capítulo 41

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Pov* Primeira parte em terceira pessoa e o resto pelo ponto de vista da Serena.
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Serena finalmente toma coragem de sair da fortaleza dos vários cobertores e sua cama, ela caminha até o banheiro, lava o rosto, escova os dentes e até arruma o cabelo que está completamente horrível e sem cuidado. Ela se olha no espelho e lá está, o que ela é agora.

     Ela esquece isso e se dirige até o meio do quarto e percebe a falta de cuidado que ela está. Está como um corpo vivo mas sem nada. Ela caminha até a porta do quarto coloca a mão na maçaneta e treme simplesmente ao tocar no ferro que pode abrir a porta e deixar ela sair. A verdade é que ela não quer isso. Mas ela respira fundo abre a porta e assim que abre uma empregada está passando, assim que o faz a empregada deixa o balde cair com a surpresa a verdade é dita. Não são todos os empregados que viram o rosto da caçula da família. Somente a governanta e alguns mínimos empregados já viram Serena.

— Boa tarde. — a empregada diz totalmente surpresa.

— Pode me dizer se tem alguém da família aqui? — A voz de Serena sai fraca e falha.

— Senhor Grayson está no salão. — ela diz abaixando a cabeça.

— Ah...— Serena pensa fortemente em voltar para dentro. Ninguém poderia dizer que ela não tentou. Mas ela olhou para o quarto. Precisava de limpeza e com o corpo que Serena agora possuía, esquelético e fraco ela não ia dar conta.

     Ela nunca saiu do quarto e vagou pela casa. e sai do quarto, sentindo-se vulnerável e insegura. Ela desce as escadas da imponente casa dos Grayson's, seus passos hesitantes ecoando no silêncio. Cada cômodo é uma novidade para ela, pois nunca teve a chance  e nem vontade de explorar além do seu quarto.

       Enquanto vagueia pelos corredores, Serena encontra uma porta aberta que revela um salão espaçoso e elegantemente decorado. A atmosfera é serena, com tons suaves e mobiliário requintado, transmitindo uma sensação de conforto. Ela adentra o salão, ainda vestida em seu pijama desajeitado, sentindo-se um pouco fora de lugar. Ela nunca entrou em nada assim. A imagem do seu quarto quando ela chegou aqui também era como um lugar retirados das séries de ricos.

     E então, seu olhar encontra o senhor da casa, que está ali sentado em uma poltrona, lendo um livro. Há uma leve expressão de preocupação em seu rosto quando ele nota Serena entrando no salão. Ele se levanta, seu porte elegante e tranquilo transmitindo uma sensação de segurança.

— Serena...— ele diz, sua voz suave e acolhedora. — Vejo que decidiu explorar a casa um pouco. Como está se sentindo?

Serena olha para ele, seus olhos refletindo uma mistura de confusão e desconfiança. Ela não o vê como seu pai, ainda não consegue assimilar essa ideia. No entanto, algo em sua expressão transmite um toque de afeto,  como se houvesse uma preocupação genuína por trás de suas palavras. Pena que Serena não consegue sentir isso. Ela nem sabe mais o que sentir.

Ela se senta em um sofá próximo, ainda sentindo-se um tanto deslocada. Observa os detalhes cuidadosamente escolhidos na decoração, o ambiente acolhedor e tranquilo que envolve aquele espaço. Um leve suspiro escapa de seus lábios, misturando-se às emoções confusas que a inundam. Mas ela se mantém no foco.

A interação entre Serena e o pai de Will é sutil, quase imperceptível. Há um vínculo que ainda precisa ser construído, uma barreira emocional que impede que ela o veja como uma figura paterna. No entanto, naquele breve momento, há uma chama de preocupação e carinho, mesmo que tênue, que tenta se acender dentro dela.

A casa dos Grayson's, com sua grandiosidade e elegância, contrasta com a fragilidade interior de Serena. É um cenário que reflete o abismo entre o mundo externo e seu mundo interno, uma mansão que envolve a solidão e os traumas que ela carrega consigo.

Enquanto Serena e o pai de Will compartilham esse breve momento no salão, eles estão cercados por um ambiente de calma e beleza, onde os detalhes da casa parecem ecoar a necessidade de paz e cura.  É realmente uma pena, Serena se sente sufocada.

