Novamente voltei a minha atenção para o caixão, deitei o meu rosto no vidro e passei o braço por cima do mesmo. Fiquei imaginando os momentos em que ele ria, que ele ficava me olhando, pensei nele em pé bem ali na minha frente.
XXX: Meus sentimentos.
Isabela: Conhece ele?
XXX: Não, na verdade, eu ficava com o Tom. — deu um sorriso fraco.
Isabela: Ah sim.
XXX: Foi você quem assumiu agora?
Isabela: Foi. — já não fui com a cara dela.
XXX: Sabe que não vai dar conta desse morro né?
Isabela: Quem disse que não?
XXX: Fala sério... — pigarreou — Você matou o Tom que era o alto aqui.
Isabela: Não me arrependo. — fria.
XXX: É porque o peso na consciência não caiu.
HC: Juliana, o que devo a honra? — me pareceu irônico — Está te incomodando Isabela?
Isabela: Na verdade sim.
Juliana: Só vim desejar meus sentimentos.
HC: Já desejou e a conversa acabou. Vaza. — firme.
Juliana: Um prazer também Henrique.
HC: Não vou falar o mesmo. — fez sinal pros meninos que acompanharam ela até a saída da capela.
Isabela: De onde é essa louca?
HC: Puta. — foi bem direto — Vida fácil, se resume.
Isabela: Ah... — senti uma mão no meu ombro.
Carolina: Minha querida sente - se. — me mostrou a cadeira atrás de mim — Está em pé há horas.
Isabela: Não quero sentar dona Carolina, obrigada. — tentei sorrir.
Carolina: Ouça, eu não te conheci quando o meu filho estava vivo, mas parece amar ele demais mesmo depois de sua morte. Tenho que agradecer por tudo que está fazendo, pelo velório, pelo enterro, por tudo.
Isabela: A senhora não tem o que agradecer. Ele merecia isso. Faria mais ainda se pudesse.
Carolina: Absoluta certeza de que faria. Ele está feliz por você. — alisou o meu cabelo — Será que posso? — apontou pro vidro.
Isabela: Me desculpa. — levantei o rosto, dando espaço.
Foi a vez de uma mãe chorar pelo seu filho. Era uma das cenas mais tristes que eu já tinha visto na minha vida. Ela pediu a minha autorização para abrir um pouco o caixão, só para ela tocar ele.
Isabela: Tudo bem. Abram por favor.
Em seu rosto tinha um véu fininho e transparente, sua aparência estava linda.
Já estava amanhecendo, depois de muitas pessoas irem lá ver, até as mais curiosas, era hora do enterro. Como não tinha cemitério ali no morro, tivemos que ir para o asfalto. Fui de carro com o HC. Dona Carolina tinha ficado indisposta, fora os problemas no coração e o seu Geraldo fez o dever de ficar com a mulher dele de companhia, mas de deu rosas para serem jogadas no caixão.
HC: Está bem?
Isabela: Uma pergunta meio errada, não acha?
HC: Não tanto. — de olho na rua — Você tem que estar bem para aguentar toda essa barreira.
Isabela: Vou ficar, só não sei quando.