Apenas Jovens

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"O jovem não precisa de razões para viver; precisa só de pretextos."
José Ortega y Gasset

- Eu sou um idiota, não sou?
Eu ouço ele entrando no quarto, mas não me mexo.
- Foi só uma brincadeira Non.
Eu fico em silêncio, sinto uma tensão na altura das temporas. Tento apertar a área, mas não resolve. Sinto a cama se afundando, então ele toca com três dedos de cada lado e começa a massagear, isso é bom, ajuda a aliviar a pressão. Depois de um tempo ele abaixa e beija a minha testa.
- Por favor, me perdoa?
Eu continuo de olhos fechados e em silêncio, tenho impressão de que se falar sobre isso agora a dor de cabeça só vai piorar. Ele de deita um pouco ao meu lado, depois suspira e se levanta.
Ouço ele abrindo a porta do guarda roupa e indo ao banheiro. Alguns minutos depois uma música começa a tocar, eu tento lembrar que música é e quase dou risada, nunca imaginei que ele fosse alguém que ouve Justin Timberlake. Sinto a cama se afundando novamente, estou deitado no meio dela, sinto a pressão dos dois lados.
- Nanonnnn.
Eu tento ignorar, mas ele continua no mesmo lugar, sei que ele vai ficar esperando então abro os olhos, eu respiro fundo e vou subindo o olhar, ele está em pé sobre mim com uma das fantasias que comprei, a de bombeiro, que é basicamente uma calça vermelha de courino com um suspensório amarelo e um capacete. Subo olhando pelas as suas pernas, o peito nu e por fim o seu rosto. Ele começa a dançar e eu tento ficar sério, não vai ser tão fácil assim ele me ganhar.
Na primeira parte da música ele dança em pé, ele é desajeitado, mas sabe ser sexy. Na segunda estrofe ele se abaixa e fica de quatro com uma mão e uma perna de cada lado do meu corpo, ele segue o ritmo na música, segura a minha camiseta com os dentes e vai se esfregando em mim.
Quando começa o refrão ele coloca as pernas no meio das minhas, levanta a minha perna direita, continua apoiado no braço esquerdo e começa a se movimentar como se estivesse transando, no ritmo da música, impulsiona duas vezes e para, mais duas, mais duas... Tento me concentrar na música e não nele, mas o maldito refrão nunca acaba
Go ahead, be gone with it
Go ahead, be gone with it
Go ahead, be gone with it
Go ahead, be gone with it
Go ahead, be gone with it

Meu Deus, se ele não acabar comigo essa maldita frase acaba. Eu tento manter o foco, mas o meu corpo parou de me obedecer, está respondendo a ele. Estou muito excitado, não consigo desviar o olhar e minha respiração está completamente descompassada.
Quando a próxima parte da música começa ele se afasta, mas eu o seguro pelos suspensórios e  puxo para mim. Ele começa a me beijar, mas está tomando cuidado, eu me afasto e digo.
- Se isso for um pedido de desculpa, espero que você consiga fazer melhor que isso.
Ele solta todo o ar de uma vez e começa a me beijar novamente, devorando os meus lábios, a minha boca, a minha alma...

Estou saindo do meu prédio da faculdade e percebo que várias pessoas estão me olhando, não é incomum, mas por algum motivo hoje parece meio exagerado. Quando chego na porta entendo o motivo de tanta comoção, ele está parado na frente do prédio todo de preto com aquela maldita camisa aberta, de óculos escuros, encostado no carro conversando com o Perth. Se me dissessem que os dois estão gravando um comercial de carros eu acreditaria, qual a necessidade de parecer tão fodidamente sexy o tempo todo?
Quando ele me vê abre aquele sorriso e consigo ouvir suspiros e gritinhos. Eu olho sério para ele, aqui não é lugar para ele fazer isso, mas ele ignora a minha reação, abre a porta do carro e faz uma reverência. Eu juro que vou matar ele hoje. Ouço mais gritinhos e comentários a minha volta, respiro fundo, vou até o carro, cumprimento o Perth e fico parado do lado de fora.
- O que você pensa que está fazendo?
- Eu vim dar uma carona para um amigo.
- Parece mesmo pra você que é isso que está acontecendo aqui?
- Não, mas eu fico feliz que pareça outra coisa.
- Idiota.
- Em minha defesa eu não vim buscar só você, o Perth vai com a gente.
O Perth sorri para ele, abre a porta de trás e entra no carro. Eu reviro os olhos e entro, ele fecha a porta da a volta e entra também.
- Vai me dizer o motivo desse showzinho?
- Eu só vim buscar o meu namorado na faculdade.
- Quem é seu namorado?
Eu olho para trás.
- O que vocês estão aprontando Perth?
- Não olha pra mim com essa cara, eu pensei que ele tinha te avisado.
- Avisado o que?
- Nós vamos jogar Paintball amor.
- Wow! Sério?! - ele acena sorrindo. - Porque não me contou?
- Nós decidimos isso agora de manhã. O pessoal já está indo para lá.

Chegamos e realmente eles conseguiram reunir um bom grupo, principalmente por ser uma sexta feira, o Mark vem até nós todo animado, o Chimon vem atrás, me abraça e vai ficar ao lado do Perth, eu vou até os outros e comprimento e entramos nos trocar.
Eu termino de me arrumar, vejo o Ohm se batendo com a fivela do colete e ajudo ele. Ele fica me olhando enquanto aperto a fivela, quando vejo as suas pupilas estão completamente dilatadas.
- O que foi?
- Eu só estava pensando que faz tempo que você não me amarra.
- Ohm!
Eu olho para os lados e não tem ninguém.
- Você não pode sair por aí falando esse tipo de coisa.
Ele sorri e se aproxima, beija o meu pescoço e vai subindo, então alguém tosse. Ele fica me segurando e se vira pra olhar, é o irmão dele.
- Pediram para eu avisar que vocês estão demorando demais.
Eu empurro o Ohm e vou até ele.
- Vamos lá cara.

O dia foi muito divertido, aproveitamos muito, revi vários amigos que não via a muito tempo, o Ohm chamou alguns, que foram chamando outros e que chamaram outros, no final estávamos em 27 pessoas.
O nosso time ganhou, então o time adversário teve que nos levar em um karaokê. Eu e o Ohm agimos normalmente, andamos de mãos dadas, nos beijamos e tudo mais, ninguém perguntou ou falou nada, acho que o nosso namoro não é bem um segredo afinal.
É tão bom e raro podermos ficar assim, sermos só um grupo de jovens aproveitando o dia sem pensar em agendas, fãs, câmeras, agentes, empresários e julgamentos, apenas diversão. Olho em volta e sorrio, o nosso grupo de amigos próximos é bem maior do que eu imaginei.
O Ohm chega por trás, me abraça.
- O que foi?
- Obrigado por isso... por esse dia.


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