Uma garota sozinha na floresta

Capítulo 11

Coloquei minhas mão na cabeça e depois passei elas pelo meu rosto tentando não pensar no que meu pai vai pensar de mim por não ter o encontrado duas noites. Ele não vai ficar preocupado, ao contrário, ele vai ficar muito bravo... Consigo imaginar suas perguntas furiosas comigo, oque eu vou responder?
Percebi que ele tinha saído dali e foi mexer em alguma coisa na coisa com portas de novo, eu fiquei observando e vi ele puxar outro tecido dali de cor azul claro, era a única coisa com essa cor lá. Depois ele jogou em cima de onde estava sentado, o tecido grosso caiu sobre todo o comprimento do retângulo cobrindo toda parte branca que tinha.
Ele fez um gesto pra mim apontado pra lá, eu entendi que era pra mim deitar. Pensei três vezes antes de sair de cima da mesinha deixando a manta sobre ela. Andei um pouco insegura até a beira e me sentei de costas passando a mão sobre ela, tive vontade de encostar meu rosto ali e dormir. Não percebi que meu corpo estava se deitando contra minha vontade, depois eu já estava deitada de frente para parede e peguei a coberta passando elas pelas minha pernas e deixei ela cobrindo até minha boca. Respirei fundo sentindo o cheiro disso mais forte, parecia erva doce misturado com hortelã, tão bom... Isso me dava sono e logo eu fechei os olhos mas fiquem pensando no meu pai e oque diria à ele amanhã de noite, se não aceitar ir na casa de nenhum estranho no meio de um temporal, acho que vou conseguir chegar a tempo da próxima vez.

Abri meus olhos bem devagar dando de cara com a parede, não sabia se já era de manhã, mas aqui estava tão confortável que não quis me mexer. Pela luz que está vindo de todos os lugares acho que já é dia.
Recolhi mais um pouco a coberta e passei ela pela minha bochecha fazendo carinho em mim mesma, era tão macio. Mas ainda não queria acordar. Fiquei pensando onde ele tinha dormido ontem, mas não liguei pra isso porque foi ele quem me ofereceu esse lugar, sinal de que ele não se importava. Nem sei se ele dorme...
Me virei para o outro lado procurando por ele passando meus olhos pelo pequeno espaço, mas não tinha ninguém ali. Estava silêncio demais, não chovia mais e eu fiquei muito curiosa pensando em onde ele se enfiou.
Levantei dali e fiquei sentada esperando minha cabeça parar de rodar por ter ficado nessa posição muito rápido, minha vista até escureceu e eu me sentia cansada mesmo depois de ter dormido bastante. Eu só dormi ou fui dopada pra acordar desse jeito? Acho que um pouco de cada, eu me sinto horrível.
Decidi levantar e fiquei de pé meio tonta ainda, ajeitei minha blusa vestido e passei a mão no cabelo tirando a metade dos meus ombros colocando ele para trás. Caminhei devagar até a porta e a abrir dando de cara com o sol morno do dia, respirei fundo e sorri com o ar quente, mas depois eu lembrei que a floresta deve está molhada pela chuva de ontem, é claro. Isso eu não suportava, mas não queria ficar aqui o dia todo, não sei onde aquele garoto foi mas não me importa agora. Eu só quero andar um pouco e esperar o dia passar sozinha. Preciso me isolar um pouco e talvez eu possa procurar algo pra comer.

