Capítulo 21

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Estava uma tarde ensolarada, evento
incomum em uma cidade como Guadalajara - quando estacionei meu carro Mercedes preto em frente à escola de Lu. Eram 13h35, e eu estava adiantado alguns minutos. Aproveitei o tempo que
me restava para memorizar cada palavra que eu diria a ela - seria tudo mecânico, eu não poderia expressar qualquer emoção ou com toda a certeza, cairia na tentação de voltar atrás na minha decisão. Eu precisava colocar um ponto final nisto. Meu pai havia feito uma pequena ligação esta manhã - e eu garanti a ele que o episódio desta manhã não iria se repetir. Eu me sentia completamente devastado por dentro - as ameaças do meu pai, e o controle que ele estava tomando da situação me dava uma sensação de impotência total. Meus pensamentos foram dispersos quando vi o corpo de Lu andar em direção à saída da escola. Ela estava linda, como de costume - a calça jeans colada, um moletom azul escuro, e os cabelos jogados contra o ombro.
Antes que ela pudesse encontrar o carro, o
menino moreno que fora em minha casa alguns dias atrás, a encontrou no caminho. Eu dei um pequeno soco em meu guidon, sentindo o ódio invadir as minhas veias. Ele estava secando cada parte do corpo da minha menina, e aquilo me irou.
Eu apitei sonoramente a buzina do meu carro, fazendo Lu olhar diretamente para mim. Ela parecia completamente dispersa do discurso que o menino fazia, e pareceu irritada em vê-lo seguindo-a. Ele afastou-se, com decepção em seu rosto, enquanto Lu aproximava-se do carro. Ela entrou, com um sorriso tímido nos lábios.
Oi, Fernando. Ela cruzou as pernas,
ajeitando o cabelo enquanto mordia os lábios. Ela aproximou-se de mim, e eu dei um sorriso tímido enquanto ela tocou meus lábios com os seus.
Uma descarga de adrenalina passou pelo meu corpo, e eu necessitei aprofundar o beijo. Minha língua tocou a dela, e ela gemeu baixinho. Eu lutei contra a vontade de ir adiante daquilo, e quebrei o beijo. Eu estava malditamente excitado apenas
por beijá-la. Virei meu rosto, enquanto Lu voltou ao seu lugar. Ela lançou-me um olhar assustado, e ignorei completamente. Meu corpo necessitava de mais, mas lutei contra mim para controlá-lo. Eu precisava terminar aquilo, ou iria perder Lu. Respirei profundamente, e segui com o carro de encontro a um restaurante barato e
pouco freqüentado, não _vito longe dali.
- Vamos almoçar aqui, Lu. - Ela assentiu com dúvida no olhar, enquanto eu descia, tratando-a friamente. Lu seguiu-me até a entrada do restaurante, e eu pude assegurar que havia feito uma ótima escolha. Estava quase completamente vazio, se não fosse por uma mesa onde se encontrava uma senhora de idade, que provavelmente nem percebera nossa presença.
Encontramos uma mesa no restaurante barato, e Lu sentou-se à minha frente, com os olhos castanhos banhados de aflição. Eu dei um pequeno sorriso, recostando-me sob a cadeira, escondendo minhas reais emoções. Aquela dor em seu olhar estava me torturando por dentro; Eu queria abraçá-la e espantar todos os seus medos
e receios. Mas eu não poderia... Eu ia ter que machuca-la. E aquilo iria me destroçar por dentro.
- Fernando... você está diferente. - Ela disse
enquanto, pegava um papel para amassar com os dedos. Ela parecia alguém da sua idade naquele momento - insegura, tímida, preocupada e aflita.
Eu dei um sorriso espontâneo, tentando disfarçar minhas próprias emoções.
Eu estou bem, Lu. Eu joguei as palavras secamente, e quando busquei os olhos
de Lu, ela os desviou para baixo. Suas
bochechas estavam avermelhadas, e suas mãos mais afoitas que antes. Lu estava tão nervosa, que quase partira meu coração em dois. Minha menina precisava tanto de mim, e eu estava fazendo tão mal à ela. Iria causar imensa dor à pessoa que mais amava no mundo. Engoli em seco, buscando coragem fora do meu próprio ser. Foco, eu precisava lembrar o que estava em jogo.

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