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  SERENA

  Sentada no sofá macio, sinto meu corpo todo tremendo, como se estivesse sendo eletrocutada por ondas de ansiedade. Meus dedos dançam em movimentos rápidos e descontrolados, como se tivessem vida própria. Olho em volta do salão com uma mistura de fascínio e pânico, como se as paredes estivessem se movendo e se aproximando de mim.

     As paredes aqui são chiques e bem decoradas, mas parecem ganhar vida própria, dançando e distorcendo diante dos meus olhos. É como se estivessem se fechando ao meu redor, me sufocando em sua beleza opressora. Essa mansão é enorme, e a sensação de estar perdida é avassaladora. Cada passo que dou parece levar-me a um labirinto sem saída.

Meu coração está acelerado, batendo como um tambor ensurdecedor no meu peito. A respiração torna-se curta e ofegante, como se meus pulmões estivessem em constante falta de ar. Meus músculos estão tensos e rígidos, como molas prestes a saltar. E os tics, ah, esses tics. Meu rosto contorce-se involuntariamente em espasmos, como se meu corpo estivesse lutando contra si mesmo.

Olho para o senhor Grayson, como se ele entendesse a bagunça dentro de mim. É como se ele estivesse ali para me dar algum conforto, como um porto seguro em meio à tempestade.

   Eu vim aqui para pedir para limpar meu quarto, eu me sinto mais um lixo do que uma pessoa nesse instante, mesmo que eu seja assim, quero não ter que sentir nojo de tudo. Talvez só trocar a roupa de cama já basta, não vou pedir muito. Eu não tenho esse direito. Tenho que estar preparada para um não.

P-pode...— sinto o olhar dele fixo em mim, não está ajudando...— poderia limpar meu quarto ou só trocar...os lençóis. Eu não me sinto a pessoa mais preciosa do mundo, mas não quero me sinto mais um lixo do que já acho...

Minha voz treme e meus olhos encontram os dele, mas seu olhar fixo em mim não ajuda a acalmar meus nervos. Eu sinto uma mistura de medo e esperança, esperando por sua resposta.

Ele me olha com compaixão e responde em um tom respeitoso, mas acolhedor.

— Serena, eu entendo como você se sente. Nós estamos aqui pra te apoiar, mesmo que as coisas ainda sejam complicadas entre nós. Você não é um lixo, nunca foi. Não precisa pedir com medo. Ficarei feliz em cuidar do seu quarto, e se a troca de lençóis é o que você deseja, será feito. Precisa de algo mais?

Nego com cabeça freneticamente, ele sorri e chama alguém, então dá a ordem, o que significa que eu tenho que ficar aqui até acabarem. Um leve sorriso de alívio escapa dos meus lábios, mas a insegurança ainda permeia minha expressão. Eu me sinto vulnerável, mas também grata pelo gesto de compreensão.

     Mesmo com ele ao meu lado, eu me sinto insegura. Aquela vozinha na minha cabeça sussurra que talvez eu não mereça esse cuidado e compreensão, que eu seja um fardo indesejado nesse lugar acolhedor. A dúvida e a culpa me corroem por dentro, fazendo com que eu questione cada pensamento e sentimento.

     Ele não puxa assunto e eu agradeço aos céus por isso. Eu só quero voltar para o quarto. Me sinto sufocada. A cada dia mais ainda. O tempo parece arrastar-se lentamente, cada segundo parecendo uma eternidade. Eu luto para encontrar algum equilíbrio, mas parece impossível. Meus pensamentos estão todos embaralhados, minha mente uma confusão de vozes internas e preocupações incessantes. E os tics, eles persistem, marcando cada momento da minha existência com sua presença incômoda e incontrolável.

   Enquanto batalho com esses sentimentos confusos, o senhor Grayson permanece ao meu lado em silêncio, com uma paciência infinita. Acho que se fosse minha avó ela já teria me batido há meses por isso. Eu não sei quando eu comecei a ter tics, mas eles são insuportáveis. Ele não me julga com os olhos, apenas transmite uma confiança silenciosa de que, com o tempo, as coisas podem melhorar. É um alento no meio dessa bagunça, uma sensação de não estar errada me toma. O que isso significa?

    Eu já ouvi dezenas de vezes, acho que que chega a centenas de vezes. Que está tudo bem não estar bem. Mas eu não posso não estar bem. Eu nunca pude e agora não sei não estar bem de um jeito normal. O que aconteceu com a minha vida? Desde quando eu virei esse estrago ambulante que as pessoas odeia sem motivo. É injusto, eu nunca tive culpa de nada. Isso não é justo.

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