Passei pela área aberta perto da casa e entrei na floresta úmida, mas a parte boa de tudo isso é o sol do dia. Está bem forte hoje e espero que continuei até de tarde, e que a noite não chova de novo. Quero continuar seca mas esse calor me deixava com vontade de me jogar em rio com água geladas. Pensei no que fica perto da árvore que eu costumo ficar. Acho que ainda está bem longe mas quando eu chegar vai valer a pena.
Meus pensamentos foram dirigidos à meu pai outra vez, eu tentava esquecer que eu não o vejo duas noites, e não conseguia aceitar que poderia esclarecer tudo hoje de noite, não tirava da cabeça que ele poderia acabar brigando comigo feio. Imagino um castigo bem ruim pra mim pagar por ter feito isso.
Tentei esquecer um pouco isso e me concentrar em saber onde estava indo, já havia passado da floresta com árvores estranhas e agora eu estava meio... Perdida, acho que se eu for por ali consigo chegar lá. Só espero que esteja certa.
Mas aí eu percebi que estava na direção errada quando vi um coisa estranha no céu passando pelas árvores, parecia fumaça e nesse instante o medo tomou conta do meu corpo me deixando parada no mesmo lugar de repente me sentindo vulnerável, várias coisas passaram pela minha cabeça e todas ligadas à humanos, se eu estou perto deles quer dizer que fui longe demais... Alguma coisa pegou meu pulso com força me puxando para algum lugar, se eu não tivesse esbarrado em alguma coisa atrás de mim teria caído. Essa coisa tampou minha boca antes que eu pudesse gritar em desespero, depois eu senti um braço envolta da minha barriga me apertando com força, eu apertei a mão que estava na minha boca com minhas unhas tentando me soltar à força. Mas aquilo só me prendeu ainda mais e eu já estava entrando em pânico gritando mesmo com a boca fechada.
-shh, calma sou eu
...?
Meu corpo congelou e eu relaxei os ombros e parei de arranhar sua mão. Fiquei parada demais esperando ele me soltar mas eu só senti sua cabeça virando para o outro lado e depois parar perto do meu ouvido direito.
-não devia está por essas bandas
Sua voz estava baixa demais e eu podia senti sua respiração me imobilizando mais do que estava, eu não conseguia me mexer e continuei com a mão na sua que tampava minha boca e a outra no seu braço em cima da minha barriga. Porque ele fez isso? Qual é o problema com esse lugar?
-me solta primeiro
Pedi tentando tirar seu braço de mim rápido ficando nervosa, eu não conseguir até ele me soltar por conta própria, arrumei meu vestido e fiquei parada na sua frente esperando ele se explicar. Mas ele só sorriu colocando as mãos nos bolsos de novo se encostando na árvore atrás dele. Continuei esperando cruzando meu braços no meu peito. Queria tomar um banho depois disso.
-porque não me esperou pra ir embora?
E eu devo fazer isso?
-porque te esperaria pra ir embora?
Perguntei unindo minhas sombrancelhas de irritação, além de me dá esse susto desnecessário ele ainda queria que o esperasse para eu poder dizer à ele que já ia embora? Quero saber se não posso ir nos lugares que quiser sem antes falar com ele, quem ele pensa que é?
-porque você não sabe andar por aqui, estava indo em direção aos humanos que vivem por aqui por perto
-e oque tem isso?
Perguntei erguendo minhas sombrancelhas dizendo que isso não tem problema algum pra mim. Não tenho medo dos humanos, ao contrário, eu até gosto deles. Sua resposta foi formar um "V" na sua testa e ele começou a andar na minha direção bravo demais me deixando com medo agora, fui andando pra trás também mas outra vez aquela força estranha e invisível congelou meu corpo inteiro e eu fui jogada contra a mesma árvore que ele estava encostado. Agora eu estava apavorada encarando seus olhos totalmente negros e ele ainda estava muito bravo mantendo os punhos fechados com força parado muito perto de mim me deixando mais nervosa.
-devia saber que eles não prestam, não quero contar oque aconteceu comigo num dia que me aproximei demais deles
Ele falava isso de um jeito assustador entre os dentes ainda me prendendo contra árvore, eu não conseguia para de encarar seus olhos como dois buracos negros me causando calafrios de novo. Eu não sabia oque isso tudo poderia se significar.
Depois ele pegou meu rosto com força me obrigando a manter os olhos nos seus, sentir sua respiração pesada e continuei congelada sem poder me mexer para me afastar ou tentar fugir.
-alguém como você seria um alvo fácil pra eles
Arregalei os olhos pasma com isso, não sabia como humanos poderiam machucar seres como nós. Vivemos muito longe deles por segurança mesmo não sendo uma raça perigosa para nós.
Finalmente eu pude me mexer e a primeira coisa que fiz foi tirar sua mão do meu rosto com força e me afastei alguns passos para trás olhando pra ele cautelosa agora. Perdi o pingo de confiança nele nesse momento.
-se você não acredita nisso, olhe isso
Ele falou puxando a gola da sua blusa me mostrando uma cicatriz horrível de um arranhão perto do seu pescoço, agora eu não sabia quem era o ser mais perigoso. Isso foi feito pelos humanos? Como? Quando?
Me virei de costas horrorizada ainda sobre efeito desse susto, eu queria distância de todo mundo só um minuto, preciso processar isso um instante. É muita coisa, ele não falou nada sobre isso, eu acho que não conheço os humanos o suficiente para não ver esse lado deles.
-espera
Ele pediu mas eu não parei e abaixei minha cabeça com um pouco de medo dele ainda. Minha confiança ficou em zero depois do que ele fez comigo. Não quero mais saber de conversar com ele, quando menos espero ele se transforma naquilo que vi na primeira vez, e me machuca.
-desculpa por favor
Ele me fez virar de costas quando agarrou meu pulso de novo, mas eu puxei rápido e não olhei pra ele me virando de costas voltando a andar no mesmo ritmo.