Silêncio

Frágil

"Era uma pessoa igual a cem mil outras pessoas, mas eu fiz dele um amigo, agora ele é único no mundo."
O Pequeno Príncipe

Escuto som de água assim que acordo, demoro um pouco para lembrar onde estou. Ainda com os olhos fechados eu estendo a mão, mas o lugar ao meu lado está vazio, ele deve ter dado um jeito de se exercitar. Viro para o lado e tento dormir novamente, mas junto com o som da água eu ouço o som do violão, está baixo, quase não dá pra ouvir. Levanto e olho pela janela, o céu está nublado, mas sem chuva. Calço os chinelos e vou até a porta, procuro por ele, que esta em uma rede na lateral da cabana, de frente para o rio, está  tocando Just friends?. Fico parado escutando e sorrio, ele canta muito mal, mas ainda assim é adoravel. Vou me aproximando, ainda ouvindo, não sabia que ele tinha decorado toda a letra e os acordes, estou impressionado.
Ele para de tocar derrepente e me olha.
- Não para.
Ele sorri envergonhado, estende a mão para mim e me sento ao seu lado, ele fica dedilhando enquanto olha para a água.
- Eu acordei hoje e fiquei te olhando dormir e essa música não saiu da minha cabeça. As vezes é difícil acreditar que estamos juntos. Você é tão perfeito... e eu sou eu, sabe?!
- De onde saiu isso?
- Sei lá. Queria só ser melhor para você.
Ele vira para mim e sorri, o seu olhar frágil faz ele parecer muito mais novo do que os seus 21 anos, vejo seus olhos se enchendo de lágrimas, então ele olha para a água novamente.
- Você merecia um parceiro que pudesse te acompanhar, eu me esforcei bastante para a série e sei que ficou muito bom, mas você precisava de mais do que eu posso oferecer.
- Ei, ei! - eu pego o seu rosto com as duas mãos e faço ele olhar para mim. - Eu não preciso de nada além de você!  Do que mais eu precisaria? Você tem a mínima noção de quanto você é bom atuando? Você toca vários instrumentos, está aprendendo inglês e aperfeiçoando o seu chinês, é muito inteligente... Eu poderia ficar horas listando tudo em que você é bom, eu só preciso que você saiba que para mim você é muito! Você é tudo!
- Eu sei, é só uma coisa que eu estava pensando. Nós vamos ter vários trabalhos para fazer e você sabe que eu não sou exatamente um falador, também são sei cantar, nem dançar ou apresentar. Vai ser difícil para você.
- Não, não vai. Voce confia em mim? - ele olha nos meus olhos e acena. - Então confie quando eu digo que você pode fazer qualquer coisa, você sabe que eu só entrei nessa por sua causa, porque eu acredito em você e também sabe que se eu tivesse algum problema ou achasse que teria algum problema no futuro eu diria na sua cara. Nós vamos trabalhar nisso se precisar, no que você achar necessário, mas eu quero que você saiba que você é perfeito para mim.
Ele sorri novamente, coloca o violão no chão e deita no meu colo.
- Vamos fazer isso então, vamos melhorar pelo menos a parte de falar mais, não quero que você tenha que fazer tudo sozinho.
- Você pode treinar o canto também.
- Nem pensar, você canta e eu falo, ficamos assim.

Fico passando a mão pelos seus cabelos, pensando sobre isso, ele realmente é desafinado, mas com treino ele seria capaz sim, mas não vou forçar. Ele sempre parece tão forte, é difícil ver ele assim inseguro. Eu sei que toda essa insegurança foi por causa do que fizeram com ele naquela confusão com o seu ex-parceiro de trabalho, ele nunca falou sobre isso, mas pelo que eu soube na época imagino que ele deve ter sofrido bastante, principalmente porque o problema todo nem era com ele e acabou se virando contra ele. Mais uma vez eu me lembro que ele tem que ser protegido, principalmente dos outros, mas as vezes dele mesmo. Eu vou ajudar ele a se ver como eu o vejo, essa será a meta da minha vida.
Eu abaixo e beijo a sua testa, então eu brinco com ele:
- Então senhor Ohm Pawat, me fale sobre você.
Ele da risada, limpa a garganta e diz:
- Olá eu sou Pawat Chittsawangdee, conhecido também como Ohm Pawat, eu tenho 21 anos, 1,83M, sou ator da GMMTV. Nasci em Bangkok. Atualmente eu estudo cinema e midia digital na Faculdade de Inovação em Comunicação Social da Srinakharinwirot University. Comecei a trabalhar nessa indústria em 2016, tenho feito alguns filmes e séries desde então. Atualmente estou trabalhando como um dos protagonistas em Bad Buddy Série onde eu finalmente conquistei o amor da minha vida. É isso. Obrigado.
Ele levanta a cabeça e me beija, estou ali apenas o olhando, ele sabe o que faz comigo quando diz essas coisas derrepente eu tenho certeza. Ele da risada e pergunta:
- O que, não ficou bom?
- Ficou ótimo, mas não sei se é bom incluir essa última parte na frente dos outros. Eu disse que você pode fazer qualquer coisa.
Beijo a sua testa novamente. Ele sorri e se levanta.
- Vamos aproveitar o tempo bom e conhecer o mercado? Depois quero te levar em um lugar.
Quando estamos saindo da cabana começo a reparar em coisas que não tinha visto ontem. Existe um lago na parte central,  fica próximo as primeiras cabanas, existem mesas e redes espalhadas por todo o local e muita vegetação. É realmente um lugar lindo, perfeito para relaxar.
Como não conhecemos a região optamos por ir andando até o centro, não fica muito longe. O mercado é bem comum e é calmo, bem diferente dos mercados de Bangkok. Compramos várias coisas diferentes para comer, eu fico feliz que o Ohm esteja comendo também. Visitamos várias lojas, compramos algumas lembranças e presentes e voltamos.
Chegamos no quarto e guardamos as coisas que compramos. Ele vem até mim, passa a mão no meu rosto e diz:
- Você está suado, deve estar te incomodando, toma um banho, eu vou na recepção e já volto.
Tento tomar um banho rápido, estou me secando quando escuto o barulho de uma moto se aproximando. Vou até a janela e vejo o Ohm vindo pela lateral. Ele entra e me beija.
- Alguém chegou com você?
- Não, eu aluguei uma moto, não sei como são as estradas por aqui, não queria ir de carro.
- Vai me contar dessa vez para onde vamos?
- Vamos em uma cachoeira, quero aproveitar para visitar as cachoeiras, fontes, grutas e tudo mais enquanto estivermos aqui, então coloca uma roupa boa para trilha, vamos ter que andar um pouco quando chegarmos lá.