Capítulo 69

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Eu não conseguia distinguir o sonho da
realidade naquele momento - poderia dizer que estava em alguma linha tênue entre aqueles dois mundos. Eu conseguia ouvir a voz aterrorizada de Fernando ao meu ouvido, mas era como se cada parte do meu corpo estivesse congelada; O meu
corpo não respondia a nenhum tipo de comando que eu enviava. Eu imaginei se estava morta - mas não acreditei que aquele pudesse ser o paraíso. Talvez eu tivesse ido para o inferno, afinal de contas; A minha consciência vinha e ia de segundo em segundo, vezes me mostrando imagens abstratas, vezes coisas do meu passado. Lembranças soltas, que não faziam parte de nenhuma ordem pré-estabelecida. Eu avistei um ponto claro dentro dos meus olhos, e tentei chegar até ele - mas a voz de Fernando ecoava sobre mim, o que me prendia na escuridão completa. As lembranças da minha infância me invadiam; E eu pude sentir meu coração apertar ao ver o rosto dos meus pais no meu aniversário de 11 anos; Talvez tenha sido o aniversário mais constrangedor que eu já tive - naquele ano, eu iria ganhar minha primeira menstruação. Bem no dia do meu aniversário. As memórias foram tomadas por outro apagão completo, trazendo o rosto de Pedro sobre Fernando no dia da festa na casa dos Colunga. O meu Fernando. Meu coração pareceu se acelerar apenas com a imagem embaçada do seu rosto. Oh Deus, se existia algo nesse universo que me faria sair desse pesadelo, seria ele. O seu rosto banhado em dor e sangue me fez querer vê- lo imediatamente. Eu espantei a fantasia, escutando os soluços dele em cima de meu corpo. Não chore, meu amor. Não chore, por favor. Eu tentei gritar à ele, sem nenhum sucesso. Minha boca estava completamente trancada, presa, como se não fizesse parte do meu próprio ser;
Eu senti a lembrança me invadir novamente
o corpo de Fernando desacordado no chão,
totalmente ensaguentado ao redor da face. Eu senti meu coração pular contra o peito - não existia nada mais aterrorizador do que a possibilidade de perdê-lo. Meus sentidos iam sendo tomados pelo desespero, e a única coisa que consegui fazer foi lutar para me agarrar contra seu corpo deteriorado pelos machucados;
Apesar intensa dor física que eu sentia, facas que raspavam meu estômago, nada poderia se comparar ao estado completamente destruído do
meu coração; Fernando era meu único, maior e mais precioso tesouro. Eu lembrei da primeira vez que o vi - ainda pequena. Os grandes olhos azuis faziam um jogo irresistível com todos os outros traços do
seu rosto; Ele parecia um Deus para mim, um princípe, ou um ser mítico completamente fora do meu mundo pequeno e comum. Quando eu soube
que meus pais haviam partido, o único consolo que tive foi que iria ter o dono daquele par de olhos tão mágicos que haviam me encantado na infância, ao meu redor. Eu estava completamente
perdida - sem rumo, sem direção; Jogada aos braços do acaso e do destino, quando finalmente encontrei meu porto seguro. Era como se eu pudesse ler toda a vida dele através dos espelhos dos seus olhos - eram tão sofridos, sozinhos e honestos. Eu sequer um dia duvidei que o amava.
Não foi algo que eu escolhera, foi algo para o que fui escolhida. Era como se amá-lo fosse meu único dever aqui neste mundo; Talvez eu tivesse sido criada neste intuito, como se cada célula do meu corpo existisse para tocar o dele; Eu não
conseguia mais fazer o mundo girar em outra direção, sem seu redor. Eu estava
impregnada e magnetizada eternamente à ele; Eu senti meu coração se encher de felicidade, por imaginar que poucas pessoas viviam experiência que eu tive ao lado dele; Descobrir o intuito para que estavam vivas,incondicionalmente um ser humano como eu o amei.
Eu nunca precisei de nenhuma garantia de
Fernando - era como se eu soubesse que ele também estava ali para me amar; Como se eu estivesse vivido cada segundo apenas para encontrá-lo. Eu senti minha mente se iluminar, e eu fui levada para uma lembrança completamente vívida. Eu estava em meu quarto - a camisa do Red Sox furada me lembrava o dia em que Fernando e eu nos escondemos para fazer amor. Eu estava dentro daquela lembrança, como se ela fosse real. Eu mexi meus pés e mãos, e conseguia estar completamente consciente naquele instante. Eu estava apoderada daquela Lu da fantasia. Eu ouvia o barulho da respiração de Fernando ao sair do banheiro, e seu lindo sorriso me encontrar. Eu era tão apaixonada por ele, e naquele momento, me convenci que estava morta. Provavelmente aquele era o paraíso. Se eu pudesse desfrutar novamente dele, eu o faria. Eu pisei em direção à ele, e ele me encarou com os olhos cheios de amor, paixão e desejo.
- Minha menina, você quer comer alguma coisa? - Eu acenei minha cabeça negativamente, com receio de que se usasse alguma forma de comunicação maior, poderia estragar completamente minha fantasia. Eu queria dizer tudo que sentia à ele, dizer que fui apaixonada por
ele desde o momento em que o conheci; Que esperei minha vida toda para encontrá-lo. Que estava viva apenas para amá-lo. Mas minha emoção só permitiu que eu entrelaçasse nos corpos em um abraço forte enquanto ele repousava minhas mãos contra a cintura.. Eu não tinha mais medo de partir. Talvez Fernando fosse meu anjo, que havia vindo me buscar; Talvez eu tenha morrido naquele acidente, e tenha sonhado todos os dias com ele. Não me importavam mais os porquês, os quês e os como; Eu queria aproveitá-lo. Eu queria fazê-lo inteiramente meu, talvez pela última vez. As lágrimas cobriamo espaço entre nós, e ele abriu nosso abraço, me deixando completamente desprotegida.
Eu abracei meu próprio corpo, enquanto os
olhos dele procuravam os meus.
- Minha menina, o que houve? Eu te machuquei? Você está bem? Oh, Meu Deus. Por favor, não chore! - Eu tive que lutar contra o desejo de dizer algo, para não estragar o momento. Minha boca
se abriu involuntariamente, e eu tive que deixar as palavras fluírem.

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