Silêncio

Doente

"Eu o abracei e não disse nada, o tempo todo dizendo a ele silenciosamente que ele era amado. Oh, mas ele era amado."
Como eu era antes de você

Mais um dia cheio, sai da faculdade vai pra live, depois pra pra estúdio, tirar fotos, vender produtos, sempre com um sorriso no rosto, mesmo não aguentando mais.
O Ohm já está há três dias com aquela tosse que não para e só me deixa mais nervoso, principalmente porque quase não vi ele nos últimos dias.
Gravamos as principais músicas, a empresa vai reservar o Studio novamente para gravar o que falta, enquanto isso consigo ter pelo menos algumas noites livres quando não tem live ao vivo.
Fico sentado na cozinha comendo um salgadinho enquanto espero o jantar ficar pronto, graças a Deus o Ohm foi no mercado, precisava de comida de verdade.
Ouço a porta abrindo e estranho, ele deveria estar no ensaio, olho para trás e ele entra na cozinha e me abraça.
- Adoro o cheiro da sua comida.
- Está com fome?
- Estou, não estou conseguindo comer nada direito desde ontem.
- Não acha melhor consultar um médico?
- Não, eu só me esforcei demais, agora que paramos de gravar já melhora.
- Não vai para o ensaio hoje?
- Eu pedi pra cancelar, queria aproveitar que você está em casa pra ficar com você. Sinto falta disso, só nos dois aqui no nosso cantinho.
- Falando em cantinho como vão ficar as visitas para aquelas casas?
Ele se senta ao meu lado e fala.
- Eu achei que isso fosse coisa do Pran.
- mas já está tudo pronto, se você quiser podemos fazer.
- Eu acho que temos que esperar, pelo menos até essa loucura do show acabar, não vamos conseguir fazer nada agora na casa e não vamos ter tempo para nos mudar, vamos fazer com calma.
- Tem certeza?
- Só se você concordar. Você quer mudar?
- Não, é que eu achei que você queria as suas coisas.
- Eu não preciso de nada, só de você.
- Tudo bem, vamos deixar para depois então, talvez no final do ano.
- Por mim tudo bem, se decidir fazer antes podemos fazer também.
- Ok, mas voltando aquela conversa sobre nós dois e o nosso cantinho...
Eu viro a sua cadeira na minha direção, deixando as duas pernas entre as minhas e o beijo, ele fala com a boca ainda na minha.
- Nonn, o jantar...
Eu me afasto e me levanto, ainda não está pronto, mas não dá pra fazer nada agora. Suspiro e olho para ele que sorri para mim.

Durante o jantar percebo que ele não está conseguindo comer, mesmo eu tendo feito uma comida facil de engolir.
Enquanto comemos conversamos sobre como ele está se preparando para as gravações.
- Estou preocupado.
- Com o que?
- Você sempre foi sensível, sei que você não é como eu, mas esse personagem é... Sei lá, emocional demais, chora de mais, está sempre no limite, entende?
- Não precisa se preocupar, eu vou ficar bem.
- E a outra série, já deram uma previsão?
- Por enquanto não.
Eu olho para ele tão abatido e sinto o meu coração apertando.
- Queria tirar uma folga, só alguns dias para nós.
- Eu tamb....
Ele começa a tossir e não consegue parar, coloca o guardanapo na boca e sei que está com ânsia, levanto e pego uma garrafa de água e ele bebe. Eu olho para a roupa que ele está vestindo, me levanto e vou para o quarto me trocar, quando volto ele parou de tossir, mas está massageando a garganta.
- Levanta, nós vamos para um hospital.
- Não precisa Non, já conversamos sobre isso.
- Não, você falou que não queria ir e eu aceitei, agora eu estou dizendo que nós vamos e você também vai aceitar.
- Non...
- Não me obrigue a começar uma briga com você assim, só vai fazer eu me sentir a pior pessoa do mundo.
- Tudo bem, mas você está exagerando.
Eu pego as chaves, saio e ele vem atrás.

