Capítulo 86

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De manhã eu estava lavando meu rosto no rio para me sentir melhor de tudo que aconteceu ontem. Olhando para água eu pensei direito nisso tudo, não tenho mágoa e não me sinto de nenhuma forma brava ou triste por tudo aquilo. Olhando ao redor de mim mesma agora, eu pude me sentir normal de novo... Era muito estranho, tudo pareceu ter voltado como era antes mesmo. Como se eu tivesse me livrado do que estava estragando minha vida, não sei oque exatamente aconteceu ontem mas... Foi a melhor coisa que fizemos. Como se fosse uma fantasia que passamos juntos, e agora acabou, como se eu tivesse dormindo todo esse tempo e acordei de um sonho. Não consigo entender porque isso aconteceu, acabou... Não existe mais.
Me levantei da beira do rio e sorri para meu reflexo dizendo "abriu seus olhos" isso me causou uma sensação ótima, meu Deus do céu. É esquisito demais esquecer de tudo isso e dele também, não posso deixar de acrescentar.
Minha respiração acelerou e eu coloquei uma mão no meu peito sorrindo pra mim mesma me sentindo livre depois de muito tempo presa em um sentimento humano que não fazia sentindo algum pra mim, porque não sou uma. Como se eu tivesse me transformado em oque realmente sou, somente uma garota sozinha anormal e que agora se sente muito melhor e um pouco envergonhada de si mesma. Não faz sentido, tudo que senti era humano, uma coisa que não devia fazer parte de mim. Pode fazer parte do que sou, como se eu tivesse amadurecido, foi um experimento... Agora eu me sinto eu mesma, não sei como mas isso me deu uma felicidade estranha. Descobri que eu tenho que deixar essas emoções estranhas e sentimentos pra lá, pois não fazem parte de mim, não tem lugar dentro de mim pra elas.
Devia ter descoberto isso antes, foi uma tola sentindo essas coisas que não fazem parte de você. Abra seus olhos, isso foi porque você já foi humana, suas emoções são as mesma deles, mas não possui mais isso. E isso é a melhor coisa que já aconteceu com você, está se transformando no que realmente é, não deixe essas coisas te atrapalharem. Ignore-as
Olhei meu reflexo de novo e não conseguir encontrar aquela garota idiota que um dia sentiu coisas bobas por alguém, não tenho mais elas dentro de mim. Ela tem razão, não sou humana... Porque não pensei nisso antes? Como se tudo dentro de mim fosse apagado por ela. Me tornei no que sou de verdade, ela não precisa mais controlar minhas emoções. Não tenho mais elas dentro de mim...

