AZ: Grudados. Seu irmão se amarrou nessa mina, nem em cheiro tinha visto ele todo arriado por uma mina, igual ele era pela Isabela.
HC: Ela é firmeza?
AZ: Responsa pra caralho. Se seu irmão teve um velório e um enterro, foi graças à ela.
HC: Tô ligado.
AZ: Se quer saber, estou até aliviado de ser ela agora no comando.
HC: Ninguém aqui tá rasgando pra morte do Tom.
AZ: Ninguém gostava dele! Ele não estava nem aí pra isso daqui.
HC: Como que ele subiu no poder?
AZ: Seu irmão guardou o lugar pra ele, desde quando ele estava na cadeia.
HC: A Isabela que matou ele não foi?!
AZ: Sim, e por causa do seu irmão também. O Tom balangou com ela umas paradas, que não a deixaram satisfeita.
HC: Como assim?
AZ: Aqui era assim: Tom e Maquinista, que você conhece bem. Maquinista fez cilada, casinha para o Tom que acabou rodando, desde então ele vem com uma parada de vingança na mente, e colocou todos nessa guerra. — explicou — Depois, entrou a Marina no meio dos dois, amiga da Isabela. Ela veio morar aqui, porque o Maquinista tinha dado umas porradas nela, e ela acabou saindo do morro, uma coisa parecida. O Tom abrigou ela aqui, eles começaram a ter um rolo. Depois acabou e ela voltou com o Maquinista. — balançei a cabeça — Forasteiro, entrou na segunda invasão que o Tom quis fazer e deu no que deu.
HC: Vai ser engraçado, a Isabela tomando conta do morro. — ri.
AZ: Mano...
HC: Ih lá vem... Vem bosta.
AZ: Só porque eu falo as verdades? — anotando.
HC: Não porque acha coisas aonde não tem.
AZ: Mas eu nem falei nada.
HC: E precisa?
AZ: Você vai ajudar ela não vai?! — afirmou rindo.
HC: Vou, tenho que ajudar. Ela tá mais perdida do que cego em tiroteio.
AZ: Henrique, você está afim dela.
HC: Vai se foder. — indignado — Porra, é a mulher do meu irmão.
AZ: Era. — me olhou — Você sabe, que não vai aguentar por muito tempo.
HC: Não tenho nada que aguentar, até porque não existe nada. — pensei.
AZ: Apesar do tempo que tu passou longe de mim, te conheço bem. Ainda mais quando evita falar, é que o sinal fica mais foda ainda.
HC: AZ tá na sua hora não tá não?!
AZ: Pior que tá. — se afastou — Suave. — rindo — Mas que você tá arrastando uma tonelada tá.
Lógico que não, acho que além de fazer as entregas, esses moleques estão abusando do uso.
Lincon: Tá precisando de um lugar pra ficar? — prepotente.
HC: Tô, por que? — no mesmo tom.
Lincon: Ordens da Isa.
HC: Isa?
O moleque não respondeu nada, apenas saiu andando e eu fui dando umas respiradas fundas e segurando a minha mão pra não afundar a cara do filha da puta no chão. A casa que a Isabela tinha deixado para mim, era bem jeitosa, dava para ficar uns tempos aqui. Quer dizer, eu acho que é uns tempos. Depois eu tenho até que conversar com a Isabela sobre isso, tá sem falta de coordenação.
HC: Isa. — imitei o cruelo.