Quando chegamos no hospital eles nos levam para a área reservada para doenças respiratórias, eu converso com a enfermeira e peço um quarto, ela da entrada e nos direciona.
Enquanto esperamos ele me abraça.
- Não precisa ficar assim, você está muito nervoso, percebeu que eu não tossi mais? Já falei que é só desconforto.
Ele começa a beijar o meu pescoço, então segura onde beijou e aproxima o meu rosto do seu, ele fecha os olhos e espera, então eu acabo com o espaço que ainda tem entre nós e o beijo, o beijo começa calma, até ele colocar as mãos por baixo da minha camiseta, eu seguro na sua nuca e o trago mais para perto, ele me beija como se não fizesse a muito tempo e precisasse disso mais do que tudo, eu entendo essa necessidade, é a mesma necessidade que eu tenho sempre. Eu mordo o seu lábio e ele geme, então aproveito a sua boca aberta e enfio a língua, ele chupa ela e eu sinto o meu pau endurecendo. Ele comeca a beijar o meu pescoço e vai descendo as mãos pela minha barriga.
- Nonnnn....
- Eu sei amor..
Entrelaço os dedos nos seus cabelos e volto a beija-lo, então escuto a porta se abrindo e me afasto assustado.
Olho para ele que está com aquela cara de quem não sabe onde está. Olho para trás e o médico está parado na porta. Ele pigarreia e entra.
- Senhor Chittsawangdee?
- Sim, quer dizer, é ele.
O médico olha para o Ohm, depois para mim e para ele novamente.
Ele começa a conversar com o Ohm, que dá respostas evasivas, então eu tenho que toda hora estar corrigindo o que está dizendo. Ele faz alguns exames rápidos, então pede para esperar para fazer um teste de covid que é obritorio em todos os casos de doenças respiratórias, mas eu estou tranquilo, porque já peguei covid e sei que não é assim, eu fiquei muito mal, o caso só Ohm é só cansaço e alguns desconforto mesmo, mas ele tem que se medicar, não dá pra ficar sem comer e tossindo assim.
Esperamos o resultado, o exame pareceu muito desconfortável, enfiaram uma espécie de cotonete pelo nariz, deu arrepios de ver. Passado mais ou menos uns 10 min o médico retorna, o Ohm está ao meu lado perto da janela, vai até a cama se senta, eu fico onde estou para não atrapalhar.
- Os resultados saíram e você testou positivo para coronavirus....
Ele continua falando, mas eu não consigo ouvir mais nada por mais que eu tente. Não pode ser, eu com certeza ouvi errado, não pode ser, ele está bem, só está cansado e tossindo, eu teria percebido se fosse algo pior.
Eu vejo o médico assinando alguns papéis e se virando para sair, ele olha pra mim e se vira, fala mais alguma coisa, o Ohm responde e ele sai.
O Ohm se aproxima e me abraça, fica assim por um tempo, então se afasta e limpa as minhas lágrimas, nem percebi que estava chorando.
- Hei, ele falou que não é sério, eu até vou para casa, não precisa ficar assim.
Ele limpa o meu rosto mais uma vez, passa a mão pelo meu cabelo e se aproxima para me beijar, mas não faz.
- Você está bem? Consegue ir embora?
- Você está com...
- Sim, com covid, mas o médico falou que não é nada sério, algo sobre ser nível verde, então só preciso ficar em casa por uns dias. Amor, não!
Ele abraça de novo.
- Você tem que parar de chorar eu não posso ficar perto de você, então tenho que parar de te abraçar.
Isso faz eu acordar pra realidade, me afasto e olho para ele.
- O que? Não! Você não vai fazer isso, eu estava com a língua até a sua garganta há meia hora atrás, não me venha com essa agora. Eu sei o que você está pensando e eu não vou me afastar de você.
- É só por alguns dias, você pode ficar na sua mãe.
- Isso não vai acontecer, nós estamos fazendo o que? Brincando de casinha e quando as coisas se complicam eu corro para a casa da minha mãe?  Eu vou ficar com você, se decida, ou é sério demais que eu não posso ficar perto ou não é nada demais, em qualquer opção eu vou ficar com você.
- Non..
- Isso não está aberto a discussão.
Eu o abraço forte. Ele não vai fazer isso, não vai me afastar, ele é meu, é a pessoa que eu amo e quero cuidar e proteger, que quero viver o resto da vida e nós vamos ficar juntos, vamos enfrentar tudo juntos.
Eu pego os papéis da mão dele e leio, então me viro e saio, com ele atrás de mim.

********Notas: Ohm testou positivo para covid, foi anunciado em 24/06/22