Quando estava na frente da casa, eu me virei de frente para Joseph passando a mão no meu cotovelo meio sem jeito e pensando no que dizer com cuidado. Ele também parecia está no mesmo estado bagunçando o cabelo e e olhando para o chão junto comigo. Mas depois eu conseguir dizer o tão difícil "obrigado por tudo mais uma vez" e arrisquei outro beijo na sua bochecha me atrapalhando porque pisei no seu pé quando tentei ficar da sua altura para esse beijo de agradecimento. Ele não disse nada e soltou uma risada acompanhada da minha também. Quando ele foi embora, eu ainda fiquei vendo ele se afastar perdida em pensamentos e me lembrei que tinha que entrar em casa... Uma sensação estranha. No primeiro degrau da varanda, eu paro e fico congelada ali sendo atingida por um onda de pavor porque vi a figura de meu pai na janela. Ele estava parado ali com aquele olhar que eu conhecia e que também me obrigava a pensar em várias coisas que poderiam me acontecer se eu entrasse pela aquela porta.
Quando ele saiu de lá, eu sabia que já estava me esperando porque nesses curtos cinco segundos, tivemos um tipo de conversa. E eu não queria entrar ali para ter essa conversa mas senão, eu acho que pode ser pior, nada pode ser pior do que encarar ele furioso. Mas não tenho escolha. Então com muita coragem, eu conseguir dá outro passo e parei atrás da porta já sentindo sua raiva através dela, fechei os olhos e respirei fundo. Coloquei a mão na maçaneta e abri devagar, mantive os olhos abaixados e me movimentava em silêncio enquanto fechava a porta sem fazer ruído algum. Depois com mais coragem ainda que não sei de onde eu tirava, o encarei sentado normalmente na cadeira da mesa. Sua expressão era a mesma, fria e calma mas por trás sabia que estava tentando se controlar para não gritar comigo de uma vez ou fazer outra coisa comigo.
-desaparece...
Abriu suas mãos as jogando no ar e levantou os ombros, sabia que tinha mais coisas e esperei ele terminar de citar todos os meus pecados na visão dele. E se levantou de lá passando sua mão direita sobre a mesa até ficar na minha frente. Eu só fiz abaixar minha cabeça e não conseguir deixar de disfarçar o medo, fechei meus olhos de novo e os apertei mordendo meu beiço sentindo ele se aproximando de mim mais ainda. Comecei a tremer quando sentir seus dedos frios pelo meu rosto levantando meu queixo, ainda não usava força... Mas depois ele me segurou firme e me fez encarar seus olhos profundos e negros, me deixando com medo e me passando aquela sensação de vulnerabilidade.
-antes de fazer qualquer coisa pai, eu queria explicar que aquilo aconteceu de novo e eu acabei...
-não é isso que me preocupa minha filha
Me cortou e respirou fundo desviando os olhos para o lado do meu rosto depois os abaixou até o chão. Fiquei parada o observando confusa e insegura, ele se encostou na mesa e passou as duas mãos no rosto soltando um suspiro pesado. Eu sabia que ele estava tentando conversar comigo sem gritar ou perder a paciência, então pra mim, isso foi uma introdução de uma conversa que poderia ser desagradável. Mas eu também vi que dessa vez ele iria ser paciente comigo, então relaxei e me aproximei dele com cuidado. Puxei a cadeira do seu lado e me sentei lá olhando pra ele em pé na minha frente ainda sem me olhar.
-não quero que o senhor fique irritado comigo, eu... Me machuquei e aquele menino que você viu me ajudou e...
-não é isso que eu quero conversar com você, seu relacionamento com sua mãe é mais importante
Eu fiquei o encarando por dois segundos e depois deixei minhas sombrancelhas caírem formando a minha cara de emburrada que o fez devolver uma de "eu não estou com paciência agora, não comece" mas eu ignorei esse aviso e me levantei da cadeira batendo minhas duas mãos na mesa com raiva. Eu não sabia como entender essas suas palavras... "seu relacionamento com sua mãe"...? O que deu nele!?
-eu não tô nem aí pra aquela vaca, eu não acredito que quer conversar comigo sobre ela! Nada nesse mundo vai me fazer mudar meu relacionamento com ela!!
Gritava fazendo gestos com as mãos histérica e fora de mim mesma por está fazendo isso tão perto dele. Mas percebi que ele estava estranhamente normal, uma expressão calma no rosto e um olhar observador. Nesse momento eu aproveitei para respirar e voltar a meu estado normal, me sentei na mesa de novo e abaixei a cabeça nas mãos agora chorando por algum motivo. Não queria entender porque estava chorando, mas no fundo sabia, só que empurrava para não me perturbar mais.
-entendo isso
Falou calmo e eu percebi ele se sentando novamente na cadeira. Ficamos um tempo em silêncio e limpei minhas lágrimas idiotas que só pararam quando eu já estava me concentrando somente na raiva e na palavra "monstro" na minha cabeça sendo repetida várias e várias vezes.
-você... Já pode ir, não podemos ter essa conversa agora, sei que ainda não está preparada, mas amanhã creio que você irá ter uma experiência que possa ter outra opinião sobre isso
Levantei minha cabeça e o encarei confusa apertando meus olhos e fiz uma expressão desconfiada porque ele sorriu de leve pra mim. Isso me deixou assustada e nervosa, esse sorriso tinha maldade por trás. Isso com certeza tem a ver com aquela vadia.
-bom...
Se levantou olhando para o chão ainda sorrindo daquele jeito mas depois que me encarou novamente, esse sorriso ficou meio apagado e carinhoso ao mesmo tempo. Eu ainda desconfiada não fiz nada, apenas fiquei olhando pra ele se aproximando de mim até me dá um beijo na testa me dizendo um "bom noite minha pequena" de uma jeito estranho, como se fosse "estou preparando algo para você". Não quis perguntar porque sabia que era idiotice, ele não conta as coisas ruins que vai fazer comigo... Como não contou que estava conversando com aquela cachorra sobre minha escola e resolveu me dizer logo quando já estava feito.
Sair de lá ainda pensando em tudo isso e eu tentava não ouvir os cochichos de Lucy na minha cabeça me dizendo pra fugir e voltar pra floresta de uma vez, me pedia para não ligar para mais nada... Isso era tentador demais... Mas meu pai? E minha vontade de matar Marie? Ela não sabe que isso é importante pra mim?
Eu não quero saber, não gosta mais da floresta? Oque deu em você? Antes era só eu e você, sempre foi. Até aquele imbecil aparecer, não sei porque não o matei na mesma hora que ele surgiu daquele jeito. Eu fiquei muito tempo presa aqui pra você não fazer pelo menos isso pra mim.
Já fiz "coisas" demais pra você.
Mas só estou pedindo que volte a sua vida normal, está tão poluída nesse mundo novo que não parece mais a mesma.
Pode ter razão, se eu for e volta eu...
Não! Olha pra você...! Olha oque ia pedi!
Você tem razão...Tem uma imagem lá em cima?
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Uma garota sozinha na floresta
FantasíaEu não tenho nome e nem sei direito oque sou. Eu tenho a forma de um ser humano, mas meu pai diz que não sou um. Meu "pai" porque ele quem cuida de mim. Eu quase não tenho muito contato com ele, vivo quase sempre sozinha andando pela floresta tentan...