Eu bati minha cabeça contra a mesa de
madeira à minha frente, em uma tentativa
completamente frustrada de amenizar o
sofrimento que rompia cada célula do meu corpo; A dor emocional havia transpassado seus limites, em uma dimensão onde sequer eu conseguia respirar ou sentir meus dedos dos pés ou das mãos sem ter uma pontada de dor latejante em cada pequeno movimento que eu fazia; A dor estava impregnada em mim como uma segunda pele, uma casca que não conseguia ser rompida. Eu esperava a liberação do delegado, enquanto tentava manter o mínimo da sanidade necessária para procurar por notícias de minha menina quando estivesse fora dali - e torcia em secreto para não cruzar o caminho do meu pai ou seria impossível não ir para a cadeia. O meu ódio iria me consumir, e eu acabaria com ele em poucos segundos. Eu deixei meus punhos acertarem a mesa da delegacia, vendo um policial de meia idade se aproximar de mim com as chaves das algemas.
- Você está livre por enquanto, Sr. Colunga. Seu pai retirou as queixas.
Eu bufei, sem tentar esboçar nenhum tipo de agradecimento. Tentei poupar as poucas forças que possuía para minha Lu. Oh Deus, eu não conseguia tirar a imagem da minha frágil e doce menina estirada contra as escadarias, deixando a escuridão tomar conta de seus olhos. Pisquei sentindo a dor me queimar internamente; Acreditei que havia alguma ligação sobrenatural entre Lu e eu – minha própria saúde parecia tão debilitada quanto a dela; Era como se fossemos conectados de alguma forma que ainda não conseguia ser explicada por todos os meios de ciência ou estudos existentes;Dois corpos com uma conexão tão forte que ultrapassava toda e qualquer fronteira espiritual, tornando-se completamente e inteiramente dependente um do outro; Eu saberia que meu próprio corpo não resistiria sem Lu.
Eu tentei buscar orientação visual para
chamar o táxi que cortava a rua onde eu estava. Eu dei as instruções do hospital mais próximo de onde era minha casa com Lu - e o mais equipado para atender a alguma emergência. Eu fechei meus olhos, apertando minha cabeça entre meus dedos enquanto o carro movia-se em direção do hospital. As possibilidades que vinham em minha mente eram trágicas e eu me via completamente desesperançoso naquele momento; Eu imaginei que a justiça não existia.
Não poderia existir nada de errado em amar e ser amado... Eu não conseguia conviver com a idéia de perder meu pequeno fruto, ou ainda pior, minha razão de viver que era Lu. O carro estacionou em frente ao hospital, e eu joguei uma nota de 50 pesos mexicano contra o motorista, não me importando com o troco. A única coisa que de fato me prendia atenção naquele instante era minha menina. Precisava saber como ela estava. Meus pés pareceram criar velocidade, enquanto caminhava com passos apressados para o hospital. Meus olhos procuraram qualquer rosto conhecido - mas eram faces completamente desconhecidas a mim; Eu encosei sob a recepção, puxando a atenção da mulher loira à minha frente. - Olá, eu gostaria de saber informações sobre uma paciente. Ela levantou os olhos para mim rapidamente, antes de voltar os olhos para as fichas de internação.
- Qual seria o nome?
Eu passei as mãos pelo meu rosto, tentando acalmar meus dedos trêmulos. Eu respirei profundamente, buscando fôlego para falar sem atropelar as sílabas.
- Hogaza, Lucero.
Ela procurou na prancheta escrita à mão os
nomes rabiscados enquanto assentia para mim. -Sr ela está nesse hospital, porém se encontra em outra ala. Vá direto neste corred...- Eu me afastei da atendente, apressando meus pés pelo corredor
do hospital. Meus olhos trabalharam em ritmo frenético buscando qualquer pessoa que pudesse me informar algo sobre Lu.
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O TUTOR
RomanceSinopse O Tutor Fernando Colunga é um médico de 31 anos bem-sucedido, que vê sua vida mudar quando recebe a tutela de Lucero Hogaza, uma adolescente de 17 anos, que perdeu os pais em um acidente. Uma paixão proibida e a descoberta do amor em duas fa...