Refúgio

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"Ele é meu refúgio, minha fortaleza, meu porto seguro..."
Bíblia Sagrada

O Ohm já esta na praia quando eu chego, o P'Aof me chama para ir até eles e explica o que quer da cena. Tento não olhar pro Ohm, mas percebo que ele não está prestando a atenção em nada do que o P'Aof esta falando. Eu vou comandar o beijo, o Aof explica que o beijo não precisa ser exagerado, só tem que ser agradável para a câmera, seja lá o que isso signifique. Quando ele sai o Ohm olha pra mim e pergunta.

- Você está bem agora? Quer mais um beijinho pra te animar?

Ele vem pra cima de mim cheirando o meu pescoço e sei que esta brincando, agindo normalmente, automaticamente o empurro e dou um tapa nele.

- Sai fora, idiota!

Estamos mais relaxados, rindo e nos provocando quando avisam que vamos iniciar. Eu estou mais tranquilo agora, então me preparo para começar. Primeiro me deixam fazer do meu jeito, então eu passo a mão esquerda pelo pescoço dele e o puxo pra mim, conforme o roteiro temos que nos olhar antes do beijo. Eu tento focar na cena e não me lembrar que fizemos no banheiro, mas do nada lá está, estampado no rosto dele, aquele maldito sorriso que me fez perder a cabeça, sei que ele está me provocando, mas também sei jogar esse jogo. Eu me aproximo devagar e chupo o seu lábio inferior, depois o lábio superior, sei que ele vai lembrar de quando fiz a mesma coisa só que mordendo eles no banheiro e tenho certeza que ele gostou quando eu fiz isso, porque soltou uma mistura de gemido e rosnado na hora, em resposta o seu sorriso fica maior, então eu o beijo.

Não me lembrava que estamos gravando até ouvir o "Corta!". Levo um susto e me afasto rápido, ainda bem que o Ohm sendo o Ohm brinca falando sobre eu chupar os lábios dele muito forte, entro na brincadeira e falo que ele que estava colocando língua e me beijando de verdade. Percebo aqui que isso não vai dar certo.

Tivemos vários cortes da cena, tentei me focar no Phat e não no Ohm, o que parece muito confuso, porque o Ohm esta definitivamente sendo o Ohm.

Na última cena o Aof se afasta para filmar de longe enquanto nos beijamos, dessa vez alguma coisa está diferente, talvez porque não nos mandaram parar ou porque nos entregamos totalmente, talvez algum limite tenha sido ultrapassado e agora não tem como voltar atrás. Nos beijamos por minutos intermináveis, ninguém pede para parar e não queremos parar também.

- Corta! Corta!

Nos assustamos mais uma vez e olhamos para o Aof que se aproxima agitado.

- Me desculpem, eu esqueci de avisar que já paramos de gravar, acabamos por aqui, podem descansar.

~•~

Não falamos sobre o beijo depois disso e continuamos agindo normalmente, o que foi bom, não quero que as coisas fiquem complicadas entre nós. A verdade é que sempre fomos Ohm, Nanon e Chimon, o Chimon sempre foi o nosso ponto de equilíbrio, eu ainda estou me adaptando a essa nova configuração, mas é bom ter ele sempre por perto, apesar das brigas ele é o meu porto seguro aqui.

Passamos o dia gravando e eu estou muito cansado procurando um lugar calmo para tentar relaxar um pouco, talvez até dormir. Entro em uma sala e encontro o Ohm sentado sozinho dormindo, a cabeça está meio inclinada para o lado apoiada no encosto do sofá, sento ao seu lado achando engraçada a cara que está fazendo, sempre achei impressionante a facilidade que ele tem de dormir em qualquer lugar.

Ele parece tão frágil dormindo...

Arrumo o seu cabelo que esta caindo no rosto e penso em como é bom ele estar aqui, com certeza eu não conseguiria fazer isso com mais ninguém. Ele tem algo que me acalma, é um refúgio pra mim, sempre que preciso meus olhos procuram os dele e como se estivéssemos conectados ele sempre me olha também.

Estou pensando nisso e passando a mão pelo seu cabelo, tão distraído que não percebo quando ele abre os olhos, mas de repente ele está me encarando e aqui esta aquele olhar que eu só vi uma vez, aquela tempestade se formando. Depois de alguns dias, sempre que olhava nos seus olhos eu pensava que tinha imaginado aquele olhar, mas não, aqui esta ele. O Ohm continua me encarando na mesma posição sem dizer nada enquanto estou com a mão parada sobre o seu cabelo, eu só consigo olhar nos olhos, olhos que me atraem como imãs. Sem perceber eu vou me aproximando lentamente, se o Ohm percebeu não se mexeu, quando chego perto demais espero pra ter alguma confirmação, qualquer coisa, mas ele só continua me olhando, então eu o beijo pela segunda vez.

A primeira coisa que eu sinto é um arrepio subindo pela minha coluna, de novo ele me deixa no comando, eu o beijo não tão suave, nem tão violento, é como se tivesse encontrado o nosso próprio ritmo. Dessa vez ele passa a mão por trás de mim e me puxa pra perto enquanto segura o meu rosto com a outra mão. Sei que estou me perdendo, que vou querer isso cada vez mais, algo que nunca quis, mas que também nunca tive antes.

Quando finalmente nos afastamos ele fecha os olhos e encosta no sofá, fica assim até a respiração acalmar, fico observando cada nuance fascinado. Começo a me preocupar quanto disso sou eu e quanto é o Pran.

O Ohm finalmente abre os olhos e já não são mais tempestade, é o seu olhar normal, apenas carinho e preocupação.

- Você está bem, Non?

Eu sorrio, é típico dele ter as reações mais imprevisíveis, claro que ele esta preocupado comigo.

- Estou bem.

- Mas...

Eu o conheço e sei exatamente o que vai dizer, então o interrompo.

- Estou bem, sério! Te beijei porque queria beijar, não sei qual parte de mim queria, se era eu mesmo ou o Pran, mas eu quis fazer isso. Tudo bem pra você?

Ele senta e me encara por um longo momento, parece concentrado, contemplativo, como se estivesse decidindo sobre alguma coisa. Quando coloca a mão no meu rosto inconscientemente fecho os olhos e inclino a cabeça na sua direção, olho novamente e ele ainda me observa.

- Vamos fazer assim, Non, você pode ser o Pran comigo, acho que isso vai facilitar as coisas, você está se esforçando demais, é melhor se entregar.

Isso me pega de surpresa, ele conhece o meu histórico, como eu me afundo nos personagens.

- Isso pode complicar tudo Ohm...

- Que fique complicado então!

- Tem certeza?

Ele só meneia com a cabeça e se aproxima me beijando, me puxa para ele e encosta no sofá como estava antes de eu chegar, só que dessa vez encosta a minha cabeça entre o seu ombro e pescoço. Eu resolvo não pensar em nada disso agora, vou analisar o que ele disse mais tarde, quando ele não estiver perto, quando todos os meus sentidos não estiverem tão atentos a ele.

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