Sair de perto do rio sorrindo passando a mão na minha cabeça, tem algo dentro de mim que me deixa feliz. Algo que me preencheu, a coisa certa a se senti. Não sabia que era tão bom ser eu mesma, oque tinha que ser mesmo todo esse tempo. Não consigo controlar o sorriso e até soltei uma risada sozinha, também não conseguir deixar de correr pela floresta me sentindo livre. Algo pediu pra mim fazer isso, não sou mais aquela de antes, é maravilhoso sentir isso. Sorria enquanto corria o mais rápido que conseguia passando pelas árvores e pulava pelas pedras e tudo no caminho. Só conseguir parar quando estava cansada mas ainda podia senti a energia dentro de mim por causa da estranha felicidade dentro de mim. Mas eu continuei andando por está fisicamente cansada.
Parei em frente a uma pequena corrente de água para beber um pouco mesmo não precisando, eu estou descansando um pouco e pensando em tudo que aconteceu comigo nos últimos minutos. Mas um barulho de algo caindo no chão chamou minha atenção e me trouxe de volta dos pensamentos. O barulho tinha vindo da minha frente do outro lado da corrente, quando levantei os olhos eu percebi que era uma mangueira enorme, a maior que vi na minha vida. Olhei direto pra manga que tinha caído no chão e notei que era rosa, eu adoro elas. Não acredito que encontrei uma dessas aqui.
Atravesei a corrente meio apressada molhando somente meus joelhos por ser rasa demais, mesmo assim conseguir chegar do outro lado andando na direção da árvore pegando a manga que tinha caído no chão, mas tinha se estourado oque me deixou triste por ser tão bonita e grande. Joguei ela no chão de novo onde estava e procurei outra nos galhos grossos e enormes da mangueira, conseguir avistar uma perfeita e comecei a pensar como poderia chegar lá, os galhos são grossos, mas parecem que não tenho no que me apoiar até chegar onde a manga está.
-oque faz aqui?
Escutei essa voz vindo de trás de mim, me virei devagar e percebi que era ele. Estava vestindo uma blusa que não cobria seus ombros, branca e uma calça preta. Olhei aquilo e quase não conheci, estava diferente. Mas parecia bravo comigo ainda, percebi que segurava uma espécie de faca muito pequena, sua lâmina era do tamanho do meu dedo. Queria perguntar a mesma coisa, mas voltei a encarar a manga e pensar em como vou chegar até lá. Ignorando ele totalmente, quero saber se esse lugar é dele pra me interrogar dessa forma.
-ei? Agora parece que é você que tá me perseguindo
Ouvir seus passos se aproximando de mim, pela sua voz ele estava irritado mesmo. Mesmo assim eu continuei ignorando e resolvi subir de uma vez na árvore segurando dois galhos que estavam ao meu alcance e dei um impulso com meu pé direito. Me equilibrei em um dos galhos grossos e fiquei em pé em cima dele ainda olhando aquela manga.
-dá licença, essa mangueira é minha
Hum.
-não tem seu nome nela
Disse sem olhar pra ele andando sobre o galho e segurei outro que estava perto do meu pé tentando ver uma forma de chegar até lá. Precisei ir para outro galho mais fino e tive que segurar firme nele me abaixando porque quase cair. Com certeza foi praga daquele imbecil lá embaixo me olhando torcendo pra mim cair. Mas eu ignorei outra vez e puxei as folhas que estavam na minha frente trazendo a manga junto com elas e conseguir pegar agarrando ela de uma vez e depois soltei as folhas rápido me segurando novamente no tronco e sorri pra ele que fez uma careta feia chegando a me assustar.
Quando desci eu me encostei nas raízes dela e comecei a descascar a manga com minhas unhas e mordi olhando pra ele dizendo que não tô nem aí.
-já conseguiu agora já pode ir por favor
Disse apertando a pequena faca na sua mão direita e começou a andar na minha direção me deixando assustada, mas sair da sua frente rápido percebendo que queria subir na árvore também. Fiquei observando enquanto comia a manga torcendo pra ele cair também, mas seus movimentos eram rápidos e eu confesso que ele parecia mais experiente do que eu. Também pegou uma manga pequena e examinou por dois segundos e depois jogou no chão me deixando confusa, ele quer só jogar elas no chão então? A manga parecia boa, porque ele fez isso?
Curiosa, eu peguei a que ele tinha jogado de lá de cima e ela não tinha nenhum defeito pra ele ter feito isso. Mas depois eu tomei um susto quando uma passou bem perto da minha cabeça e se chocou contra o chão quase estourando.
-quase acertou minha cabeça!
-mandei você ir embora
Ele ria lá em cima me deixando extremamente irritada com isso, se acertasse na minha cabeça eu tinha que lavar cinco vezes meu cabelo pro cheiro sair. Agora já chega.
Olhei a manga que estava comendo na minha mão direita e depois pra ele que ainda ria feito um idiota lá em cima, não pensei duas vezes quando lancei ela com toda minha força na direção dele acertando seu ombro manchando sua blusa também, não foi onde eu queria acertar mas rir do mesmo jeito porque ele me olhou mais irritado também. Valeu a pena estragar-lá dessa forma depois de tanto sacrifício.
Dois segundos depois eu parei porque ele estava descendo da árvore com aquela faca na mão me assustando porque ele parecia com vontade de me matar. E eu só corri porque ele estava armado e eu não tenho nada pra me defender. Então eu conseguir pegar a manga mais podre que estava no chão e continuei correndo para me salvar dando uma volta inteira na mangueira e depois olhei para trás vendo que ele estava longe o suficiente para eu poder atirar a manga estragada na minha mão. Mas pegou na sua barriga e não sujou sua blusa branca o tanto que eu queria, mas continuei correndo fazendo uma curva por um árvore pequena segurando seu tronco quando passei por ela para não derrapar.
Voltei a mangueira mas fui acertada por algum duro nas minhas costas e cair no chão de joelhos por ter me desequilibrado, consegui me levantar rápido andando de quatro para perto do tronco da árvore como se fosse me proteger de alguma forma.
Um segundo depois ele puxou minha perna e eu reagi chutando sua barriga com força, ele gemeu e minha atenção foi desviada para a faquinha que ele deixou do seu lado quando colocou as mãos onde eu tinha batido.
Me levantei do chão e corri até a faquinha pegando ela rápido e empurrei ele com meu pé fazendo ele se deitar no chão de costas e olhar pra mim, quando percebeu que eu estava com a faca, ele levantou as mãos mas sorriu pra mim se divertindo com isso.
Com a faca apontada para ele eu tentava recuperar o fôlego pela adrenalina dentro de mim e a Lucy me pedindo pra acabar com ele agora. Mas não vai valer a pena, no fundo não vale mesmo. Oque ganharia com isso?
-tão ingênua...
Meu corpo congelou de novo e eu entrei em desespero quando percebi que ele estava se levantando e conseguiu agarrar meu pescoço com as duas mãos me virando em direção ao tronco da mangueira me jogando lá com força batendo minha cabeça me provocando a gemer de dor e agonia porque estava sendo sufocada enquanto olhava para seus olhos negros e totalmente possuídos por algo que parece que quer me matar mesmo.
Não conseguia mais respirar e sentir que estava ficando tonta inconsciente e minhas mãos nos seus braços foram abaixando e eu deixei a faca cair no chão perdendo minhas forças, fiquei tonta de repente e sentir que queria desmaiar.

Uma garota sozinha na floresta Onde histórias criam vida. Descubra agora